O fracasso da Black Friday 2023 – O que podemos aprender?
Por Ricardo Martins
Havia grande expectativa para a Black Friday de 2023, mas o efeito foi oposto.Uma das piores Black Friday de todos os tempos, foi a segunda pior da história. A primeira foi em 2010.
Alguns indicadores apontavam que seria uma boa BF, em matéria publicada pela Agência Brasil, na mesma semana do evento, a expectativa era de um faturamento de R$ 4,64 bilhões, sendo 4,3% a mais que em 2022. A desaceleração da inflação, valorização do real ante ao dólar, corte na taxa básica de juros eram fatores creditados para impulsionar as vendas. Além disso, outros fatores como o Programa Desenrola e diminuição do desemprego eram vistos como pontos favoráveis.
Quebra de expectativas
Entre a quinta-feira 23, até às 23h59 de sexta, 24, o comércio eletrônico registrou aproximadamente R$ 3,4 bilhões em vendas. Esse valor representa um recuo de 15,1% em relação ao ano passado. Em 2022, a queda representou entre 23% a 34% no segmento online em comparação com o ano anterior. Isso porque a BF de 2022 foi no mesmo dia do jogo do Brasil na Copa do Mundo, tirando o foco dos usuários.
No cenário atual, fatores como a renda da população comprometida com dívidas e descontos abaixo do esperado pelos consumidores podem ter afetado o desempenho.
Para oferecer um bom desconto, é preciso ter uma boa margem de lucro. Mas os e-commerces e lojas físicas estão com margem apertadas. Uma realidade cada vez mais forte para os varejistas. E aqui destaco algumas alternativas que podem ser aproveitadas, como vendas cruzadas, upselling, fidelização e retenção de clientes, investimento em fontes de tráfego mais acessíveis.
Outro ponto também que contribuiu no baixo desempenho de vendas é a sensação de desconfiança do público em relação às ofertas. No Brasil, a Black Friday ficou conhecida como Black Fraude. Um caso que ganhou repercussão nas redes sociais foi o ar-condicionado portátil da marca Hisense de 12000 BTUS, comercializado em setembro por R$ 1.715,00, teve aumento em outubro para R$ 2.099, em novembro subiu para R$ 3.419,00 e na Black Friday o valor chegou a R$ 4.399. E agora, está sendo comercializado a R$ 3.419. O histórico de preços pode ser acompanhado no site Buscapé.
Os consumidores brasileiros quando querem comprar algo de alto valor, acompanham os valores por meses até de fato tomarem a decisão. Utilizam o Google e ferramentas como o Buscapé para acompanhar e comparar preços. Quando o consumidor se depara com uma situação dessa, ele desacredita na Black Friday e, principalmente, no varejista que aumentou o valor.
O número de reclamações também aumentou muito nesta Black Friday. Batendo recorde em 2023. Segundo o Reclame Aqui, a data registrou recorde de reclamações. O PROCON-SP recebeu também reclamações, a Magazine Luiza liderou as reclamações junto com Netshoes e Época Cosméticas. Totalizando 76 queixas. Já o Mercado Livre com 39 reclamações. Casas Bahia, Extra e Ponto Frio tiveram 35 queixas. Carrefour com 32 reclamações. No Reclame Aqui, Mercado Livre lidera com 2.848 reclamações, seguida por Magazine Luiza com 667, Amazon com 657 e Carrefour com 632.
Grandes Players e o investimento em mídias.
Em contrapartida aos números no geral, o Mercado Livre se destacou em comparação a outros e-commerces. A empresa registrou aumento de 80% nas vendas, marcando um recorde. Parte desse sucesso foi atribuído por muitos especialistas a antecipação das ofertas e o auxílio poderoso das mídias pagas, com anúncios prolongados e superexposição das ofertas.
Pequenas empresas podem competir efetivamente com grandes players em datas promocionais, usando estratégias inteligentes e recursos como SEO. Primeiramente, é essencial otimizar o website para motores de busca, garantindo que os produtos apareçam nas primeiras páginas de resultados. Isso envolve o uso de palavras-chave relevantes, conteúdo de qualidade e uma boa experiência de usuário. Além disso, pequenas empresas podem se destacar oferecendo produtos únicos ou serviços personalizados, algo que grandes empresas muitas vezes não conseguem.
Focar em nichos de mercado e construir uma relação próxima com o cliente também são estratégias valiosas. Utilizar mídias sociais para engajar e construir uma comunidade pode gerar lealdade e recomendações boca a boca. Ofertas exclusivas, atendimento ao cliente excepcional e uma experiência de compra personalizada podem transformar visitantes em clientes fiéis.
A Black Friday 2023, com os resultados negativos e o aumento significativo das reclamações nos convida a reavaliar as estratégias e abordagem das empresas nos próximos anos, os resultados das vendas deste ano mostram que os varejistas precisam criar estratégias mais sólidas, promoções reais e estarem mais preparados para atender o público, como é visto em outros países. Entender as mudanças de comportamento do consumidor e melhorar a experiência de compra online, pensado efetivamente no cliente, é parte essencial dessa mudança e pode ser uma chave para o sucesso nas futuras Black Fridays.
Sobre Ricardo Martins, CEO e principal estrategista da TRIWI
Especialista em marketing digital, é graduado em Marketing pela Escola Superior Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, e concluiu o Master em Marketing pela ESPM, em São Paulo. Durante os 20 anos de trajetória na área, atuou em companhias que se destacam no mercado, como Polishop, XP Investimentos, TOTVS e CNA Idiomas.