Diabetes e saúde mental: os desafios invisíveis das doenças crônicas

Pessoas com diabetes chegam a tomar 180 decisões por dia para o seu tratamento. Em meio ao Dia Mundial do Diabetes, é essencial falar sobre a saúde emocional dos pacientes

Muitos sabem que o diabetes é uma doença crônica que afeta milhões de brasileiros, é caracterizada pelo excesso de açúcar na corrente sanguínea e ocorre devido a uma produção insuficiente ou pelo mau funcionamento da insulina. Mas você sabia que o paciente com diabetes chega a tomar 180 decisões por dia relacionadas à condição? Seja sobre medicação, alimentação, hora de dormir, quantidade de insulina para injetar, entre todas as outras decisões que uma pessoa precisa tomar normalmente. É com essa reflexão que o Dr. Fabiano Moulin, especialista em Neurologia Cognitiva e do Comportamento e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), convida as pessoas, com diabetes e sem, a refletir sobre um dos aspectos mais negligenciados das doenças crônicas: a saúde mental.

“É importante entender que toda decisão humana é tanto racional quanto emocional, e esse é um dos vários motivos pelos quais o diabetes pode ter um peso e uma sobrecarga emocional que vai ter impacto no cuidado e na evolução da doença”, afirma o Dr. Moulin. Estudos mostram que pessoas com diabetes têm duas vezes mais chance que a população geral de sofrer depressão. Segundo o neurologista, a saúde mental inadequada pode prejudicar os níveis de hemoglobina glicada e de glicemia dos pacientes. De acordo q com um estudo australiano de 2021, 8 em cada 10 pessoas com diabetes dizem se sentir julgadas, culpadas, envergonhadas ou tratadas de forma diferente por conta da condição.

O momento de descoberta é um dos mais importantes na jornada das pessoas com diabetes, como narra o jornalista Tom Bueno, idealizador do canal Um Diabético. “Com 22 anos de idade, quando eu fui diagnosticado com diabetes tipo 1, eu achei que eu não ia ter mais minha carreira e que meus dias estavam contados”. Tom lembra das diferentes “fases do luto” que enfrentou na época. “Primeiro, começou pelo medo. Depois com a revolta, e em seguida, a negligência. E depois a busca pelo conhecimento e entender que, na verdade, eu poderia ter uma vida saudável, mesmo tendo diabetes”.

Para o Dr. Fabiano Moulin, encarar e entender as próprias emoções é fundamental para o autoconhecimento e equilíbrio das pessoas com doenças crônicas. “A raiva, o medo, a ansiedade tem motivos para existir, sobretudo no caso de um diagnóstico de diabetes. Mas não há motivo para essas emoções permanecerem e ‘sequestrarem’ a vida dos pacientes. A validação e o reconhecimento das emoções é o primeiro passo para o gerenciamento da saúde mental e, consequentemente, da condição”, explica o neurologista. O médico destaca a importância de contar tanto com o apoio de uma equipe multiprofissional, com apoio psicológico inclusive, quanto com apoio da comunidade, familiares e amigos.

Tom Bueno, que trabalhou durante 15 anos como repórter e apresentador de TV e se destacou à frente de grandes emissoras, diz que já foi alvo de discriminação. “Eu fui demitido três meses depois do meu diagnóstico. Eu era repórter na época, e me tiraram da rua por conta do diabetes. Uma situação desagradável, mas que me deu forças para mostrar do que eu sou capaz. É claro que existem algumas limitações, mas eu preciso ter essa responsabilidade, e não deixar os outros dizerem o que eu posso ou não fazer”.

Com o passar dos anos, Tom foi se adaptando à rotina de autocuidado. “O dia a dia é de medições de glicose, de glicemia, de atividade física e de tomadas de decisões, para vários aspectos”. Atualmente, o tratamento do diabetes pode consistir tanto no uso de medicamentos e dispositivos médicos, quanto por meio de uma rotina balanceada e saudável. E o aspecto emocional tem entrado cada vez mais em pauta, segundo o Dr. Moulin. “As emoções são tão importantes hoje que, felizmente, nos estudos científicos, é tão importante considerar a hemoglobina glicada quanto o que a gente chama de ‘desfecho relacionado ao paciente’, ou seja, a sua satisfação, qualidade de vida e bem-estar.”

Além disso, o neurologista Fabiano Moulin corrobora a importância do acesso à informação de qualidade. “Informação e conhecimento são essenciais para reduzir as incertezas e a ansiedade, que impactam na autonomia e liberdade dos pacientes”.

Com o objetivo de ampliar o acesso à informação de qualidade, promovendo mais alívio e qualidade de vida para as pessoas com a condição, a Roche criou o portal Tipo Você, que disponibiliza conteúdos informativos de acordo com o tipo de diabetes e o momento da jornada de cada um.

Em linha com a campanha do Dia Mundial do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF) deste ano, que ressalta importância da saúde mental para as pessoas com a condição, a Roche promoveu um evento em seu escritório na zona sul de São Paulo, no dia 31 de outubro, onde pacientes, médicos e especialistas falaram sobre os desafios visíveis e invisíveis do diabetes. “Nossa missão é trabalhar para levar mais alívio e qualidade de vida para as pessoas com diabetes, tanto pelo desenvolvimento de tecnologias inovadoras quanto ao fomentar o acesso à educação e informação de qualidade sobre a condição”, afirma Ana Tuñón, presidente da Roche Diabetes Care Brasil. “Falar de saúde mental é falar sobre o bem-estar das pessoas com diabetes e suas redes de apoio, sendo realista sobre os seus desafios, mas otimista sobre o seu futuro”, completa a executiva.


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