Cantor latino expõe o vício em jogos. O que motiva a compulsão? Psicanalista explica que é preciso compreender quais são os gatilhos

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Por Andrea Ladislau

Cantor de sucesso, principalmente nos anos 90, Latino expôs um drama, cada vez mais comum: o vício em jogos e a instabilidade financeira. Uma compulsão intensa que, no caso do cantor, fez com que ele, acreditando no sonho do enriquecimento e da prosperidade, investisse todas as suas economias em jogos de azar.

Uma situação dramática que nos leva a refletir como isso pode afetar psicologicamente um indivíduo e o que fazer quando essa realidade bate à porta.

O primeiro ponto que deve ser analisado é a facilidade que os indivíduos possuem de criar expectativas. Criamos expectativas em relação ao outro e em relação a nossas conquistas futuras. O grande problema é que nem tudo é previsível. E é exatamente esse o nosso maior ponto nevrálgico: sofremos por não controlar tudo.

Quando algo foge ao nosso controle, entramos em estado de desequilíbrio que afeta tanto o comportamento, quanto o emocional. Isso porque a necessidade em ter o controle das situações nas mãos é um sentimento intrínseco de nossa espécie. Tudo o que é externo e nos foge ao controle, gera insegurança e medo e nos faz sentir vulneráveis.

E no caso em questão, estamos falando de uma situação de perda, muitas vezes perda de somas consideráveis. Fato é que, ninguém joga e investe para perder, e quando isso ocorre entra em cena sensações incômodas como: a impotência, o fracasso e a culpa.

Emocionalmente falando, o indivíduo que perde suas economias e se frustra com o resultado negativo, se vê angustiado ao ponto de não conseguir sentir-se em paz, o que gera transtornos emocionais relevantes, como perda de sono, perda de apetite, estresse generalizado, ansiedade, tristeza profunda, depressão, síndrome do pânico e, em casos mais extremos, pode até chegar a atentar contra a própria vida.

Emoções essas que retroalimentam o estresse, levando-o a vivenciar sensações de cabeça pesada, irritabilidade, alterações de humor, entre outros gatilhos que justificam a desestruturação mental, em função da compulsão por jogatinas.

Um outro fator bem relevante de todo esse processo é que além da tristeza, do medo e da raiva, a pessoa pode também carregar o sentimento de culpa.

Uma culpa que distorce a realidade dos fatos e acelera o complexo de inferioridade e a baixa autoestima. O que pode estimular, através de atitudes desesperadoras, a busca da falsa ilusão do alívio e do auto perdão. Visto que, essa impotência também pode estar ligada a vergonha de se expor e mostrar sua fragilidade para parentes e amigos próximos.

A compulsão precisa ser estudada para compreender qual gatilho é o desencadeador do processo. Se não tratado a tempo, essas questões podem levar a consequências mais desastrosas como o envolvimento em outros vícios como cigarro, álcool, comida e drogas ilícitas, na tentativa de descontar a frustração em excessos.

A solução não é se culpar e se esconder. Se o equilíbrio mental não acompanhar sua reorganização financeira e esse ciclo não promover o rompimento com a negação do problema, as questões vão retornar e você estará novamente em apuros, sem possibilidades de reversão. Não adianta fugir dos problemas. Devemos encarar de frente para conseguir perceber sua dimensão e desta maneira, verificar de que forma poderão ser solucionados.

Portanto, assim como o cantor Latino, muitas pessoas caem nas garras da ilusão dos ganhos fáceis e no prazer provocado pela compulsão do jogo e da competição.

Enfim, a dependência pode afetar qualquer um. É preciso entender a natureza do vício para modificar o padrão. Já que, muitos dependentes perdem a condição até mesmo de tomar atitudes próprias, agindo de forma negativa, necessitando de apoio e compreensão para sua reabilitação.

O vício em jogos pode surgir de forma inesperada na vida de uma pessoa, porém é totalmente possível vencer e se livrar do abismo financeiro instalado. O primeiro passo é ter a consciência de que se está doente, querer e buscar ajuda terapêutica para desenvolver proteções psíquicas, fortalecer a autoestima, o foco e a determinação, além de obter acolhimento de uma rede de apoio.                       

Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas,para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.


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