Grande Reserva Mata Atlântica aposta na “produção de natureza” para conservar maior remanescente contínuo do bioma
Localizada entre Santa Catarina, Paraná e São Paulo, iniciativa envolve 60 municípios e mais de 600 atores, entre empresas, organizações do terceiro setor e o poder público
A Mata Atlântica é um dos biomas mais importantes para o país e para o mundo devido à sua rica biodiversidade, mas também um dos mais ameaçados do planeta. Na última terça-feira, 13, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a Lei da Mata Atlântica (lei nº 11.428/2006) prevalece sobre o Código Florestal (Lei 12.651/2012), garantindo maior proteção ao bioma. Em meio a intensos debates sobre a proteção da natureza também no Congresso Nacional, uma iniciativa para conservar o principal remanescente contínuo da Mata Atlântica no Brasil, que envolve 60 municípios nos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, aposta no desenvolvimento socioeconômico a partir da “produção de natureza”. Este conceito busca recuperar a integridade ecológica de áreas naturais ao mesmo tempo em que gera uma nova economia pautada na “floresta em pé”, na geração de renda e na valorização cultural, beneficiando a população que ali vive, como as comunidades tradicionais.
A Grande Reserva Mata Atlântica é composta por mais de 2,7 milhões de hectares de florestas e outros tipos de vegetação e conta com 2,2 milhões de hectares de área marinha que formam o maior de contínuo do bioma no mundo e tem uma grande relevância para a conservação da biodiversidade no Brasil. A região abriga espécies que precisam de grandes áreas conservadas, como a onça pintada, além de espécies que só ocorrem na região, como o mico-leão-da-cara-preta, o papagaio-de-cara-roxa, o muriqui-do-sul, entre diversas outras ameaçadas ou endêmicas.
“A Grande Reserva é um esforço para aplicar o conceito de produção de natureza no Brasil e disseminar as oportunidades que envolvem uma economia restaurativa. O crescimento exponencial na participação voluntária de mais de 600 atores para discutir formas de somar esforços em busca de negócios compatíveis com a boa conservação é um resultado excepcional, que avança de forma muito animadora nos três estados”, avalia Clóvis Borges, diretor da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).
Metade das 60 prefeituras que compõem o território já formalizaram adesão à iniciativa e estão avançando nas tratativas com o poder público estadual e federal para que este modelo de desenvolvimento esteja sustentado a partir de práticas que priorizem a conservação da Mata Atlântica. “Vale salientar que a metodologia aplicada nesse esforço tem amplas condições de adaptação em outras regiões, não apenas na Mata Atlântica, conforme discussões realizadas recentemente junto ao Ministério do Meio Ambiente”, frisa Borges.
Um dos desafios estratégicos para fortalecer a Grande Reserva é o incentivo a negócios capazes de gerar impacto socioambiental positivo, ou seja, que promovam o desenvolvimento econômico ao mesmo tempo em que contribuam para a conservação da natureza. “A região possui grande potencial turístico, econômico e cultural. Queremos promover uma convivência harmônica entre sociedade e o meio ambiente, que fortaleça negócios e traga desenvolvimento econômico e social para os municípios”, afirma Marion Silva, gerente de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
A Fundação, em parceria com outras entidades públicas e privadas, desenvolve programas de apoio a empreendedores que atuam na Grande Reserva, com processos de capacitação, cocriação de soluções, aceleração de negócios, inovação e incentivo financeiro. O Programa Natureza Empreendedora, processo de aceleração de negócios que já está em seu 5º Ciclo, e a Chamada da Teia de soluções, um edital que busca projetos para fortalecer produtos e serviços da sociobiodiversidade na região, são exemplos desta atuação responsável no território.
Importância de conservar grandes áreas
Borges, membro da RECN, salienta que a conservação de grandes áreas remanescentes do bioma deveria ser priorizada, a fim de contribuir para mudanças efetivas no atual cenário de degradação do meio ambiente. “Em particular na Mata Atlântica, há uma percepção generalizada sobre a importância de investir em restauração de áreas já totalmente degradadas para atender as demandas de conservação e cumprir a lei. É uma postura generalista, que precisa ser melhor avaliada com base nas melhores técnicas e preceitos científicos, pois apesar das previsões legais, podemos realizar esforços muito significativos em ações de restauração de áreas completamente degradadas e, ao mesmo tempo, não atender a uma prioridade máxima, que é a proteção efetiva dos remanescentes ainda bem conservados”, alerta.
Para ele, focar apenas em ações voltadas à restauração convencional de áreas degradadas pode trazer resultado final negativo, caso a proteção da biodiversidade ainda presente nos últimos remanescentes bem conservados, como no território da Grande Reserva Mata Atlântica, seja delegada a segundo plano.
Roteiros para ecoturismo
A Grande Reserva possui 38% do seu território legalmente protegido, com mais de 110 unidades de conservação públicas e privadas, além de sete cidades históricas. Os turistas podem explorar a região com diversas experiências de imersão e conexão com as belezas naturais da região, como trilhas, rafting, passeios de barco, passeios de trem, canoagem, ciclismo, banhos de floresta, observação de aves, entre outras opções. Veja roteiros aqui.
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Sobre a Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) reúne cerca de 80 profissionais de todas as regiões do Brasil e alguns do exterior que trazem ao trabalho que desenvolvem a importância da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. São juristas, urbanistas, biólogos, engenheiros, ambientalistas, cientistas, professores universitários – de referência nacional e internacional – que se voluntariaram para serem porta-vozes da natureza, dando entrevistas, trazendo novas perspectivas, gerando conteúdo e enriquecendo informações de reportagens das mais diversas editorias. Criada em 2014, a Rede é uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pronunciamentos e artigos dos membros da Rede refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores. Acesse o Guia de Fontes em www.fundacaogrupoboticario.org.br
Sobre a Fundação Grupo Boticário
Com 32 anos de história, a Fundação Grupo Boticário é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para proteger a natureza brasileira. A instituição atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e em políticas públicas e apoia ações que aproximem diferentes atores e mecanismos em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou cerca de 1.600 iniciativas em todos os biomas no país. Protege duas áreas de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com mais de 1,2 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A Fundação é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. A instituição foi criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial.