O tempo não para… e na carreira?

Por Virgilio Marques dos Santos

Hoje quero falar sobre a nossa percepção de tempo. Se pensa como eu, posso apostar que, a cada ano, você o sente passar mais rápido. Esse ano está voando e, se tudo ocorrer bem, 2024 será mais rápido ainda. E por que será que temos essa sensação? Não sei a resposta, mas convido você para refletir um pouco sobre o tema.

Se pensarmos racionalmente, a melhor explicação é o quanto um ano representa em nossas vidas. Para a minha filha, que tem 3 anos, 1 ano representa 33% da vida dela. Já para mim, 1 ano é 2,5%, apenas. Nesta perspectiva, 1 ano dela seria o equivalente a 13 anos e, quando penso nesse período, vejo o quanto a minha vida mudou. Dessa forma, racional, cada ano acaba significando uma parte cada vez menor da nossa vida e, assim, esse marco temporal passa mais rápido.

E na carreira?

Aí, depende o caminho adotado. Se pegar o meu caso, recomecei a empresa no final de 2015. De lá para cá, foram quase 8 anos de trabalho para chegar na nossa configuração atual. Nesse período, decidimos investir todo o nosso lucro no crescimento do negócio, priorizando os clientes e os colaboradores – assim, não sobrou grana para trocar meu carro, por exemplo. O veículo que me levava para cima e para baixo, no início, é o mesmo, até hoje.

São mais de 170 mil quilômetros de parceria, viagens, pensamentos, músicas e podcasts que ouvimos juntos nesses longos anos. E, por mais que tenha a noção de que o tempo passa cada vez mais rápido, quando entro na minha nave (carro velho tem até apelido), parece que o tempo não passou. Ao dirigi-lo, é difícil me convencer que estamos 8 anos mais velhos e que os resultados, apesar de positivos, nos custaram uma boa parcela da vida.

Escritórios, já estamos no quinto, pelas demandas de crescimento do time. Comecei na sala de jantar do apartamento que alugava e morava com minha esposa e, como estúdio de gravação, usamos os fundos da casa dos meus pais. Depois, conseguimos locar nossa primeira sala, até termos nossa aprovação para o Parque Científico e Tecnológico da Unicamp. Agora, o carro? É o mesmo.

Às vezes, penso que o carro funciona, para mim, como uma cápsula do tempo, me levando a lembranças e vivências do passado. E, pensando nisso, aposto que alguns leitores têm essa cápsula do tempo na empresa em que atuam. Trabalhar há vários anos em um só local dá um pouco essa sensação, ainda mais se o trabalho for no mesmo setor ou no mesmo prédio.

Quando isso acontece, precisamos refletir: estamos no mesmo lugar, mas estamos evoluindo? Estamos estabelecendo novos contatos e relações? Estamos aprendendo coisas novas, em treinamentos ou leituras? Estamos construindo coisas das quais nos orgulhamos? Ou estamos apenas em um lugar confortável e vivendo das boas memórias do passado? Devemos tomar cuidado para não nos aprisionarmos nessa cápsula do tempo, com a esperança de que o tempo não vai passar, pois ele irá.

No exemplo que citei, do carro, só tomei consciência ao ser questionado do porquê não o troquei ainda, haja vista que o custo de manutenção está se aproximando ao custo de aquisição de um novo. Entretanto, nesse caso, tenho plena compreensão de que o carro não está atravancando a minha evolução profissional. Porém, quando esse conforto advém do trabalho, fique atento.

Tenha consciência de que o tempo não para e que, quanto mais tarde deixar para tomar as suas decisões, menores serão suas chances de retomar o planejamento que tinha anteriormente. Como dizia minha avó, não podemos perder o trem da vida, porque quando ele passa, as chances de passar outros vão ficando cada vez menores – e, os que passam, podem não levar para os mesmos caminhos.

Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

Virgilio Marques dos Santos (Foto: Isaque Martins)

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