Às vésperas de completar 50 anos, a Embrapa apresenta pesquisas disruptivas que podem gerar transformações nos sistemas alimentares globais, durante a 4ª. edição da Anufood, a maior feira de alimentos e bebidas da América Latina, que ocorre em São Paulo de 11 a 13 de abril. Dentre os destaques, a carne de frango produzida em laboratório e o carne carbono neutro e automação/robótica aplicada à pecuária leiteira, que indicam tendências para a produção de alimentos de forma mais sustentável.
Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal, sendo o maior exportador de carne de frango do mundo, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). E se ao invés de produzir intensivamente nas granjas, também começasse a produzir carne de frango em laboratório? Esta é a aposta da pesquisadora Vivian Feddern, da Embrapa Suínos e Aves, que lidera um projeto financiado pelo The Good Food Institute (GFI), para a produção de carnes análogas ao frango. Com sua equipe, ela utiliza uma tecnologia que recria tecidos animais em laboratório, a partir de células animais do banco genético de aves da Embrapa Suínos e Aves, desenvolvendo carne de frango cultivada em condições controladas.
“Esta inovação não pretende substituir a produção de frango de forma tradicional, mas complementá-la, uma vez que estamos diante de uma crise climática e de uma demanda crescente para alimentar cerca de 8 bilhões de pessoas no planeta”, afirma a pesquisadora da Embrapa, Vivian Feddern, em sua palestra “Desafios e Tendências na produção de carne de frango”, no espaço Food Trends na Anufood. Até 2024, a equipe de pesquisa deve apresentar um protótipo de filé de peito de frango e um biobanco de células cultivadas em laboratório para diferentes propósitos.
Além do estudo pioneiro no Brasil liderado pela Embrapa, cientistas do Canadá, Holanda, República Tcheca, Estados Unidos, Japão, Israel, França, África do Sul e Suíça também trabalham no desenvolvimento de carne de frango cultivada em laboratório. As pesquisas começaram há 10 anos na Holanda, mas somente em 2022 o parlamento holandês legalizou a degustação da carne cultivada sob condições controladas. Nos Estados Unidos, o órgão de fiscalização sanitária dos Estados Unidos, o FDA – Food and Drug Administration, autorizou a produção e comercialização de carne cultivada em laboratório no país em 2022. Segundo o Fórum Econômico Global, as proteínas alternativas são consideradas uma das principais tendências para o agronegócio nos próximos anos, e estima-se que até 2040, alcance cerca de 35% da produção mundial, diante dos desafios globais
Por sistemas produtivos mais sustentáveis
Atores ligados às cadeias de produção de leite e carne também começam a intensificar esforços e investimentos para o futuro, em iniciativas para baixar a emissão de carbono na atmosfera, reduzir o uso de água doce e energia nos sistemas produtivos e promover aspectos de bem-estar e saúde animal.
“O modelo extrativista na pecuária de corte e leite não é sustentável a longo prazo, pois causa desequilíbrios ambientais severos. Por esta razão, estamos trabalhando para expandir sistemas produtivos mais eficientes e com baixa emissão de carbono ou carbono neutro”, afirma o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, André Novo, em sua palestra “Produção de carne e leite sustentável: uma visão de futuro” no espaço Food Trends da Anufood.
E como a ciência tem colaborado neste desafio? Gerando dados sobre os sistemas de produção nacionais, definindo indicadores, monitorando a eficiência e implementando boas práticas. Anualmente, é lançado um inventário nacional de emissões de gases de efeito estufa na agricultura e na pecuária brasileiras. “Com profissionalização e intensificação da produção pecuária é possível reduzir a intensidade da emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera”, afirma o pesquisador André Novo.
No Brasil, os dados indicam que avançam modelos de produção integrados mais eficientes, carbono neutro e pecuária de precisão, que melhoram os atributos de qualidade da carne e do leite, reduzindo o impacto ambiental. Um dos principais resultados obtidos pela equipe da Embrapa em sistema de alta produtividade, alta eficiência e baixo impacto ambiental, foi a Carne Carbono Neutro, cujas emissões de metano são compensadas pelo sequestro de carbono de árvores implantadas no pasto. A ação integra o Plano ABC + (Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura) do Governo Federal.
Os pesquisadores da Embrapa também vêm atuando em diversos projetos de inovação aberta para adoção de protocolos de sustentabilidade na produção leiteira. A automação adaptada aos trópicos com uso de robôs na ordenha com pastejo à sombra chama a atenção. “As vacas leiteiras ficam à vontade para entrar no sistema robotizado de ordenha, e pastar sob as árvores, quantas vezes quiserem ao longo do dia”, conta o pesquisador. Os resultados iniciais obtidos indicam um aumento na qualidade do leite e na redução de doenças como a mastite, promovendo bem-estar animal.