Após perdas gestacionais, mãe cria instituto para ajudar pais que perdem recém-nascidos
Além disso, ela propôs uma lei estadual no Paraná e lançará uma roda de luto para acolher pais que estejam passando por situações semelhantes
Depois de passar por duas perdas, uma gestacional e outra neonatal, nos últimos anos, a consultora de viagens Izabela Picelli Decarlo Simão, moradora de Londrina, transformou a dor e ressignificou o luto. Reuniu um grupo de amigos e fundou o Instituto Para Sempre Luna, lançado oficialmente nesta semana. A entidade trabalhará, justamente, na luta por melhor acolhimento das equipes de saúde em relação a pais que perdem seus filhos recém-nascidos, além de atender o público que enfrenta perdas gestacionais. Além disso, ela propôs uma lei estadual e lançará uma roda de luto.
“Ao longo dos anos, percebi que não fui bem instruída ou bem acolhida em todos os momentos difíceis pelos quais eu passei. Mas, ao mesmo tempo, aprendi a lidar com a dor e fui ressignificando o luto, transformando-o em amor. Por isso, quero ajudar outras pessoas que já passaram por isso ou que poderão enfrentar situações parecidas”, afirma Iza, que foi eleita presidente da associação. Ela perdeu dois filhos: Lucas, natimorto com 27 semanas de gestação (7 meses), devido a um trombo no cordão umbilical em 2016; e a Luna, uma bebê prematura de 35 semanas, que nasceu bem, mas faleceu com 20 dias devido a uma infecção em 2022.
Além desses dois bebês, Iza é mãe de Théo, que tem 4 anos de idade, junto com o marido, Rafael Simão. “Com uma mãe enfrenta o luto? Como lidar com o luto de uma criança, que perdeu uma irmã? Nesse meio tempo, perdi também meus pais, em 2021. Nesses casos, nós viramos órfãos. Mas, não existe uma palavra para a mãe ou o pai que perde o filho. E as pessoas não sabem lidar com essa situação, sempre dizem que ‘foi melhor assim’, ‘já já você supera’ ou ‘ainda bem que foi antes de criar um vínculo’. Não são coisas que se dizem para pais que perderam seus filhos”, revela.
O Instituto Para Sempre Luna é uma associação sem fins lucrativos que tem por objetivo realizar ações de assistência social, de saúde, educação e defesa dos direitos relacionados ao luto parental, em especial, ao luto gestacional, perinatal ou neonatal. “Queremos atender pessoas que passam por perdas gestacionais, perinatais e neonatais, pessoas empáticas à causa e profissionais de saúde que lidam com o processo do luto, atuando também na contribuição da formação, realizando palestras, rodas de luto, entre outros projetos”, diz.
Projeto de Lei
Uma das ações, antes mesmo da criação do instituto, foi a proposição da Lei Para Sempre Luna, apresentada pelo deputado estadual Cobra Repórter, na Assembleia Legislativa do Paraná. O projeto prevê cuidados que vão desde o apoio psicológico até a hora de sepultar o(a) filho(a), estabelece procedimentos a serem adotados nos casos de perda gestacional espontânea, natimorto, perda neonatal, assim como em ocorrências de violências obstétricas, nos serviços públicos e privados de saúde. Ele também cria a “Semana de Conscientização e Orientação Sobre a Perda Gestacional e Violência Obstétrica”, de segunda-feira a domingo, que integra o dia 15 de outubro (Dia Internacional da Conscientização da Perda Gestacional).
O artigo 3º define cuidados oferecidos pela rede de saúde para os pais: acompanhamento psicológico e social aos genitores; fornecer à genitora acomodação especial no ambiente hospitalar e demais estabelecimentos da rede de atenção à saúde de gestantes, separada das demais gestantes e puérperas; viabilizar e garantir a participação do genitor ou outro acompanhante de livre escolha da genitora, durante a retirada do feto. “Curitiba e o Rio Grande do Sul já têm leis aprovadas e, nesse sentido, o Paraná vem atender à demanda de um contexto e uma realidade muito maior do que se imagina”, afirma.
Roda de Luto
O Instituto Para Sempre Luna lança, na quarta-feira (13), das 19h às 21h, através do Google Meet, a primeira roda de luto para pais que perderam seus filhos em situações de luto gestacional, perinatal ou neonatal. “Queremos realizar encontros mensais em um espaço de acolhimento e escuta, onde famílias compartilham as vivências da perda, do luto e do desafio de seguir adiante”, ressalta Iza. A inscrição é gratuita e pode ser feita pela internet. A equipe enviará o link de acesso pelo WhatsApp. A segunda roda de luto também já tem data marcada, será presencial, no dia 26 de abril, das 19h às 21h, em local a ser definido.
Inscrição para a primeira roda de luto, online: https://forms.gle/ZHLj56KVaHMcq5G18