Pedido de demissão de Isabela Scalabrini fortalece a necessidade de desacelerar
Por Andrea Ladislau
A conceituada jornalista e repórter da TV Globo, Isabela Scalabrini, tomou uma corajosa decisão nas últimas semanas: pediu demissão após 44 anos de casa.
Ao ser questionada sobre o motivo de se demitir, Isabela surpreende: “Foi uma decisão difícil. Mas, estou bem. Só decidi desacelerar e cuidar mais de mim e da minha família”.
Excelente profissional, a opção por pausar a carreira nos leva a refletir sobre essa necessidade, muitas vezes, negligenciada pelo ser humano, de desacelerar e compreender que as pausas também são muito importantes, principalmente, para nossa saúde mental e equilíbrio do bem estar.
A percepção de que, não só o tempo, mas também as oportunidades passam, está muito acentuada com o panorama atual.
Ainda que o indivíduo tente dividir o tempo em segundos, minutos horas, dias, e daí por diante, na verdade, o tempo faz parte de um ininterrupto processo, inserido no nível do eterno, que não pode ser conhecido por nossa limitada capacidade de compreensão.
E quais as implicações de nossa percepção em relação ao tempo e às atividades que estamos sempre nos cobrando por cumprir e realizar?
Bem, fato é que, nossa experiência do tempo está mudando. Isso está ocorrendo porque a frequência da consciência humana está aumentando, e a experiência da passagem do tempo se acelerou. O tempo continua correndo ao passo que nos vemos com menos liberdade.
Nós não precisamos corresponder às expectativas do mundo sempre. Tenha essa consciência e sua saúde mental agradecerá.
Portanto, não acelere e não negligencie seu “tempo interior”, simplesmente para dizer ao mundo que você é produtivo.
É muito importante ouvir seu próprio chamado interno.
Portanto, não faça nada por obrigação, sem vontade. Seja honesto e genuíno com sua essência e seu ritmo. Não force uma motivação. O desejo em realizar qualquer coisa, deve surgir naturalmente; para agregar.
Conciliando benefício e prazer. Quando o incômodo se instala, é possível que o equilíbrio emocional seja ferido e que ocorra o acionamento do gatilho para um processo de transtorno de ansiedade generalizada e, até de depressão.
Não alimente a neurose da produtividade que os tempos atuais têm trazido. Se todo excesso reflete uma falta, tenha cautela para não provocar uma exaustão mental, pincelada por culpas e cobranças, através de uma pressão insana.
Viva um dia de cada vez, sendo fiel ao seu ritmo e aos seus desejos.
Enfim, o que a atitude de Isabela Scalabrini nos ensina? Desacelerar também é preciso. Acalmar o coração e dar espaço para a alma e o corpo respirar. Desprender dos atrasos, das urgências e sentir a vida oxigenar novos sonhos dentro da gente. O jeito é fazer um plantio diário de propósitos dentro do que se acredita, colhendo aquilo que falta, desapegando-se do que não se necessita!
É o que chamamos de desacelerar para curar. Sair do automático e não se culpar por parar para ouvir a si mesmo. Parar para não fazer nada e não alimentar cobranças. Desacelerar o passo e a mente, encontrando seu eixo. Desacelere. Se dê o direito, se dê um tempo, se cuide.
Você não está disputando corrida com ninguém. Não precisa provar nada, nem agradar pessoa alguma. Procure fazer tudo no seu tempo, lembrando que, o meu tempo é diferente do tempo do outro. Respeite o seu ritmo natural. E procure dar para sua mente os momentos de descanso e lazer merecidos. A mente que não repousa adoece o corpo.
Andrea Ladislau / Psicanalista