Como o mundo está transformando o cenário do óleo de cozinha usado

O planeta exige práticas mais eficientes e sustentáveis do manuseio do óleo vegetal e o aquecimento global, enchentes e a poluição das águas chamam a população para tratar o tema com a seriedade necessária.

Uma das mais importantes matérias-primas das cozinhas domésticas, restaurantes e indústrias de alimentos tem lugar cativo nessa discussão.

“O descarte e o tratamento ainda estão longe de serem uma realidade deste produto que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), tem um potencial impacto negativo no meio ambiente. Cada litro contamina milhares de litros de água e causa entupimento de canos e ralos” explica Vitor Dalcin, Diretor da Ambiental Santos.

No Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) e do IBGE, cerca de 1 bilhão de litros de óleo são descartados incorretamente a cada ano. Em 2019, ano em que o estudo foi realizado, 4,7 bilhões de litros de óleo foram consumidos e, deste volume, estima-se que 25% do óleo poderiam ter sido recolhido na origem (1,17 bilhão de litros).

Levantamentos de mercado apontam que apenas 108 milhões de litros foram coletados de lares e restaurantes neste, mal chegando a 10% do que poderia ter sido transformado em matéria-prima para a indústria química.

“O Brasil tem potencial para abastecer diversas indústrias, como biodiesel e produtos de limpeza, usando o óleo que seria descartado. A União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), associação que representa nacionalmente toda a cadeia produtiva dos biocombustíveis no Brasil, declarou através de seu presidente, Donizete Tokarski, que no Brasil é obrigatório que todo o diesel vendido tenha 10% de biodiesel. Na prática, o óleo vegetal é parte da composição deste combustível e a prática de reutilizar o óleo usado deixa os preços mais baratos para frotas rodoviárias, transporte ferroviário, tratores agrícolas e maquinários industriais” explica Vitor.

Mundo atento com a questão do óleo vegetal

O Brasil pode se inspirar em exemplos de outras regiões do mundo onde a reciclagem de óleo vegetal é protagonista.

Argentina: reciclando óleo mesmo 

Como opção para tratamento do óleo, que pode ser convertido em parte do biodiesel, a Argentina já entendeu que o biocombustível gera menos emissões de CO₂ do que os combustíveis fósseis. Existem ações e acordos locais que incentivam a prática.

Começa com a arrecadação e recolhimento do óleo vegetal usado pelo município ou por empresas privadas que, por uma transportadora licenciada, se encarrega de levá-lo às usinas em operação. A maioria delas se encontra em Santa Fé e Buenos Aires, para transformar o óleo em biocombustível:

“Em um país praticamente dependente de combustível externo, essa é uma solução inteligente”.

Espanha: trabalho para despertar interesse de toda população de uma região

La Rioja é uma região da Espanha famosa pelas receitas que utilizam muito óleo vegetal. Esta enorme quantidade de óleo era descartada pelos ralos em canais naturais da região. Todos os anos, esse óleo se misturava com toneladas de lixo doméstico que seguiam até rios e o mar, reduzindo a pureza das águas e acabando com a estrutura das tubulações.

O Governo de La Rioja e o Consórcio de Aguas y Resíduos decidiram criar a coleta seletiva de óleo doméstico usado com a instalação de contêineres específicos localizados em shopping centers e mercados:

“Mudaram o costume dos moradores locais com estes recipientes estrategicamente localizados, criando campanhas de conscientização para explicar e incentivar que os moradores levassem os óleos. Por ser uma região com diversas cidades pequenas, cabe a cada Câmara Municipal decidir se oferece ou não o serviço de recolha seletiva destes resíduos, mas o sucesso dos primeiros dias motivou que todas as localidades entrassem nesta campanha“.

Estados Unidos: iniciativa que partiu dos governadores locais

A Autoridade de Resíduos Sólidos do Condado de Palm Beach na Flórida, Estados Unidos, está bem adiantada com esta questão do óleo usado e seu descarte. Em 1975 foi criada pela Legislatura do Estado da Flórida a Lei de Resíduos Sólidos do Condado de Palm Beach, obrigando quem utiliza óleo de cozinha para reciclagem de várias maneiras:

“As autoridades perceberam o alto valor do óleo usado para a indústria que, quando jogado no meio ambiente, causa contaminação imediata. Palm Beach é uma região altamente turística, portanto a solução encontrada ainda nos anos setenta é transformar este contaminante em matéria-prima para, principalmente, combustível para motores a diesel”.

Os residentes do Condado de Palm Beach podem levar seu óleo de cozinha residencial usado a qualquer um dos Centros de Reciclagem e Química Doméstica da Autoridade de Resíduos Sólidos, espalhados em toda região.


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