Por que 6 em cada 10 lojas fecham no Brasil? Desafios do varejo e a dura realidade do empreendedorismo
Entre janeiro de 2014 e agosto de 2024, o Brasil assistiu a um fenômeno curioso e ao mesmo tempo alarmante no setor varejista. De um lado, surgiram 11,6 milhões de novas lojas; do outro, 7 milhões de estabelecimentos fecharam suas portas. Esse cenário, apontado por dados do IBGE, revela um Brasil onde o empreendedorismo parece estar em constante ebulição, mas também em uma luta feroz pela sobrevivência.
A estatística de que seis em cada dez lojas não conseguem se manter abertas no país é um reflexo das dificuldades enfrentadas pelos pequenos e médios empresários brasileiros. Entre os principais obstáculos, o falta de planejamento estratégico e o acesso restrito ao crédito são fatores determinantes. Em um mercado competitivo, onde custos fixos como aluguel, energia elétrica e folha de pagamento consomem boa parte da receita, a falta de uma gestão eficiente pode ser fatal para muitos negócios.
A difícil realidade do crédito
Um dos maiores entraves para os empreendedores é o acesso ao crédito, que no Brasil ainda é um dos mais caros do mundo. De acordo com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em 2023, a taxa de juros média no Brasil foi de 23,7% ao ano, um número que continua sendo um impeditivo para quem tenta financiar o crescimento de suas lojas. Muitas vezes, os pequenos comerciantes acabam se endividando para manter as operações, o que agrava ainda mais a situação.
O crédito, quando acessado, geralmente vem com condições rigorosas, que excluem uma grande parte dos empresários, especialmente os novatos ou aqueles com pouco capital inicial. Isso faz com que o empreendedorismo no Brasil se torne um jogo de resistência, onde o simples fato de manter as portas abertas já é uma grande vitória.
Falta de planejamento e gestão
Outro ponto crucial é o planejamento estratégico. Muitos empresários iniciam suas operações sem uma visão clara de longo prazo, muitas vezes movidos pela ideia de uma oportunidade imediata, mas sem as ferramentas para transformar uma boa ideia em um negócio sustentável. O mercado brasileiro tem exigido cada vez mais inovação e adaptação às novas tecnologias, mas muitos pequenos comerciantes falham ao tentar entender as mudanças rápidas no comportamento do consumidor, o que torna o negócio vulnerável à concorrência e às oscilações econômicas.
Além disso, a gestão financeira é um ponto crítico. De acordo com um levantamento do Sebrae, cerca de 60% das empresas fecham antes de completar 5 anos, e a principal razão apontada é a falta de controle sobre as finanças. Muitos empresários, principalmente os de pequenos negócios, não têm uma formação adequada para gerenciar o fluxo de caixa ou para realizar um planejamento que antecipe cenários adversos.
A falta de uma rede de apoio eficiente
Embora haja programas de incentivo e linhas de crédito direcionadas para pequenos empreendedores, a burocracia e a complexidade desses processos acabam afastando muitos dos benefícios disponíveis. Ao mesmo tempo, a falta de mentoria e redes de apoio também contribui para o fracasso de muitos negócios. O empresário muitas vezes está sozinho, com pouca orientação sobre como melhorar a gestão de sua empresa ou como se adaptar a novas demandas de mercado.
Uma esperança no horizonte?
Apesar de um cenário tão desafiador, alguns setores continuam a se expandir, mesmo que de maneira mais modesta. O e-commerce, por exemplo, tem se mostrado uma alternativa viável para muitos pequenos empreendedores, oferecendo novas oportunidades de alcance e vendas, sem a necessidade de um ponto físico. No entanto, as estratégias de digitalização ainda são subutilizadas por muitos, que acabam se restringindo a modelos tradicionais de negócios, desconsiderando as potencialidades do mundo online.
Conclusão
O Brasil, um país com um imenso potencial de consumo, vive um paradoxo: o número de novas lojas abertas é expressivo, mas a taxa de fechamento é igualmente alarmante. Se, por um lado, o empreendedorismo está no DNA do brasileiro, por outro, os desafios são gigantescos. Planejamento estratégico e acesso ao crédito são as chaves para uma maior longevidade dos negócios. A criação de políticas públicas que melhorem as condições de financiamento e a capacitação dos empreendedores, especialmente os novatos, será essencial para mudar esse quadro e transformar a realidade do varejo brasileiro, onde a sobrevivência de cada 10 lojas ainda parece um grande desafio.
