COP29: Climatologista Carlos Nobre exige trilhões em fundos climáticos e emissões zero até 2040
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), realizada em Baku, no Azerbaijão, se encerra nesta sexta-feira, 22, em meio a intensas negociações para ampliar o financiamento climático global. A proposta central que se discute nos bastidores é a de elevar os recursos destinados à mitigação e adaptação às mudanças climáticas para trilhões de dólares, sinalizando um salto significativo em relação aos atuais aportes de bilhões, considerados insuficientes para enfrentar a crise climática.
Carlos Nobre, climatologista de renome internacional e uma das principais vozes brasileiras na defesa do meio ambiente, afirmou que medidas mais ousadas são inadiáveis. “Precisamos de um esforço global para atingir emissões líquidas zero até 2040, antecipando a meta do Acordo de Paris, que prevê 2050. Sem isso, os impactos irreversíveis no clima e nos ecossistemas serão catastróficos”, alertou Nobre em uma entrevista durante o evento.
Amazônia sob os holofotes
Em suas declarações, Nobre destacou a relevância da Amazônia no combate às mudanças climáticas, um tema que já ganha protagonismo nas discussões para a COP30, que será sediada em Belém, no Pará, em 2025. Segundo ele, a preservação da floresta é essencial para manter o equilíbrio climático global. “Se a Amazônia ultrapassar o ponto de não retorno, transformando-se em uma savana, perderemos uma das nossas maiores aliadas no sequestro de carbono. Isso seria devastador para o Brasil e o planeta”, alertou.
Ele também frisou a urgência de ampliar os compromissos financeiros para proteger biomas sensíveis e garantir o desenvolvimento sustentável das comunidades amazônicas. “Não se trata apenas de salvar árvores, mas de assegurar o futuro de milhões de pessoas que dependem diretamente da floresta, enquanto contribuem para a estabilidade climática mundial”, afirmou.
Financiamento climático: bilhões não bastam
A possível mudança na escala de financiamento climático – de bilhões para trilhões de dólares – é vista como um marco transformador, mas também enfrenta resistência de países desenvolvidos, que tradicionalmente são os maiores emissores de gases de efeito estufa. Apesar disso, há sinais de que um consenso pode ser alcançado, especialmente após pressões de coalizões de países em desenvolvimento e organizações da sociedade civil.
Especialistas apontam que os fundos climáticos, atualmente na casa dos US$ 100 bilhões anuais, são insuficientes para lidar com os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Estudos recentes indicam que a transição energética global, a adaptação de infraestruturas e a proteção de áreas vulneráveis exigem investimentos na ordem de US$ 4 a 6 trilhões por ano até 2030.
Brasil em evidência na COP30
A escolha de Belém como sede da COP30 coloca o Brasil no centro das discussões climáticas globais e amplia a responsabilidade do país em liderar ações concretas para a preservação ambiental. Para Nobre, o evento será uma oportunidade única de pressionar por mais ambição nas metas globais. “O Brasil precisa mostrar liderança e reforçar seu papel como potência ambiental. Isso passa por zerar o desmatamento ilegal e impulsionar uma economia verde, baseada no uso sustentável da biodiversidade amazônica”, concluiu.
Com o término da COP29, o mundo aguarda um posicionamento mais robusto das nações ricas e uma articulação que assegure a escala necessária de investimentos para enfrentar o desafio do século. O relógio climático não para, e a pressão por ações concretas só aumenta.