Língua Guineense: símbolo de identidade nacional é tema de livro fruto de pesquisa na UFSCar
Uma nova obra acadêmica lança luz sobre a importância da Língua Guineense, também conhecida como “crioulo”, no contexto sociocultural da Guiné-Bissau. Apesar de o português ser o idioma oficial do país, o Guineense se destaca como a língua mais falada pela população, desempenhando um papel central na vida cotidiana e nas relações familiares e institucionais. O livro “Guineense: a língua de identidade nacional da Guiné-Bissau” apresenta uma análise profunda desse fenômeno linguístico e social.
Fruto da pesquisa de mestrado de Mamadú Saliu Djaló, guineense e ex-aluno da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a obra debate o multilíngue ambiente da Guiné-Bissau, abordando as interações entre o português, as línguas locais e o Guineense. O estudo foi orientado pelo professor Cássio Florêncio Rubio, coautor do livro, que destaca a importância de entender as dinâmicas do uso da língua no país. Segundo Rubio, o debate em torno da coexistência entre as línguas europeias introduzidas nas ex-colônias e as línguas locais tem ganhado cada vez mais atenção entre os linguistas.
O livro, disponível gratuitamente para download, é resultado de uma pesquisa realizada entre 2021 e 2023, que se concentra no papel do Guineense como instrumento de identidade e resistência cultural. “Não é apenas um ‘crioulo’ derivado do português, mas uma língua completa e funcional que expressa a identidade nacional da Guiné-Bissau”, reforça Djaló. O trabalho explora a presença da língua em diversos setores, desde o ambiente familiar até o sistema educacional e as instituições públicas, demonstrando como o Guineense se consolidou como uma peça chave na construção da identidade guineense pós-colonial.
Esse estudo é particularmente relevante em um momento em que muitas nações africanas enfrentam questões sobre a preservação de suas línguas nativas e o impacto da colonialidade nas estruturas sociais e linguísticas. A obra de Djaló e Rubio levanta uma discussão crucial: a de que a língua é mais do que um meio de comunicação, sendo também um símbolo de resistência e emancipação frente às forças coloniais que impuseram línguas estrangeiras como o português.
A Guiné-Bissau, assim como outros países da África subsaariana, continua lidando com o legado colonial no que diz respeito à sua política linguística. A valorização do Guineense e a ampliação de seu uso nos setores formais da sociedade, como o ensino, podem ser vistos como um passo importante para a descolonização cultural e linguística do país. Assim, a obra oferece uma contribuição valiosa para quem se interessa por linguística, estudos pós-coloniais e pela realidade sociocultural africana.
O livro “Guineense: a língua de identidade nacional da Guiné-Bissau” está disponível para download gratuito no site da Pedro e João Editores, oferecendo uma oportunidade para que pesquisadores, educadores e interessados em geral possam se aprofundar nesse importante tema.