O fenômeno da alimentação fora do lar mais acessível: uma análise da pesquisa da FHORESP
A recente pesquisa publicada pela FHORESP (Federação de hotéis, restaurantes e bares do estado de São Paulo) em abril de 2024 revelou um fenômeno intrigante: comer fora de casa está mais barato do que preparar refeições em casa. Essa constatação, que a princípio parece contraintuitiva, exige uma análise profunda para desvendar as causas e as implicações dessa tendência.
Os dados da FHORESP demonstram que, entre 2020 e 2023, a inflação acumulada no segmento de Alimentação Fora do Lar ficou em 24,7%, enquanto para quem se alimenta em casa, o percentual alcançou 39,1%. Essa disparidade significativa, segundo a especialista em negócios gastronômicos Bianca Fraga, é consequência de decisões estratégicas tomadas pelos proprietários de bares e restaurantes.
Segundo Fraga, esses estabelecimentos têm absorvido parte das perdas, optando por segurar os preços e oferecer opções atrativas para seus clientes. Essa estratégia, embora aparentemente arriscada, visa a fidelização da clientela já existente e a atração de novos consumidores em um momento de alta inflação e retração do consumo. A lógica por trás dessa decisão é a de que manter preços competitivos pode garantir um fluxo constante de clientes, compensando, em parte, a margem de lucro menor.
No entanto, a análise dos dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE, referentes a março de 2024, sugere um cenário mais complexo. Os preços nos bares e restaurantes do Brasil, no acumulado em 12 meses, tiveram um crescimento superior à inflação geral. Esse dado, aparentemente contraditório com a pesquisa da FHORESP, pode ser explicado pelo fato de que, nos últimos quatro anos, os proprietários não repassaram aos consumidores 14,4% do aumento dos preços dos alimentos e bebidas.
Ou seja, os estabelecimentos têm absorvido parte dos custos, optando por manter os preços relativamente estáveis para o consumidor final, mesmo que isso signifique uma redução na margem de lucro. Essa estratégia, embora aparentemente sustentável em curto prazo, levanta questionamentos sobre a viabilidade a longo prazo do modelo de negócio.
A pesquisa da FHORESP, embora apresente um retrato interessante da conjuntura atual, precisa ser analisada com cautela. É fundamental compreender as nuances do mercado gastronômico e as diferentes estratégias adotadas pelos estabelecimentos. A absorção de custos por parte dos proprietários pode ser um fator determinante para a manutenção dos preços, mas também pode gerar um desequilíbrio financeiro a longo prazo.
Em um contexto de instabilidade econômica, as decisões tomadas pelos proprietários de bares e restaurantes assumem um papel crucial na manutenção da acessibilidade da alimentação fora do lar. É importante acompanhar a evolução dessa tendência e analisar seus impactos, tanto para o consumidor final quanto para o setor como um todo.