Permanecer em casamentos conflituosos por causa dos filhos pode er mais danoso que a separação

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A manutenção de casamentos falidos, frequentemente justificada pela proteção aos filhos, pode ter efeitos devastadores no desenvolvimento emocional e psicológico das crianças. Especialistas alertam que crescer em um ambiente de constante conflito conjugal pode ser mais prejudicial do que a vivência de uma separação bem conduzida.

O tema ganhou relevância com a pandemia de COVID-19, quando o isolamento social obrigou as famílias a conviverem de forma intensiva, expondo fragilidades em muitos relacionamentos. Em 2022, o Brasil registrou 420.039 divórcios, o maior número da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento de 8,6% em relação a 2021 reflete uma realidade que muitos tentavam ignorar. Dentre os divórcios, 47% envolviam casais com filhos menores de idade, evidenciando o impacto direto nos lares onde há crianças.

O preço do conflito no ambiente familiar

Pesquisas mostram que crianças expostas a discussões constantes, gritos ou comportamentos agressivos entre os pais têm maior risco de desenvolver problemas emocionais, como ansiedade e depressão, além de dificuldades em formar relacionamentos saudáveis na vida adulta. De acordo com a psicóloga Marina Ribeiro, “um lar conflituoso pode criar um modelo tóxico de relacionamento que a criança leva como referência, afetando suas próprias escolhas no futuro”.

Por outro lado, especialistas destacam que a separação, embora difícil, pode trazer benefícios a longo prazo se conduzida de forma respeitosa e centrada no bem-estar dos filhos. “O divórcio não precisa ser sinônimo de trauma. Pais que se dedicam a manter uma convivência harmoniosa, mesmo separados, ajudam os filhos a entender que relações saudáveis são possíveis, mesmo quando não há mais casamento”, afirma o terapeuta familiar Eduardo Soares.

O estigma da separação

Apesar dos avanços sociais, o divórcio ainda carrega um estigma, especialmente em contextos culturais que exaltam a unidade familiar a qualquer custo. Muitos pais relatam medo de serem julgados ou de causar sofrimento às crianças. Contudo, a manutenção de um relacionamento disfuncional pode gerar cicatrizes ainda mais profundas.

Um estudo da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, apontou que crianças em lares com alta tensão conjugal apresentam maior índice de insucesso escolar e problemas de comportamento do que aquelas cujos pais se divorciaram, mas mantiveram uma relação civilizada. “O impacto não está na separação em si, mas na forma como ela é conduzida e na qualidade do ambiente criado para os filhos após o divórcio”, explica a socióloga Clara Mendes.

O caminho para uma decisão consciente

Para muitos casais, o medo da separação está relacionado à logística e às mudanças que ela traz, como divisão de bens, guarda dos filhos e adaptação financeira. Entretanto, buscar ajuda profissional, como terapia de casal ou mediação familiar, pode ajudar a esclarecer os caminhos e reduzir o impacto emocional para todos os envolvidos.

O aumento dos divórcios no Brasil também revela uma sociedade mais disposta a priorizar a qualidade das relações em detrimento da aparência de estabilidade. Enquanto 47% dos divórcios de 2022 envolveram casais com filhos menores, especialistas consideram que esses números também refletem uma maior consciência sobre os efeitos de ambientes tóxicos nos lares.

Manter um casamento falido “pelos filhos” pode parecer um ato de sacrifício, mas é preciso avaliar se esse sacrifício não gera um preço emocional ainda mais alto para as crianças. Afinal, ensinar pelo exemplo a importância de relações saudáveis e respeitosas é um legado que os pais podem deixar, mesmo quando vivem em casas separadas.


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