Monte Castello: O Preço do Esquecimento e o Legado da FEB 80 Anos Depois

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Na manhã gelada de 29 de novembro de 1944, sob um manto espesso de neblina, os soldados brasileiros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) iniciavam o que seria uma das batalhas mais duras e emblemáticas da Segunda Guerra Mundial: a conquista do Monte Castello, na Itália. Ao longo dos dias seguintes, entre intensos combates e enormes perdas, os pracinhas, como ficaram conhecidos os combatentes, não só enfrentaram o rigor do inverno, mas também o imenso poder de fogo do exército nazista, que ocupava a região. Hoje, 80 anos após a operação, o Monte Castello permanece como símbolo da coragem e da dor de uma geração que, ao lado de aliados, enfrentou um inimigo imbatível em sua brutalidade.

A batalha foi marcada por uma resistência feroz das tropas alemãs, que tornaram o terreno praticamente impenetrável. Apesar das dificuldades, os brasileiros, que em sua maioria eram jovens provenientes das mais diversas partes do país, mantiveram-se firmes, impulsionados não apenas pela obrigação militar, mas também pela convicção de estar lutando pela liberdade e pela justiça em uma guerra que redefinia os rumos da humanidade.

Passados oito longas décadas, o nome Monte Castello ainda ecoa na memória de poucos, e o sacrifício da FEB, que envolveu mais de 25 mil soldados, se mistura à neblina do esquecimento. Uma memória distorcida pela falta de reconhecimento, pela ausência de uma verdadeira valorização do papel brasileiro no conflito e pela incompreensão de um Brasil que, ao voltar para casa, deixou para trás não apenas corpos, mas uma parte de sua própria história.

O Esquecimento e a Revisitação da Memória

Enquanto na Itália, o Monte Castello ainda guarda os vestígios daquelas batalhas, no Brasil, a memória da FEB foi soterrada por décadas. Por um longo período, o país não deu o devido valor ao esforço de seus soldados, e a falta de uma narrativa nacional mais sólida em torno da participação brasileira na guerra contribuiu para o enfraquecimento desse legado. Nos anos seguintes ao fim da Segunda Guerra, os pracinhas retornaram a uma pátria indiferente, sem grandes celebrações, sem reconhecimento público.

A falta de um real espaço na educação, nos livros de história, e até mesmo nos meios de comunicação fez com que as gerações seguintes desconhecessem as contribuições do Brasil na guerra. A ausência de monumentos, filmes ou outras formas de celebração pública reforçou o esquecimento. Enquanto as vitórias e derrotas dos países europeus e dos Estados Unidos ganhavam notoriedade internacional, o papel do Brasil — que enviou mais de 25 mil soldados para lutar na Itália e foi fundamental na vitória sobre os nazistas — foi minimizado, como se o sacrifício de milhares de brasileiros não fosse relevante o suficiente.

Relevância Internacional: A Vitória Estratégica e Humana

Mesmo que o Brasil não tenha sido o protagonista das batalhas mais conhecidas da Segunda Guerra Mundial, como o desembarque na Normandia ou a tomada de Berlim, a atuação da FEB foi decisiva para a derrota nazista. No Monte Castello, por exemplo, os brasileiros foram fundamentais para a conquista do terreno, abrindo caminho para as forças aliadas avançarem em direção ao norte da Itália. Sem essa vitória, que foi marcada por grandes perdas, a vitória final poderia ter sido adiada, prolongando ainda mais o sofrimento da Europa sob o jugo do regime de Hitler.

Além disso, a experiência da FEB no campo de batalha trouxe transformações não apenas para os pracinhas, mas também para o próprio Brasil. O retorno dos soldados com novas experiências e olhares sobre o mundo contribuiu para uma mudança na percepção do país sobre si mesmo e sobre a guerra. A convivência com forças de diferentes nações e culturas ajudou a moldar uma nova identidade para os brasileiros, mais integrada ao contexto internacional.

O Legado Esquecido: Em Busca de Reconhecimento

Hoje, em 2024, o Brasil tenta resgatar um pouco dessa memória. O recente movimento de valorização da FEB, que tem contado com o esforço de veteranos e historiadores, busca não apenas reconstituir os eventos, mas também assegurar que o sacrifício daqueles soldados seja finalmente reconhecido como parte importante da história do país. Monumentos, homenagens e eventos comemorativos têm buscado, timidamente, reverter o longo período de invisibilidade. No entanto, a luta por maior visibilidade e reconhecimento oficial ainda está longe de ser vencida.

O que é inegável é que, passado tanto tempo, a memória de Monte Castello — e de tantos outros campos de batalha italianos onde os pracinhas perderam suas vidas — continua a ser um ponto de interrogação para grande parte da população brasileira. Isso não se deve apenas à ausência de registros históricos, mas à dificuldade em reconhecer, de forma plena, o que significa ter participado de uma guerra que, ao fim, trouxe um novo mundo, mas também uma nova realidade de luto e esquecimento para os soldados que lutaram nela.

O Brasil, que naqueles dias de novembro de 1944 marchou pelo Monte Castello com esperança e medo, agora é chamado a refletir sobre como recordará essa parte de sua história. O sacrifício dos pracinhas deve ser lembrado não apenas como um feito heróico, mas como um aviso sobre o que significa a neblina do esquecimento que, por vezes, cobrem os feitos mais significativos de um país.

E talvez, em meio a essa reflexão, o maior tributo que se pode fazer aos heróis de Monte Castello seja garantir que sua memória não seja novamente envolta pela névoa do esquecimento, mas preservada com o devido respeito e reconhecimento, que eles, sem dúvida, merecem.


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