Nutrição inadequada de vacas gestantes pode comprometer produtividade de gerações futuras, alerta especialista

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Estudos recentes indicam que a alimentação inadequada de vacas de corte durante a gestação pode ter consequências profundas e duradouras no desempenho produtivo de sua progênie. De acordo com o zootecnista Victor Fonseca, especialista em nutrição animal, o nível de nutrientes oferecido à vaca prenhe afeta diretamente o desenvolvimento do feto e o potencial produtivo do animal ao longo de sua vida.

Fonseca, que é coordenador técnico de bovinos de corte da MCassab Nutrição Animal, explica que o conceito de “programação fetal” é chave para entender esses impactos. “O programa nutricional da mãe durante a gestação afeta o peso vivo ao nascimento, o peso na desmama, o peso final no confinamento e até a qualidade da carne”, afirma. Ele destaca que essa interferência nutricional pode também influenciar o ganho de peso diário e os índices reprodutivos dos descendentes.

A gestação bovina é dividida em três períodos críticos, durante os quais diferentes processos de desenvolvimento ocorrem, e todos eles são suscetíveis à qualidade da nutrição fornecida à vaca. No primeiro terço da gestação, entre o primeiro e o terceiro mês, há a formação da placenta e órgãos vitais do feto, além da miogênese primária — processo inicial de formação do tecido muscular. Já entre o quarto e o sexto mês, ocorre a miogênese secundária, etapa essencial para a definição da quantidade de fibras musculares, além do início da adipogênese, o desenvolvimento de células de gordura. No terço final, entre o sétimo e o nono mês, o feto passa por um crescimento acelerado, com destaque para o aumento de células musculares e adiposas, diretamente ligadas à qualidade da carne.

Essas fases são especialmente importantes na criação de gado de corte, um setor que busca maximizar a qualidade da carne e a produtividade. Fonseca reforça que um manejo inadequado da alimentação durante a gestação pode prejudicar não apenas o peso do bezerro ao nascer, mas também comprometer a formação de tecidos que garantem maior marmoreio na carne — um dos critérios mais valorizados no mercado de carnes premium.

A programação fetal não é um conceito novo, mas os avanços na nutrição animal têm jogado luz sobre sua aplicação prática, especialmente em momentos críticos do desenvolvimento bovino. Fonseca adverte que a negligência nutricional durante essas “janelas de oportunidade” pode levar a prejuízos expressivos ao longo da vida produtiva dos animais, desde a fase de cria até o momento do abate.

A crescente demanda por carne de alta qualidade, especialmente no mercado internacional, exige dos pecuaristas uma atenção redobrada aos aspectos nutricionais desde a concepção dos animais. Com as pressões por maior eficiência produtiva e sustentabilidade na pecuária, garantir que as vacas recebam a nutrição adequada durante a gestação pode ser o diferencial entre o sucesso e o fracasso econômico das fazendas.

O alerta de Fonseca evidencia um ponto crítico para o setor: o planejamento nutricional das matrizes bovinas precisa ser visto como um investimento de longo prazo, impactando diretamente a competitividade dos pecuaristas e a qualidade final da carne oferecida aos consumidores. “A nutrição adequada da vaca durante a gestação é, sem dúvida, um dos pilares para garantir uma produção de carne de alta qualidade e de forma sustentável”, conclui o especialista.

Assim, a estratégia alimentar das vacas gestantes emerge como uma peça central no quebra-cabeça da pecuária de corte moderna, influenciando desde o desempenho produtivo até o sabor e a maciez da carne que chega à mesa do consumidor.


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