Primeiro turno das eleições registra mais de 44 mil ataques à imprensa nas redes sociais, com TikTok em ascensão como epicentro da hostilidade

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O monitoramento realizado pela Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) revelou que, durante o primeiro turno das eleições no Brasil, as redes sociais se tornaram terreno fértil para ataques contra jornalistas e veículos de comunicação. Entre os dias 15 de agosto e 6 de outubro, mais de 44.200 publicações agressivas foram registradas em plataformas como X (antigo Twitter), Instagram e TikTok. Após o bloqueio do X, o TikTok emergiu como a rede social mais nociva aos profissionais da imprensa, com 4.400 ataques em apenas 20 dias de monitoramento.

A análise, feita em parceria com o Laboratório de Internet e Ciência de Dados (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), acompanhou 450 contas de jornalistas, meios de comunicação e candidatos à prefeitura em várias cidades. O bloqueio do X, que havia registrado mais de 34.700 publicações hostis em três semanas, impulsionou a migração dos ataques para o TikTok e Instagram, onde foram registrados mais de 4.800 ataques no mesmo período.

Os ataques contra jornalistas nas redes sociais variaram de insultos diretos a discursos estigmatizantes, com termos como “mídia podre”, “imprensa vendida” e “jornalismo imparcial” sendo amplamente utilizados para descredibilizar o trabalho da imprensa. A hashtag #globolixo, um termo depreciativo originado por críticos da Rede Globo, foi a mais usada, mas acabou servindo como um ataque generalizado contra a imprensa em sua totalidade.

TikTok assume liderança como ambiente hostil após bloqueio do X

Com o bloqueio temporário do X no Brasil, o TikTok rapidamente ocupou o espaço como o principal palco de agressões virtuais contra jornalistas. A popularidade da rede entre o público jovem e seu ambiente caótico de moderação permitiram que discursos violentos e estigmatizantes se proliferassem de forma alarmante. Desde insultos a campanhas de desinformação, a plataforma consolidou-se como o novo epicentro dos ataques digitais.

Jornalistas e veículos na mira: quem são os alvos preferidos

Entre os jornalistas mais atacados no período, destacam-se nomes como Carlos Tramontina, mediador do debate entre candidatos à prefeitura de São Paulo; Josias de Souza, do UOL; e Andréia Sadi, da GloboNews. Vera Magalhães e Pedro Duran Meletti também foram alvos recorrentes, assim como veículos de renome como GloboNews, UOL, Metrópoles e CNN.

Boa parte das ofensivas vinha de apoiadores de candidatos da extrema-direita, com uma forte concentração em torno de Pablo Marçal (PRTB), que disputa a prefeitura de São Paulo. Postagens que mencionavam Marçal e o relacionavam a críticas ou reportagens de veículos de imprensa resultavam em uma enxurrada de ataques coordenados por seus seguidores. Esses apoiadores, frequentemente, acusavam a mídia de estar “vendida” ou alinhada à esquerda, utilizando frases como “caiu o pix” para insinuar que os jornalistas estariam sendo subornados.

Violência extrapola redes sociais

Além das agressões online, houve registros de ataques físicos e verbais contra jornalistas em todo o país durante o período eleitoral. No total, 14 denúncias de agressões offline foram relatadas, desde interpelações policiais até campanhas de estigmatização e processos judiciais abusivos. Um dos episódios mais notórios ocorreu no dia 30 de setembro, quando a jornalista Paula Araújo, da GloboNews, foi atacada fisicamente momentos antes de uma transmissão ao vivo em São Paulo. A agressora, além de tentar ferir a repórter, proferiu insultos contra a emissora, usando o slogan “Globo lixo” para justificar sua violência.

Onda de ataques e a retórica da extrema-direita

A narrativa utilizada para descredibilizar a imprensa vem sendo alimentada por líderes e grupos conservadores de direita, incluindo apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, os ataques mais intensos surgiram entre os eleitores de Pablo Marçal, que direcionaram sua insatisfação para jornalistas que cobriam a campanha eleitoral. Ao vincular o trabalho jornalístico à política de esquerda, esses grupos promovem um ambiente cada vez mais tóxico para a liberdade de imprensa, elevando o risco de que a violência online se desdobre em agressões no mundo real.

Essa escalada de hostilidade contra a imprensa levanta preocupações sobre o futuro do jornalismo no Brasil, especialmente em um ambiente político polarizado. O monitoramento da CDJor é um alerta para a necessidade de ações mais incisivas das plataformas digitais na contenção de discursos de ódio e proteção dos profissionais de comunicação que, em uma democracia saudável, devem ter liberdade para exercer sua função sem medo de represálias.


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