Carta Aberta ao Ministro da Educação: Um Manifesto por uma Educação Pública de Qualidade

Camilo

Em nome de um grupo de professores do estado do Paraná, dirigimos esta carta aberta ao Senhor Ministro da Educação, Camilo Santana, com o intuito de manifestar nossa profunda preocupação com a situação atual do ensino básico e médio no Brasil e, principalmente, de solicitar medidas urgentes para a sua urgente e necessária transformação.

A educação, como bem sabemos, é o alicerce de uma sociedade justa e próspera. No entanto, a realidade que vivenciamos nos últimos anos demonstra um descaso crescente com a qualidade do ensino e com a valorização dos profissionais da educação.

É com esse sentimento de indignação e esperança que apresentamos as seguintes reivindicações, pautadas na busca por uma educação pública de qualidade, digna e justa para todos os brasileiros:

1. Restituição dos Direitos Previdenciários Usurpados:

A reforma da Previdência, especificamente a PEC 6/19, resultou em uma profunda injustiça para milhões de professores e professoras em todo o país, usurpando direitos conquistados ao longo de anos de trabalho árduo e dedicação.

Demandamos a restituição imediata dos direitos previdenciários, incluindo o fim dos descontos abusivos sobre os proventos dos aposentados e o retorno da alíquota de 11% ou menos para os ativos, cessando o aumento para 14% como ocorrido no Paraná. É inadmissível que o déficit previdenciário seja coberto com mais descontos sobre o salário dos professores, comprometendo ainda mais sua dignidade e segurança financeira.

2. Cumprimento Rigoroso do Piso Nacional do Magistério:

O estrito cumprimento da lei do piso nacional é essencial para garantir condições mínimas de trabalho e remuneração para os professores.

A lei determina 33% de hora-atividade e o piso salarial nacional, percentuais que devem ser rigorosamente observados sob pena de não recebimento de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) pelos governos estaduais e municipais.

É preciso coibir a prática recorrente de esquiva a essas obrigações legais, garantindo que os recursos destinados à educação cheguem aos professores de forma justa e integral.

3. Compensação Pecuniária Retroativa pelo Não Cumprimento da Hora-atividade:

O não cumprimento da hora-atividade, direito previsto em lei, significa uma economia indevida por parte dos governos estaduais e municipais, realizada às custas do trabalho dos professores.

Exigimos a compensação pecuniária retroativa por essa violação, reconhecendo o trabalho extra que os professores realizaram e o prejuízo financeiro que sofreram em decorrência dessa prática ilegal.

4. Observância Pontual da Data-base do Magistério:

A data-base do magistério, prevista constitucionalmente, deve ser observada pontualmente, sem necessidade de judicialização para garantir a reposição salarial justa e a valorização da categoria. A inobservância dessa data-base configura uma violação aos direitos dos professores e deve ser sanada imediatamente.

5. Fim das Imposições Tecnológicas que Minam a Autonomia Docente:

A autonomia profissional é um pilar fundamental para o exercício da docência. As imposições tecnológicas que vêm sendo implementadas no ensino, muitas vezes sem o devido planejamento e suporte, minam a autonomia dos professores, limitando sua capacidade de criar e desenvolver práticas pedagógicas inovadoras e eficazes.

Exigimos o fim do engodo tecnológico, que, lamentavelmente, ganha cada vez mais espaço, e o investimento em tecnologias que, de fato, auxiliem o processo de ensino-aprendizagem, sem prejudicar a autonomia profissional dos professores.

6. Revogação do Novo Ensino Médio:

O Novo Ensino Médio, implementado em 2020, foi concebido sem a devida consulta à comunidade escolar e desconsidera as necessidades e realidades da educação brasileira. A proposta fragmenta o currículo, desconsidera a importância das disciplinas básicas e limita a formação integral do estudante.

Demandamos a revogação imediata do Novo Ensino Médio e a construção de uma proposta curricular que atenda às necessidades dos estudantes e do país, com foco na formação integral, no desenvolvimento crítico e na construção de cidadãos conscientes e responsáveis.

7. Implementação de um “New Deal” na Educação e no Magistério:

É urgente a implementação de um “New Deal” na educação e no magistério, com investimentos robustos em infraestrutura, formação docente e valorização profissional.

Isso significa a construção e reforma de milhares de escolas, dotadas de infraestrutura moderna que efetivamente atenda aos estudantes, incluindo salas amplas, ar condicionado, quadras e instalações sanitárias adequadas, visando criar espaços educacionais que sirvam de modelo para condições de trabalho e aprendizado.

É preciso realizar concursos públicos para contratação de professores em todos os estados e, possivelmente, considerar a federalização da educação e do magistério, para garantir maior equidade e qualidade em todo o país.

8. Criação de Legislação Específica contra o Assédio Moral, Violência Física e Psicológica:

O assédio moral, a violência física e psicológica contra profissionais do magistério e das escolas são graves problemas que precisam ser combatidos com rigor.

Demandamos a criação de legislação específica que criminalize esses atos e proteja os profissionais da educação, garantindo um ambiente de trabalho seguro e respeitoso.

9. Fim das Iniciativas de Privatização e Militarização da Educação Pública:

A educação pública é um direito fundamental e deve ser garantida pelo Estado de forma universal e gratuita, sem qualquer tipo de discriminação.

As iniciativas de privatização e militarização da educação pública representam um grave retrocesso e ameaçam a qualidade e a universalidade do ensino, além de fortalecerem um modelo de educação excludente e autoritário.

É fundamental combater essas iniciativas e fortalecer a educação pública como pilar fundamental de uma sociedade justa e democrática.

10. Abolição do Ensino Fictício e da Aprovação Automática:

A prática da aprovação automática de alunos sem o cumprimento dos requisitos mínimos configura um ensino fictício, que não contribui para a aprendizagem e desqualifica a educação.

É preciso combater essa prática e garantir que a aprovação seja resultado de um processo de aprendizagem real e efetivo, com avaliação justa e rigorosa.

11. Valorização Genuína do Trabalho Docente:

A valorização genuína do trabalho docente em todos os níveis da Educação Básica brasileira é fundamental para a construção de uma educação de qualidade.

Isso significa oferecer condições dignas de trabalho, remuneração justa, desenvolvimento profissional contínuo, reconhecimento social e respeito à autonomia profissional.

**Certos de sua atenção e de seu compromisso com a justiça e a dignidade do magistério nacional, solicitamos vossa atenção e apoio quanto a essas breves medidas emergenciais que visam corrigir estas injustiças históricas. **

Acreditamos que a educação é a chave para um futuro melhor para o Brasil e que a transformação necessária passa, necessariamente, pela valorização do trabalho docente e pela garantia de uma educação pública de qualidade para todos.

Atenciosamente,

Grupo de Professores do Paraná


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