O circo pegou fogo: A Câmara dos Deputados, palco de brigas e um Conselho de Ética ineficaz

Conselho de etica

Delegado Éder Mauro (com o dedo em riste) e André Janones (sentado) estiveram entre os deputados que mais protagonizaram brigas na Câmara Foto: Lula Marques/Agência Brasil

A democracia é um jogo de ideias, de debates acalorados, de divergências e, acima de tudo, de respeito. Mas o que estamos vendo na Câmara dos Deputados nos últimos tempos é um espetáculo grotesco, um circo onde a briga reina soberana, o respeito se esvai e o Conselho de Ética, supostamente guardião da ética parlamentar, parece um mero figurante, coadjuvante em um drama que se repete em looping, com cada episódio mais bizarro que o anterior.

Com um ano e quatro meses de atividades, a atual legislatura já coleciona mais de uma dezena de incidentes de brigas, físicas e verbais, entre parlamentares. Uma verdadeira “feira de horrores”, onde a baixaria impera, e a política se resume a um festival de xingamentos, empurrões, agressões verbais e até mesmo físicas. As câmeras, sempre ligadas, registram tudo, capturando o momento exato em que a máscara da civilidade cai, revelando a verdadeira face do que se passa nos corredores do poder.

A polarização, essa praga que assola o Brasil há tempos, encontra na Câmara dos Deputados seu palco principal. A divisão entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que parece ter se tornado a única narrativa política existente, contaminou o ambiente parlamentar, transformando cada debate em uma batalha campal. As discussões se tornam pessoais, as divergências ideológicas são usadas como armas para atirar em quem pensa diferente, e a busca pela verdade se esvai sob uma névoa de ódio e rancor.

Mas a coisa não para por aí. Se o cenário já é preocupante por si só, a impunidade que paira sobre esses atos é ainda mais grave. Parlamentares que se envolvem em brigas, xingam colegas, agridem fisicamente, tudo isso sob os olhares atentos das câmeras, saem ilesos, livres de qualquer punição, como se a lei não se aplicasse a eles. Essa sensação de impunidade, alimentada por um Conselho de Ética ineficaz, que parece ter perdido sua voz e sua força, cria um ambiente propício à repetição dos atos de violência e desrespeito, dando a entender que a regra é a exceção, e a exceção, a regra.

É com uma sensação de profundo desespero que assistimos a essa tragédia em câmera lenta, onde a política se torna um jogo de egos inflados, onde a busca pelo poder se sobrepõe ao bem comum, e onde o diálogo e o respeito dão lugar à baixaria e à violência. A Câmara dos Deputados, que deveria ser o templo da democracia, se transformou em um palco de brigas, onde o espetáculo da violência atrai mais atenção do que as reais questões que impactam a vida dos cidadãos.

Mas, como dizia o poeta, “a esperança é a última que morre”, e ainda é possível reverter essa situação. É preciso que a sociedade se mobilize, exerça pressão sobre seus representantes e exija mudanças. A impunidade precisa ter um fim, o Conselho de Ética precisa ser revitalizado, e a política precisa voltar a ser um espaço de diálogo, respeito e busca por soluções para os problemas que enfrentamos.

A Câmara dos Deputados não pode continuar sendo um circo onde o que importa é o espetáculo, e não o bem comum. Precisamos que a política volte a ser um espaço de debates construtivos, onde as ideias sejam o centro das atenções, e onde o respeito e a ética prevaleçam acima de tudo. A democracia exige, sim, o debate, a divergência, mas exige também o respeito, a tolerância e a busca por um diálogo que leve ao bem comum. E é por essa democracia, justa e justa, que precisamos lutar.


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