O cobertor curto está expondo os “ilusionismos” do setor da educação superior

OIP (10)

Por Cesar Silva

Após as punições aplicadas pelo Ministério da Educação à Universidade Anhembi Morumbi, do grupo Ânima Educação, o presidente do Conselho da instituição veio a público para defender universidade e colocar a culpa da punição no repórter, desqualificando a matéria e acusando o Sindicato dos Professores – e os próprios docentes associados – de fazerem denúncias esvaziadas. Para além, chegou a dizer que o Governo atual pegou um processo antigo, dito resolvido pelo Governo anterior, e requentou.

Enquanto o presidente do Conselho preferiu trazer outra verdade e fazer um jogo de palavras com o nome do sistema de ensino aplicado, chamado E2A (e dizendo que o MEC confundiu infantilmente com EAD), podemos explicar as façanhas utilizadas no sistema E2A para reduzir custos, juntar turmas, trazer temas inadequados as formações das graduações da marca adquirido do grupo Laureate, visando viabilizar em menos custo a compra gulosa e não estratégica da marca referência em cursos presenciais no momento de crescimento do EAD.

A Ânima comprou a Anhembi Morumbi da Laureate por ser uma marca com cursos presenciais com tickets altos, devido à posição de cursos inovadores e desejados como Moda, Gastronomia, Estética e Cosmética, entre outros que exigem investimentos laboratoriais elevados.

Veio a pandemia, e a marca, sem força e valor agregado para EAD, passou a ser um poço sem fundo de custos.

A exemplo da gestão acadêmica que foi feita pela Ânima na Universidade São Judas Tadeu, que pasteurizou cursos e ampliou de 2 para 9 unidades físicas pelo Estado de São Paulo, mas derrubando o volume de mais de 25 mil alunos para menos de 17 mil – com custo físico elevadíssimo, dado que nove unidades necessitam de mais caixa que duas –, a Laureate incorporou o sistema acadêmico E2A, com a nomenclatura que lembra mais uma tática do futebol moderno, onde acontecem mágicas ilusionistas como: disciplinas de soft skills que substituem temas essenciais em perfis curriculares; juntar mais de 400 alunos em aulas mediadas por tecnologia; um docente de uma das Instituição de ensino superior do grupo lecionando para várias turmas de diversas outras, também da companhia; e ementas sendo mudadas a cada semestre, de acordo com as disciplinas genéricas disponíveis.

Assim, o que a Ânima chama de sistema E2A?

O Ecossistema Ânima de Aprendizagem (E2A) oferta currículos de maneira integrada, organizada por competências, com o objetivo de proporcionar uma compreensão global do conhecimento que passa a ser não mais dividido em disciplinas, e sim por Unidades Curriculares (UCs). Essa estrutura é bem pensada para unificar aulas de turmas de cursos diferentes, desenvolvendo temas genéricos e longe das diretrizes curriculares e dos perfis profissionais estabelecidos pelo regulador e pelos conselhos de cada área.

O MEC e as suas instâncias de regulação não confundem E2A com EAD, como disse o presidente do conselho administrativo da Ânima. Pelo contrário, a pasta tem clareza da estratégia ilusionista de transformar o presencial em uma aula única, mediada por tecnologia para centenas de alunos de muitas marcas diferentes, do mesmo grupo, para tentar manter as mensalidades mais altas mesmo com os custos dos cursos presenciais sendo diluídos em docentes únicos destinados a dezenas de turmas.

Este sistema de ensino E2A foi disseminado pelo professor Rui Fava, ex-executivo da Kroton e da própria Ânima (por pouco tempo), em livros de educação que mais se parecem com autoajuda para os gestores.

A máxima de que não se pode enganar todos por todo o tempo se apresenta mais uma vez na Educação Superior do Brasil. O ilusionismo é uma estratégia de encantamento, que estimula shows, espetáculos e até fundos de investimentos.

Está “mágica” é tão delicada para o setor quanto à frente de negócio que a Ânima criou para a área de medicina, as medidas judiciais e as aquisições por conta de cursos que não podem ser separados das universidades por ela mantidas. Esses são, aliás, outros focos de preocupação para um setor que vibra pela manutenção de alíquotas reduzidas de impostos e do “Minha casa, minha vida” da educação, o FIES.

* César Silva é diretor-presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (Fundação FAT)


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