Flexibilização de empresas passam por falhas na comunicação à falta de gerenciamento do tempo

OIP (11)

Quando bem executada, a flexibilidade se torna uma poderosa aliada para aumentar a satisfação dos funcionários, melhorar a produtividade e impulsionar o sucesso geral da empresa

O mercado de trabalho vem enfrentando mudanças importantes, que exigem um novo olhar sobre o que até bem pouco tempo funcionava. Trabalho remoto, híbrido e outros formatos resultam em ganhos para colaboradores e gestão, mas esta tendência de flexibilização traz à tona novos desafios para as empresas, dentre eles a comunicação, colaboração e gerenciamento adequado do tempo.

Fábio Futigami, sócio e diretor de CRM e BI no Grupo Take 5, especialista em educação corporativa à distância, reflete sobre cada um deles. O primeiro, um desafio comum a todos os tipos e tamanhos de negócios: a comunicação. “A comunicação e a colaboração podem ser prejudicadas com as novas formas de trabalho, se não houver uma dedicação para evitar que a distância física seja uma barreira entre os membros da equipe”, diz. 

Outro ponto de atenção é o gerenciamento do tempo. “Se por um lado o trabalho remoto traz a ideia de maior produtividade, este ganho pode não ser real, se as equipes não foram treinadas para gerenciar seus horários com eficiência, aproveitando ao máximo a flexibilidade oferecida”, analisa.

Em terceiro lugar, Futigami aponta o desafio da ausência de controle e supervisão. Flexibilizar, segundo ele, não significa abrir mão do essencial gerenciamento de equipes, em especial em um modelo ainda tão recente nas empresas brasileiras. “Vale investir na liderança para gerenciar equipes remotas de forma eficaz e garantir que a falta de supervisão física não afete o desempenho dos colaboradores”, completa. 

Por outro lado, quando as empresas de fato se preparam, e capacitam seus times para um ambiente mais flexível de trabalho, essa flexibilidade será realmente uma poderosa aliada para aumentar a satisfação dos funcionários, melhorar a produtividade e impulsionar o sucesso geral da empresa. 

Ao vencer os desafios que a flexibilidade no trabalho traz, Futigami enumera também os ganhos que as empresas e colaboradores terão, começando pelo equilíbrio na vida pessoal e profissional. “Os funcionários podem equilibrar suas responsabilidades pessoais e profissionais de maneira mais eficiente. Com horários mais adaptáveis, os colaboradores têm maior liberdade para cuidar de suas famílias, participar de atividades particulares e gerenciar compromissos importantes sem sacrificar suas obrigações no trabalho”.

A melhora na produtividade é a segunda e tão sonhada melhoria, já que muitos profissionais se sentem mais motivados e comprometidos quando têm a liberdade de trabalhar em seus próprios ritmos e ambientes. “Menos tempo gasto em deslocamentos e a capacidade de criar um cronograma personalizado também podem aumentar a eficiência”, garante.

E por fim, a retenção e atração de talentos, uma vez que empresas que hoje oferecem flexibilidade no trabalho são vistas como mais atraentes para os candidatos e têm mais chance de manter seus talentos. Essa vantagem competitiva pode ser crucial em um mercado de trabalho cada vez mais disputado. 

Flexibilização precisa ser acompanhada de cuidado com a saúde mental dos times, aponta psicóloga

As empresas têm vivenciado muitas transformações nos últimos anos, e, pela rapidez delas, muitas não conseguem atentar com a brevidade necessária para um desafio crescente, e que não pode ser negligenciado pelos líderes, que é a saúde mental de seus times.

As novas formas de trabalho parecem muito atrativas, e em geral estão atreladas ao discurso de maior qualidade de vida e felicidade no trabalho. Mas na prática é necessário ter um olhar muito mais profundo sobre a realidade enfrentada no mundo inteiro, como alerta a psicóloga Lorena Soares, CEO de uma startup que leva programas de bem-estar emocional para o ambiente corporativo, a Amar.elo Saúde Mental.

“O transtorno depressivo é a segunda causa da perda de dias de trabalho no mundo, segundo a OMS. Estima-se que pelo menos 10% da população mundial sofra de algum transtorno mental. E até 2030, o custo global desses transtornos pode chegar a US$ 6 trilhões. Então, a discussão sobre flexibilidade no trabalho é necessária, sim, mas junto com ela é importante que a saúde emocional nas empresas (que podem inclusive estar funcionando dentro das casas dos colaboradores) seja uma pauta conjunta”, argumenta.

As doenças mentais surgem devido a uma somatória de fatores como estresse, ansiedade, preocupação, medo e alta pressão. E tudo isso pode acontecer, mesmo em empresas mais flexíveis. Lorena Soares diz que é necessário que as organizações tenham um olhar de atenção com os profissionais, implementando políticas internas ligadas à saúde mental do colaborador e criando um ambiente psicologicamente seguro, que surge como uma solução para combater a psicofobia, ou seja, o preconceito que se tem contra pessoas que sofrem algum transtorno ou adoecimento mental.

A profissional afirma, ainda, que os últimos anos, marcados por alguns passos de flexibilização, são também os que apresentam mais casos de Síndrome de Burnout e, consequentemente, mais ações trabalhistas motivadas por causa da doença. “Entre 2020 e 2022, houve um aumento de mais de 72% nas ações trabalhistas motivadas por Burnout, e de mais de 30% nos afastamentos causados por transtornos mentais”, aponta. 

Como forma de alterar este quadro ou se prevenir dele, Lorena aponta a necessidade de políticas específicas de prevenção e tratamento, baseadas em três pilares: educação, com programas e eventos de educação e conscientização; análise emocional da organização e cuidado através da psicoterapia on-line.

“O mais importante é saber que as ações de flexibilidade nas empresas vão depender da cultura e do serviço que a empresa oferece. Em determinados perfis institucionais, como algumas indústrias, por exemplo, podem não caber certas modificações, mas sim outros ajustes na forma de trabalho podem ser mais adequados. De tudo isso, o que se tem que enxergar é que é preciso ter um olhar individual para identificar o que é melhor para cada uma”, complementa. 


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