Brasil encerra Mundial de halterofilismo de Dubai com prata na equipe feminina e melhor campanha da história

Mariana tem nanismo. Seu atual técnico, Valdecir Lopes, a viu na rua, em 2015, e a convidou para praticar halterofilismo

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Time vice-campeão foi formado por Lara Lima, Tayana Medeiros e Maria de Fátima Castro, em substituição à campeã mundial Mariana D’Andrea, homenageada no pódio; Seleção encerra competição com dois ouros, uma prata e um bronze

Em dia marcado por homenagens à campeã mundial e paralímpica Mariana D’Andrea, a Seleção Brasileira de halterofilismo se despediu do Campeonato Mundial de Dubai com uma medalha de prata na disputa do time feminino nesta quarta-feira, 30, último dia de disputas nos Emirados Árabes. Com o resultado, a delegação brasileira finaliza a competição com a melhor campanha da história, com quatro medalhas no total, sendo três na categoria adulta e outra no júnior. Além da conquista na competição de equipes, a paulista Mariana D’Andrea obteve um ouro na categoria até 79kg, a primeira medalha dourada do Brasil em Mundiais entre os adultos, e a mineira Lara Lima conquistou mais dois pódios – ouro no júnior e bronze no adulto, ambos pela categoria até 41kg. 

Em sua despedida do Mundial, o time brasileiro contou com a mineira Lara Lima, a carioca Tayana Medeiros e a amazonense Maria de Fátima Castro. Esta última foi escalada já na manhã desta quarta-feira, em substituição à Mariana D’Andrea. Durante a madrugada, a campeã mundial recebeu a notícia do falecimento de seu pai, em decorrência de um infarto do miocárdio. A atleta teve suporte psicológico e médico da delegação e optou por voltar ao Brasil poucas horas após ser informada pela família. As atletas brasileiras decidiram manter sua participação, apesar de também estarem abaladas, em conversa com a comissão técnica. Na hora de subir ao pódio, as medalhistas de prata levaram uma camiseta assinada por todas com a mensagem “Esta medalha também é sua” para a halterofilista paulista. 

O evento nos Emirados Árabes foi realizado no hotel Hilton Habtoor City, onde as delegações estiveram hospedadas. O campeonato contou com 495 atletas de 78 países. A Seleção Brasileira foi representada presente por 23 atletas de 12 unidades federativas (AM, BA, MG, PA, PB, PE, PR, RJ, RN, RS, SC e SP). A competição era etapa obrigatória para qualificação para os Jogos Paralímpicos de Paris 2024.

A disputa por equipes desta quarta-feira contou com uma primeira fase, em que dez seleções foram divididas em dois grupos. O Brasil foi o segundo colocado no grupo B, com 289,72 pontos, atrás da China (317,87) e à frente do México (274,11). O resultado foi alcançado com levantamentos válidos de Lara Lima (102kg), Maria de Fátima Castro (115kg) e Tayana Medeiros (125kg).

Na disputa de times, é utilizada uma fórmula que dá mais peso aos levantamentos de atletas mais leves, com o objetivo de equiparar as performances de todas as atletas na composição do resultado final. Lara compete na categoria até 41kg, Maria na até 67kg e Tayana 86kg. Nas semifinais, o Brasil repetiu os mesmos pesos levantados, novamente com três movimentos válidos. Com isso, bateu o Chile por uma margem apertada, com placar de 289,72 a 288,19.

Já para a final, houve uma mudança de pedida no time brasileiro. Em vez de erguer 125kg, a carioca Tayana Medeiros suportou 135kg. A escolha tem um significado especial para a atleta, que buscou essa marca na última sexta-feira, 25, mas não conseguiu nas suas três tentativas. Por fim, o Brasil acertou seus três levantamentos e marcou 293,70 pontos ante 313,75 da China, que saiu como a campeã da disputa por equipes. 

“Infelizmente uma parte da nossa equipe não estava. Foi muito difícil decidir se iríamos continuar ou não. Mas resolvemos ficar pelo bem dela [Mariana]. Ela gostaria que nós continuássemos. E ainda bem que fizemos isso, porque veio a prata. Essa medalha de prata mostra que a gente é muito mais forte do que pensa. Não foi como a gente esperava. Nós queríamos a Mariana aqui, ficamos muito abaladas, mas nos saímos muito bem”, avaliou Lara Lima, 20, caçula da Seleção Brasileira.

“Acordei com mensagens da comissão e fiquei com o coração na mão. Mas topei logo de cara. Independentemente do que aconteceu, se precisassem de mim, eu estava ali para isso, para somar, ajudar a equipe. Pode vir o que for, não arredo”, afirmou a amazonense Maria de Fátima, natural da cidade de Tefé. “Não consigo explicar a felicidade, a gratidão. Essa medalha representa muita coisa. Eu briguei até o final. É surreal, estou tremendo até agora”, completou, logo após a competição.

“Hoje tem um gostinho de ouro. Foi um dia que começou muito tenso. Mas não deixei minhas emoções me levarem. Consegui controlar bem e foquei em uma coisa só. Estou aqui por mim e pela minha amiga. Foi chegar ali e fazer o que eu sei que ela iria fazer. Essa medalha vem no lugar daquela que eu deixei escapar na competição individual. E pegar aqueles 135kg foi questão de honra. Eu até estou saindo toda roxa, porque dou uns tapinhas no braço para o sangue circular e para o peso subir leve como foi hoje”, disse Tayana.

O resultado do Brasil em Dubai, bem como a conquista da prata por equipes, foi celebrado por Yohansson Nascimento, vice-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e chefe de missão no Campeonato Mundial de halterofilismo, além de ex-atleta, com conquistas importantes como o ouro nos 200m nos Jogos Paralímpicos de Londres 2012. “Saímos de Dubai com a sensação de dever cumprido. Foi histórico o que a Seleção Brasileira fez neste Mundial, com a maior quantidade de medalhas totais conquistadas. E, com a adversidade enfrentada no último dia, as atletas chegarem na última competição e conquistarem essa medalha de prata foi fantástico. Mariana, essa medalha foi para você. Toda a delegação brasileira está de parabéns”, afirmou.

Na avaliação do vice-presidente do CPB, os recentes resultados da Seleção, no halterofilismo e em outras modalidades, indica perspectivas de sucesso durante os próximos Jogos Paralímpicos, em Paris, daqui um ano. “Já projetamos que Paris será histórico. Tive o prazer de estar nos últimos três campeonatos Mundiais, de atletismo, natação e agora halterofilismo, e, somando as categorias principais, foram 31 medalhas de ouro conquistadas em 60 dias. Foi fantástico saber que o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) está trilhando um caminho bem positivo até chegar a Paris 2024”.

“Terminamos o Mundial com o ouro inédito da Mariana e essa medalha na estreia do time feminino, consolidando a melhor campanha da Seleção Brasileira. Todas as pessoas envolvidas no processo de evolução da Seleção, desde a primeira medalha de Mariana, da Lara, estão de parabéns. Também vimos atletas melhorando resultados no ranking, atingindo suas metas, enquanto outros, que não conseuguiram, terão um realinhamento de suas práticas para os Jogos Parapan-Americanos de Santiago, em novembro, no Chile, para melhorarem suas marcas e terem mais chances de se qualificar para os Jogos Paralímpicos de Paris”, afirmou Murilo Spina, coordenador do halterofilismo no CPB.

O Brasil fez sua primeira participação com o time feminino em 2023. Antes, o país havia conseguido duas medalhas de prata com a equipe mista, em 2019, no Cazaquistão, e em 2021, na Geórgia.

Seleção Brasileira em Dubai

A equipe brasileira adulta em Dubai superou em número a convocada para a edição anterior do Mundial, em Tbilisi, na Geórgia. Na competição passada, o Brasil contou com 18 atletas para as disputas na elite da modalidade.

Com as medalhas conquistadas em Dubai, o Brasil acumula oito pódios adultos em Campeonatos Mundiais, cinco deles em disputas individuais. Duas dessas conquistas são da paulista Mariana D’Andrea, sendo um ouro (Dubai 2023) e uma prata (Geórgia 2021). O país também possui três bronzes, com a mineira Lara Lima (Dubai 2023), o baiano Evânio Rodrigues da Silva (México 2017) e a paranaense Márcia Menezes (Dubai 2014). Todos os medalhistas estiveram no Mundial de Dubai em 2023.

Além dessas medalhas, o país tem três pratas em disputas por equipes. Uma em Dubai 2023, com sua equipe feminina, e outras duas com seu time misto – Geórgia 2021 e Cazaquistão 2019. 

Com seis atletas, Minas Gerais foi o estado com o maior número de representantes no Mundial. Dentre os convocados, 11 vieram da região Sudeste, sete do Nordeste, três do Sul e dois do Norte.

A Seleção Brasileira foi formada majoritariamente por mulheres. São 14, cerca de 61% do grupo, ante nove atletas masculinos. Além disso, a delegação contou com nove estreantes.


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