Como equilibrar trabalho e saúde mental

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Por Virgilio Marques dos Santos

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde mental como “um estado de bem-estar em que o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de dar uma contribuição para sua comunidade”. O termo é usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional. A saúde mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica.

Definido o conceito de saúde mental, pergunta-se: como medir a saúde mental? Como alguém da área de Excelência Operacional, as definições operacionais são importantes, mas precisam vir associadas aos indicadores. E, pesquisando trabalhos na área, percebi que a única forma de medir a saúde mental é por meio da falta de saúde, ou seja, número de registros de depressão. Fora isso, não encontrei um indicador que meça o nível de saúde mental de uma pessoa. E, para atestar depressão, é necessário o diagnóstico de um médico.

Dessa forma, pode-se demorar muito até que o colaborador se sinta mal o suficiente para procurar ajuda profissional. E, mais ainda, para conseguir o diagnóstico de depressão. Dado essa latência, quero utilizar esse espaço para compartilhar alguns indícios que, apesar de não diagnosticados, podem contribuir para uma deterioração da saúde mental. E, persistindo, conduzir até uma eventual depressão.

Expectativa, fatos e verdades

A primeira coisa dura, mas importante, é alinhar a expectativa com a realidade. Antes de ser pai, a minha saúde mental era alcançada quando tudo estava no lugar. A empresa deveria estar estabilizada e com o faturamento garantido pelos próximos 3 meses. Além disso, o plano alimentar e de exercícios físicos tinha de estar evoluindo. E, para fechar, a família deveria dispor de ótima saúde. Negócios, saúde e família deveriam estar em pleno funcionamento para que eu pudesse me dar o direito de relaxar. Mas, quando a vida evolui, o cenário de plenitude começa a ficar mais complicado.

Casando, a sua plenitude começa a sofrer interferência do cônjuge. Se a pessoa que está ao seu lado está mal, a sua tranquilidade começa a sofrer impacto e o mesmo vale para a companheira. Estando mal, irá afetá-la. Com a chegada dos filhos, a complexidade torna-se ainda maior. A criança é uma obra em construção cujo prazo para conclusão ultrapassará 20 anos. E qualquer quebra de expectativa passará por um doloroso processo de análise da causa raiz, que na maioria das vezes recai na falta de disciplina dos pais. Não importa que a causa não seja essa, mas será o padrão mais utilizado.

Todas as variações no trabalho serão amplificadas, pois os desdobramentos afetam diretamente sua família. Aumento de salário? Ótimo, todos vão usufruir das melhores condições. Demissão? Todos serão prejudicados ou, pelo menos, sentirão a sua ansiedade. E, claro, filho doente? Sua produtividade cairá de forma significativa e, às vezes, isso afetará seu desempenho e, quando seu filho melhorar, seu trabalho estará pior. Por isso, é importante aprender a filtrar a variação, para não ampliá-la.

Acredite, sua plenitude precisará ser alcançada sem que tudo esteja no melhor cenário possível. Terá de usar a energia de um, para encarar o desafio do outro. Sem isso, a sua saúde mental poderá ir se deteriorando, pois você começará a sentir que não tem nada sob controle. E, claro, quanto maior for a sua disciplina e a sua capacidade de se manter motivado, maior serão as chances de manter as coisas sob controle e sua saúde mental em dia.

Cuidado com os desvios

Para tentar deixar os pratos em equilíbrio, é fundamental se blindar das pressões. Como mencionei, se deixar sua ansiedade transparecer, rapidamente haverá um contágio. Se, na empresa, a pressão subir para níveis inaceitáveis, como trabalhar fora do expediente ou sem hora chegar em casa, sua família vai sofrer. Se os membros dela não o apoiarem, você não conseguirá lidar e uma falha catastrófica acontecerá. E, ainda, se a família esticar demais os gastos ou a sua exigência de tempo e atenção, será impossível manter a dedicação ao trabalho. Neste caso, para não perder o colaborador, o negócio precisa pisar em ovos e ajudá-lo a equilibrar a balança. Não fazendo isso, mais uma vez, falhas acontecerão e podem culminar em consequências, como uma demissão.

Na minha percepção, estabelecer limites e acordos claros é fundamental para a manutenção de sua saúde mental. Quando estava num trabalho com mensagens e e-mails que chegavam todo domingo para ajustes inúteis nas apresentações da semana, pedi demissão. E, quando senti que o relacionamento me pressionava para ir contra as minhas metas e valores, terminei. Apesar de duras, essas duas decisões foram acertadas. E hoje, quase aos 40, vejo o quanto foram e ainda são importantes.

Para viver bem, determine acordos justos e os reveja a cada mudança na sua vida. Seja firme. Qualquer desvio neles o levarão à exaustão e a deterioração de sua saúde mental.

Virgilio Marques dos Santos (Foto: Isaque Martins) é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.


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