Estudo indica que pterossauros tinham comportamento semelhante ao de aves atuais

Em novo estudo publicado no periódico científico internacional Historical Biology, pesquisadores do Museu Nacional/UFRJ, Universidade Regional do Cariri/URCA e Universidade do Contestado/UNC, identificaram por meio de análises paleohistológicas – estudo miscroscópico da composição dos ossos fossilizados – que a maior parte dos fósseis da espécie de pterossauro Caiuajara dobruskii, pertencia a indivíduos que estavam em seus primeiros anos de vida. De acordo com a pesquisa estes animais tinham comportamento de segregação, como fazem os juvenis de muitas aves atuais.
O Caiuajara dobruskii era um pterossauro de pequeno porte, com uma envergadura que podia variar de 0,65 m a 2,35 m, que viveu durante o período Cretáceo (~90-70 milhões de anos). Descoberta em 2014, essa espécie foi encontrada no interior do Paraná, em rochas do município Cruzeiro do Oeste e representou um importante achado para a paleontologia nacional. Essa foi a primeira vez que esses répteis alados foram encontrados fora da região nordeste, no local do achado, estavam presentes centenas de ossos dessa espécie.
“Pela primeira vez foi feito um estudo paleohistológico com um número expressivo de ossos de um pterossauros e isto só foi possível dada a abundância de registros desta espécie, um cenário normalmente raro para os paleontólogos que estudam os pterossauros” – comenta o aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Zoologia (PPGZoo), Esaú Araújo, líder da pesquisa. Com um bom número de amostras, foi possível compreender a partir das microestruturas dos ossos, o grau de desenvolvimento dos indivíduos, sua taxa de crescimento, fisiologia e aspectos comportamentais.
A técnica aplicada no estudo
Denominada paleohistologia essa técnica tem sido empregada extensivamente nos estudos paleontológicos mais atuais, seu objetivo é extrair fragmentos dos ossos, que são então preparados em lâminas até que estejam finos ao ponto de permitir a visualização em microscópio óptico. “A partir da observação e interpretação das microestruturas das células ósseas, conseguimos compreender uma série de questões relacionadas a fisiologia e biologia dos animais extintos, o que não seria possível visualizando apenas olhando a anatomia do osso”, relata a Paleontóloga do Museu Nacional Juliana Manso Sayão, uma das orientadoras da pesquisa desenvolvido Araújo e especialista nessa linha de pesquisa. Por se tratar de uma técnica relativamente destrutiva, estudos deste tipo por vezes não podem ser realizados em fósseis menos abundantes.
Na constituição óssea do Caiuajara dobruskii foi observado um córtex ósseo extremamente fino com a presença de um complexo ósseo tecidual denominado fibrolamelar. O padrão em questão, é bem conhecido na literatura, estando presente em diferentes espécies de pterossauros. Este tipo de tecido ósseo sugere que o C. dobruskii apresentava taxas de crescimento altas, o que faz com que seu crescimento seja comparável ao das aves atuais. Ele crescia a um ritmo superior ao de outras espécies de pterossauros, como espécies da China, Argentina e Alemanha que foram comparadas ao longo da pesquisa.
Desde o princípio dos achados do Caiuajara, a grande quantidade de indivíduos associados a espécie intrigou os pesquisadores. “Identificar o grau de desenvolvimento (estágio ontogenético), foi um fator importante para compreender porque tantos indivíduos estavam presentes naquela localidade, ainda mais se considerarmos o ambiente desértico dominante na região há aproximadamente 80 milhões de anos”, comenta o Geólogo Luiz Carlos Weinschutz da Universidade do Contestado. Os pesquisadores constataram que a maior parte dos exemplares, cerca de 80% da amostra, pertencia a indivíduos ainda em estágio juvenil. Deste modo, muito possivelmente os pterossauros usaram a localidade, hoje pertencente ao município de Cruzeiro do Oeste no Paraná, como ponto de reprodução (breeding point). “Além disso, estes pterossauros quando juvenis, aparentemente ficavam reunidos em grupos, um comportamento também visto em aves atuais. Esta estratégia de agrupamento dos juvenis é denominada “creching”, e costuma ser um mecanismo de sobrevivência que permite melhor regulação da temperatura e proteção dos juvenis contra predadores”, enfatiza Araújo.
“Esse trabalho é fruto da união de cientistas de diferentes instituições que, além da descoberta, estão auxiliando na reconstrução do Museu Nacional/UFRJ. Vale destacar que os resultados desta pesquisa são oriundos do mestrado do primeiro autor Esaú Victor de Araújo, então contemplado pela bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Isto demonstra a importância dos investimentos que são feitos a partir das bolsas de pós-graduação às universidades públicas brasileiras. E é mais uma demonstração de que o Museu Nacional Vive”, afirma Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional/UFRJ.