Cuidado para não se tornar um profissional anacrônico

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Por Virgilio Marques dos Santos

Na era do conhecimento e das grandes mudanças que vivemos, tenho certeza, você deve conhecer profissionais anacrônicos. Mas antes de começarmos, vamos à definição: anacrônico, segundo o dicionário Michaelis, é que está em desacordo com os usos e os costumes de uma época; antiquado, arcaico, desusado. Ou, que é antiquado ou contrário ao que é moderno; extemporâneo, obsoleto, retrógrado, ultrapassado. E aí, identificou o perfil?

Na definição de anacrônico, não há menções à idade. Conheço vários profissionais na casa dos 60 que estão super atualizados com os usos e costumes da nossa época. Aliás, a experiência dessas pessoas é de extrema importância para reduzir a ansiedade quando algo começa a não dar certo na empresa. Entretanto, conheço muitos profissionais anacrônicos que são contemporâneos a mim. Ou seja, um moderno millennial de outras épocas pode ter se tornado um profissional ultrapassado.

Como se caracteriza o profissional anacrônico?

Na minha percepção, a caracterização se dá pelo apego ao modo como as coisas são feitas e pela resistência às mudanças. É comum, ao conversar com eles, ouvir reclamações de como as coisas eram boas e, hoje, estão ruins. Coordenadores comerciais dizem que seus vendedores não têm a eficiência de antigamente. Que lá atrás, bastava uma lista telefônica e vontade para conseguir aumentar o número de clientes. Hoje, os vendedores têm medo de pegar no telefone e não sabem convencer os prospects a fechar com eles. Tais afirmações mostram que o processo usado por esse profissional está totalmente obsoleto frente à maneira como as pessoas se comunicam hoje.

Visitando algumas agências de publicidade, vi que esse setor era um pródigo celeiro dos anacrônicos, dada sua constante evolução e mudança nos últimos tempos. Termos como site responsivo – “campanha de e-mail marketing certeira” e “coloco você no topo do Google” – eram recorrentes. Quero destacar que esses conhecimentos são importantes, mas não como foram no passado recente. E se apegar ao que deu certo em 2015 não fará você ter sucesso hoje.

Na área de marketing, posso falar que minhas primeiras experiências aconteceram sem querer lá atrás, em 1999. Estava no 1º colegial (anacronismo, pois é primeiro ano do ensino médio) e resolvi, junto com um colega de classe, elaborar um site para compartilhar as “zueiras” das turma. Na época, era algo complicado de fazer, mas fácil de indexar no Cadê e Alta Vista (jovens, havia outros buscadores antes do Google. Acreditem). Entretanto, se fôssemos pegar as técnicas que usávamos em 1999 e tentássemos fazer a mesma coisa, além de não conseguir subir o site, teríamos problemas com o conceito de zueira da época, muito amplo para o comportamento atual.

Depois de 1999, tive várias experiências com a criação de sites e, para conseguir gerar tráfego, me reinventava todo ano. Começamos pelo Frontpage da Microsoft. Depois, peguei a geração hpg ou home page grátis, onde tive as noções de html e usei a ferramenta visual para fazer meu segundo site sem ajuda e investimento. Depois, fui para o WordPress e seus maliciosos plugins. Enfim, a cada evolução tinha que me reinventar para continuar fazendo a mesma coisa, senão iria me tornar anacrônico.

O mesmo foi com o marketing dos sites. A cada rodada, a coisa mudava completamente. No início, a preocupação era única e exclusiva com o conteúdo. Depois, com sua divulgação compartilhando nas redes sociais. Em seguida, era só elaborar postagens para o blog de forma recorrente, sem preocupação com SEO. Evolui para blog e SEO, em seguida para links patrocinados, fórmulas de lançamento, e por aí vai até onde estamos agora. E, tenho certeza, não iremos parar por aqui.

A empresa anacrônica

Se há profissionais assim, há empresas na mesma condição. Muitos líderes e empresários que tiveram êxito em algum momento utilizando determinadas técnicas e ferramentas pensam que isso funcionará para sempre. E, quando a coisa começa a desandar, apelam para mais do mesmo. A ISO 9001, na década de 80, bastava para classificar uma metalúrgica como sinônimo de qualidade. Hoje, não mais. Veja bem, a ISO 9001 não deixou de ser importante, mas ela não será mais a garantia de sucesso do negócio.

Quem trabalhava com a área de vendas deve entender que a automação e o robôs vieram para ficar. Seus processos precisam introjetar as novas tecnologias para potencializar seus números, pois um vendedor não consegue realizar 1000 contatos diários. Na propaganda, é necessário recorrer ao marketing digital – e esse dificilmente dará certo sem conhecimento estatístico. O canal migrou da arte e da beleza para o teste e a comunicação nichada.

Na área financeira, deve-se primar pela padronização e pelo compromisso com as melhores práticas. O que era prática comum na década de 90, não faz mais sentido agora. Lá atrás, sonegação de impostos era prática comum em muitas empresas; hoje, pela informatização dos órgãos de controle, é uma atividade de alto risco fadada ao fracasso. Porém, o tema que era restrito aos contabilistas e advogados tributaristas, hoje faz parte das leituras e pesquisas dos sócios.

Enfim, por mais que alguns negócios ainda consigam se manter permanecendo como cápsulas do tempo, tendo na liderança e nos quadros profissionais vivendo como no passado, lembrem-se: “é você que ama o passado e que não vê que novo sempre vem”. Termino o texto de hoje com essa frase de Como Nossos Pais, do grande Belchior. Essa letra, apesar de antiga, não é nada anacrônica. E, se estiver em uma cápsula do tempo, reflita: vale a pena esperar as coisas não funcionarem mais ou buscar o conhecimento atual para ser à prova de falha?

Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.


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