Hotéis e peixaria: saiba onde Bolsonaro gastou R$ 27 milhões

OIP (8)

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve os gastos com o uso do CPGF (Cartão de Pagamento do Governo Federal), conhecido como cartão corporativo, divulgados pela Lei de Acesso à Informação. Eis a íntegra (29 MB). As informações também foram divulgadas no site do governo.

Os dados mostram os valores utilizados durante os 4 anos de mandato. Em resumo, as despesas foram com hospedagens, lanchonetes e em uma peixaria localizada na Feira do Guará, no DF, onde o ex-presidente deixou R$ 312.053,03.

Segundo os dados divulgados, Bolsonaro passou ao todo R$ 27.621.657,23 no cartão corporativo. Considerando a correção pela inflação, o montante vai a R$ 32.659.369,02.

A despesa mais alta é com a Hotour São Paulo Participações e Empreendimentos, responsável pelo gerenciamento do Ferraretto Hotel, em São Paulo, que recebeu R$ 1.466.804.41 do Governo Federal, sem correção monetária do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Outros gastos que chamam a atenção são em duas redes de supermercados, que aparecem no 2º e 3º lugar no ranking de maiores despesas.

A Companhia Brasília de Distribuição, dona do Pão de Açúcar, recebeu R$ 1.124.737,04. Em seguida, a Briga Trans Comercial de Alimentos S/A, da rede Big Box, com R$ 815.384,44.

Gastos de outros presidentes

Bolsonaro não foi o que mais utilizou o cartão corporativo. O valor final de uso em seu governo foi inferior aos gastos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos mandatos anteriores. Também fica abaixo do valor utilizado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em seu 1º mandato. 

Leia os gastos de todos os presidentes com o cartão corporativo desde o 1º mandato de Lula, corrigidos pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) anual:

  • Lula 1 – R$59.075.679,77;
  • Lula 2 – R$47.943.615,34;
  • Dilma 1 – R$42.359.819,13;
  • Dilma 2 – R$10.212.647,25;
  • Temer – R$15.270.257,50;
  • Bolsonaro – R$32.659.369,02.
Hotéis e peixaria: leia onde Bolsonaro gastou R$ 27 milhões

Bolsonaro

Há registro de ao menos 21 CPFs (Certidões de Pessoas Físicas) diferentes tendo feito gastos no cartão de Bolsonaro durante o mandato. A 1ª despesa foi realizada em 4 de janeiro de 2019 –uma compra de R$ 303,78 em uma rede de supermercados em Brasília. A última, em 4 de dezembro de 2022, curiosamente, também foi feita no mesmo estabelecimento, ao custo de R$ 54,66.

No caso do ex-presidente, o uso do cartão predominou em gastos com hospedagem, que concentraram 49,5% do total. Nove das 10 maiores despesas do cartão de Bolsonaro foram feitas em hotéis do Guarujá, que costumava frequentar e tirar foto com apoiadores em períodos de descanso. Em um dos estabelecimentos, o ex-presidente gastou valores próximos a R$ 1,5 milhão.   

Na sequência, gastos tipificados em gêneros de alimentação concentram quase ⅕ (19,9%) das despesas de Bolsonaro. Em uma viagem que fez a Roraima, em 26 de outubro de 2021, há registro de um pagamento de R$ 109.266,00 em um restaurante de Boa Vista especializado em marmitas e frangos assados.

Há ainda gastos de R$ 714.248,41 em postos de gasolina, R$ 31.440 em excesso de bagagem e R$ 1.809,94 em um pet shop entre fevereiro e abril de 2022. Esses valores não estão reajustados pela inflação. 

Hospedagem lidera

O uso do cartão para gastos com alojamento foram os mais comuns na fatura dos cartões corporativos presidenciais de 2003 até aqui –com exceção do 1º mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de 2003 a 2006, quando aluguéis de transporte representaram 47,8% do total. 

No ranking de 10 maiores gastos do cartão nos últimos 20 anos, 6 são de Bolsonaro, 1 é de Lula (2008), 2 são da ex-presidente Dilma Rousseff (ambas em 2014, no final de seu 1º mandato) e outra é do ex-presidente Michel Temer, em 2016. Todos são referentes a despesas de hospedagem.

Cartão corporativo 

O CPGF foi criado em decreto por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2001. Segundo o Portal da Transparência, o cartão corporativo é previsto para:

  • atender a despesas de pequeno vulto (aquelas que não ultrapassem o limite estabelecido na Portaria MF nº 95/2002);
  • atender a despesas eventuais, como viagens e serviços especiais, que exijam pronto pagamento;
  • executar gastos em caráter sigiloso.


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