Colaborador próximo de Bento XVI expõe tensões com Francisco

O arcebispo alemão Georg Gaenswein beija o caixão do papa Emérito Bento XVI no início da missa fúnebre na Praça de São Pedro em 5 de janeiro de 2023
© Filippo MONTEFORTE

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O colaborador mais próximo de Bento XVI publica nesta quinta-feira (12) um aguardado livro que revela tensões entre o papa emérito, falecido há menos de duas semanas, e o seu sucessor Francisco.

O livro, intitulado ‘Nient’altro che la verità. La mia vita al fianco di Benedetto XVI’ (Nada além da verdade. Minha vida com Bento XVI), de Georg Gänswein, narra a ascensão ao trono de São Pedro de Joseph Ratzinger, seu pontificado (2005-2013) abalado por escândalos e sua aposentadoria em um mosteiro, após sua renúncia surpreendente. 

O Vaticano não reagiu oficialmente às críticas de Gänswein ao papa argentino – divulgadas na imprensa  – mas o prelado alemão de 66 anos foi convocado para uma audiência a portas fechadas com Francisco na segunda-feira. 

Gänswein disse que Francisco “partiu o coração” de seu antecessor ao reverter sua decisão sobre o uso do latim nas missas.

Bento XVI, que morreu em 31 de dezembro aos 95 anos, era considerado um símbolo da ala mais conservadora da Igreja Católica, que vê Francisco como uma figura muito progressista.

– “Afastado do mundo” –

Gänswein foi secretário particular de Ratzinger desde 2003, antes mesmo de sua eleição como papa, e como tal foi uma testemunha privilegiada do que aconteceu nos bastidores de seu pontificado. 

No funeral do papa emérito, foi ele quem recebeu os visitantes na capela funerária localizada na Basílica de São Pedro. 

E na despedida final, presidida por Francisco, beijou o caixão de seu mentor diante de milhares de fiéis. 

O prelado não economiza em questionar o atual líder da Igreja, que é seu superior direto, expressando a perplexidade que Bento XVI sentiu a respeito de algumas decisões de seu sucessor.

Depois de sua renúncia em 2013, a primeira de um pontífice desde a Idade Média, Bento XVI prometeu viver “afastado do mundo”, mas interveio várias vezes em questões explosivas, como quando se pronunciou a favor da manutenção do celibato dos padres em 2020. 

Gänswein afirma que depois desse episódio Francisco o privou de suas funções executivas como prefeito da Casa Pontifícia da Santa Sé, embora ele tenha mantido o cargo. 

Francisco disse a ele, segundo Gänswein: “A partir de hoje, fique em casa. Acompanhe Bento que precisa de você e aja como um escudo.” 

Quando contou a Bento XVI o que havia acontecido, ele respondeu: “Aparentemente, o papa Francisco não confia mais em mim e fez de você meu vigia”.

Sua estreita relação com Bento XVI gerou inveja, afirma em suas memórias. Já seus laços com Francisco sempre foram frios, e é improvável que a publicação do livro polêmico os melhore. 

Segundo observadores do Vaticano, o pontífice argentino poderia nomear Gänswein como embaixador, para afastá-lo da Santa Sé e de suas intrigas.


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