Sopravam os ventos carregados de benesses para o incipiente município que nascera, em 1952, já com o nome imponente de Astorga. Para a inauguração de uma agência do Banco Noroeste, aqui chegou Luiz Toffoli para acompanhar seu irmão o gerente de banco Osvaldo Toffoli, que veio com a incumbência de proceder à inauguração da referida agência bancária. Iniciava-se, naquele momento, a que se transformaria na trajetória de vida do Luiz, o qual já denomino de lendário, se me permitem.
Mas, vamos nos reportar às origens, lembrando que Luiz nasceu em Quatá, estado de São Paulo, em 19/05/1930, um dos doze filhos/as de Humberto José Toffoli e Palmira Ferracini Toffoli, descendentes de imigrantes italianos. Membro de uma família numerosa, comum naquela época, Luiz viveu até os 22 anos de idade em sua terra natal. Contudo, ao chegar aqui na região, o jovem imediatamente percebeu que esse novo estado, o Paraná, era uma terra com muitas oportunidades. Resolveu fixar residência aqui.
Havendo decidido trabalhar por conta própria em Astorga, por ter gostado do lugar, naquele mesmo ano, nos idos de 1952, montou uma vulcanizadora de pneus em uma área central da cidade. Rapidamente ficou conhecido pela sua dedicação ao trabalho e, também, por ter muita força física.

Eram bastante comuns suas demonstrações de força e coragem, quando atraía uma grande plateia, seja jogando pneus em cima das carrocerias de caminhões, segurando Jeeps em movimento em parceria com seu irmão Wilson, ou arrebentando correntes. Suas performances garantiam a diversão dos populares. Quando algum desavisado ousava desrespeitá-lo, podia se preparar para levar uma surra; defendia os amigos com seus braços poderosos, ai de quem mexesse com algum de seus companheiros, corria sério risco de receber uns bons sopapos e sair envergonhado.

Conheceu, em Astorga, aquela a quem dedicaria sua vida, seu amor e com quem iria se casar, Maria de Lourdes Monteiro Lara. Na época, Lurdinha, que exercia o ofício de costureira, jovem e linda, acabara de ser eleita Rainha do Clube São Paulinho, situado no local onde atualmente encontram-se as edificações do Hospital Cristo Rei.

Ela namorava outro rapaz, mas quando conheceu o jovem Luiz, seus corações bateram em uníssono e ela deve ter pensado, esse é o príncipe que sempre esperei e ele certamente ficou inebriado de felicidade pelo olhar que lhe endereçou tão formosa moça. Cupido agiu rapidamente: Lourdes apaixonou-se por ele e continuam se amando até hoje, numa união duradoura e digna de nota, iniciada no século passado e que já deveria estar predestinada para ser vivida pelo nobre casal.

O casamento, cujos festejos duraram uma semana, foi realizado em Astorga no dia 26 de dezembro de 1959 e dava mostras do que seria a vida deles em comum. Já na vanguarda, quando os nubentes que contraíam matrimônio, ficavam na própria cidade, os recém-casados, Lourdes e Luiz foram passar a lua de mel em Londrina, que já despontava como uma das principais cidades do norte do estado do Paraná.
Luizão integrou a Associação Atlética de Astorga, jogando na posição de zagueiro e os adversários morriam de medo dele. Contudo, embora dotado de força e agilidade, gostava mesmo era de jogar e não agredia ninguém em campo. Tempos depois, passou a exercer a arbitragem e por agir com justiça e ética, sempre contou com o respeito dos atletas. Atuou como árbitro de Futebol de Campo e de Futebol de Salão em memoráveis clássicos havidos na cidade, quando Astorga recebia times de cidades vizinhas e até de outros estados.
Muito habilidoso e acolhedor, utilizando sua capacidade de improvisar e os conhecimentos adquiridos ao longo de décadas, Luiz consertava praticamente tudo e seu endereço sempre foi conhecido pelo fato de saberem que ele, com a maior boa vontade reparava desde pequenos objetos, brinquedos e demais utensílios quebrados, até as coisas mais inusitadas como próteses, como aconteceu ao menos uma vez.

Recebeu o apelido de Mac Gyver, em alusão ao personagem da série televisiva americana, o qual possuía um talento extraordinário para solucionar problemas, sendo que o seriado foi exibido no Brasil, de 1985 a 1992 e era muito apreciado pelas pessoas.
Empreendedor e motorista experiente adquiriu um veículo utilitário, muito popular na época, a famosa Kombi. Com essa perua, conduzia pessoas de Astorga para excursões a diversos pontos turísticos do Estado e de outras regiões, executando as tarefas de condutor e de guia turístico. Suas viagens mais frequentes eram para Aparecida do Norte, pois o povo de Astorga era e ainda é de maioria católica e há muitos devotos da Padroeira do Brasil.
Sem receio de ousar, exerceu diversas atividades profissionais, foi proprietário de uma oficina mecânica, onde hoje ficam as instalações da Caixa Econômica Federal; em seguida exerceu a função de gerente da Agência da Volkswagen, cujo proprietário era o Dr. Ari Silva; trabalhou para a Cooperativa Agrícola de Astorga – COCAFÉ, quando da implantação da Destilaria da COCAFÉ III, tendo participado da construção, realizado a instalação do maquinário e supervisionado o funcionamento. Ao sair da COCAFÉ, empenhou-se naquele que seria seu último trabalho formal e no qual se aposentaria.

Entusiasta, passou a trabalhar na fábrica PILOKA Confecções idealizada pela proprietária Elza Formigari, na época empresária do segmento da moda, quando realizava a montagem e manutenção das máquinas de costura.

Luiz, autodidata, por essa ocasião participou de um curso de aperfeiçoamento em máquinas industriais, para especializar-se frente aos novos desafios. Sempre investindo no próprio aprendizado e na busca de inovações.
Em dezembro de 2004 foi agraciado com o título de Comendador, recebendo a Comenda da Ordem Municipal do Brasão, conferida pela Prefeitura Municipal de Astorga, a pessoas ilustres do município.
No ano de 2016, quando a família e os amigos imaginavam que Luiz iria, finalmente, dedicar-se apenas ao merecido ócio, após uma vida voltada ao trabalho, eis que este dá início, juntamente com sua esposa dona Lurdinha, à carreira de modelo. Era o dia 09 de junho, quando passou a exercer uma nova e desafiadora atividade profissional, dotado do entusiasmo genuíno que sempre o caracterizou, nela atuando até 28/12/2020, momento em que por questões de saúde, optou por dar uma pausa. Participou de comerciais que foram exibidos em redes televisivas, de inúmeras sessões de fotos, trabalhou, divertiu-se, fez amigos e encantou adultos, jovens e crianças.
Prestes a completar 91 anos de idade, segue sua vida em Astorga, colhendo os frutos do reconhecimento, expressos por sua família, parentes, amigos e conhecidos, pelo herói que sempre foi e continuará a ser, eterno exemplo de dignidade, de caráter ilibado e de compromisso com a cidade onde decidiu viver e pela família que constituiu: duas filhas, um filho, quatro netos e um bisneto. Decidiu que seus filhos, os três iriam estudar e, para isso não mediu esforços; estudar, para ele, significava ser formado em um curso de nível superior. Sente-se emocionado e grato pelos três terem concluído os cursos superiores que escolheram.
Li, em algum lugar, há muito tempo que, legado é aquilo que a pessoa constrói, em geral sem nenhum aplauso, fruto de um conjunto de eventos realizados no decorrer de uma trajetória. Luizão prossegue pavimentando sua existência com um legado de valorização do trabalho, honestidade, respeito ao próximo e dedicação à família e à sua esposa, com quem vive há 62 anos. Ofertará como herança imperecível, as lições de vida, experiências e solidariedade ao próximo que suas filhas e filho, netos e bisnetos irão carregar por toda a vida e que, certamente, influenciarão suas escolhas.
Segue, trilhando seu caminho e enfrentando o vento…

Nota: Gratidão à Márcia Nalu a presteza e alegria com que me enviou alguns dados relativos a seu pai, para que eu pudesse escrever com fidedignidade essa biografia. Agradeço, também, à Meiri pelas informações complementares e incentivo.


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