Sistema inédito de previsão de eventos climáticos traz avanço na gestão de hidrelétricas
Ferramenta desenvolvida pelo Lactec e financiada pela Norte Energia coleta dados e gera análises em tempo real sobre previsões de chuva-vazão nas hidrelétricas
A crise hídrica atingiu milhares de brasileiros entre 2020 e 2021, a pior em 91 anos de monitoramento das bacias hidrográficas do país. Neste período, houve longos períodos de racionamento de água e aumento da conta de luz com a bandeira Escassez Hídrica, que adicionou R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos.
Porém, essa situação não deveria ser uma surpresa, uma vez que é possível prever as estações mais secas e a influência de fenômenos naturais na dinâmica das chuvas. Uma pesquisa desenvolvida pelo centro de pesquisa, tecnologia e inovação, Lactec, analisa os extremos climáticos e a sua influência no setor elétrico, especialmente na relação entre chuva e vazão das usinas hidrelétricas. Este projeto faz parte do programa de P&D ANEEL e é financiado pela Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, reafirmando seu alinhamento à política global de prevenção e adaptação às mudanças climáticas.
O pesquisador e engenheiro ambiental João Paulo Jankowski Saboia, responsável pelo projeto, ressalta que a geração hidrelétrica continua sendo a maior parcela da matriz energética brasileira. Portanto, a oferta de energia está diretamente ligada à disponibilidade hídrica. “Por este motivo, a segurança energética do Brasil é suscetível a variações climáticas, sobretudo à ocorrência de eventos extremos de precipitação, principalmente longos períodos de secas, como observado na bacia do Paraná na última crise hídrica de 2020-2022”, observa.
Estudo de extremos climáticos
O projeto desenvolvido pelo pesquisador é dividido basicamente em quatro grandes grupos, que se propõem a lançar um olhar para o passado (análise de séries históricas), para o futuro (projeções baseadas em cenários de mudanças climáticas) e para as relações chuva-vazão. Além disso, ao final do projeto, será desenvolvido um sistema capaz de fazer análises, gerar estimativas em tempo real e projeções.
De acordo com Saboia, ao olhar para o passado e utilizar um índice de precipitação padronizada, será possível entender quando ocorreram os extremos e estudar possíveis relações com fatores naturais (como variações climáticas naturais interanuais e interdecadais) e antrópicos (mudanças no uso do solo e uso consuntivo – retirada de água de mananciais).
O projeto pretende analisar como essas alterações podem afetar a oferta hídrica no cenário nacional. Com isso, será produzido um sistema que realizará periodicamente a coleta de dados de maneira automatizada, se mantendo sempre atualizado. Além disso, irá produzir análise dos dados e projeções de vazões naturais com os cenários de mudanças climáticas considerados.
“Desta forma, será uma ferramenta importante que pode contribuir com toda a rede de concessionárias de energia, oferecendo subsídios para avaliar de que forma as mudanças climáticas podem afetar a vulnerabilidade do sistema elétrico nacional”, finaliza o pesquisador.
A pesquisa aprofundará o conhecimento das mudanças climáticas sobre as bacias hidrográficas do Brasil viabilizando que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) realizem análises de sensibilidade de condições extremas no planejamento da operação e do planejamento da expansão do sistema elétrico brasileiro.
Sobre o Lactec – O Lactec é um dos maiores centros de pesquisa, tecnologia e inovação do Brasil. Atua fortemente nos mercados de Energia, Meio Ambiente, Indústria, Mobilidade Elétrica e Conectividade em todo o ciclo de inovação; desde P&D, ensaios e análises até a execução de processos complexos para o setor de infraestrutura. Há mais de 60 anos, suas soluções e serviços atendem às demandas atuais dos diversos setores produtivos da economia brasileira, como empresas, indústrias e concessionárias de energia.