Professores são protagonistas no direito de crianças e adolescentes à educação

Segundo dados do PISA, divulgados pela OCDE, 80% dos estudantes brasileiros receberam informações sobre aprendizagem, pelo menos uma vez ao mês durante a pandemia, enquanto a média global foi de 65%

Neste mês de dezembro (dia 10) a Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 75 anos, instrumento que prevê que as nações assegurem, por meio do ensino e da educação, a adoção de medidas progressivas para o reconhecimento dos povos e de seus territórios. No Brasil, apesar de todos os desafios, os professores desempenham um papel de protagonistas nos esforços para que crianças e adolescentes tenham acesso ao direito da educação. 

O empenho nesse sentido está refletido no relatório do Pisa (Programa Internacional de Avaliação do Estudante) divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). No Brasil, 80% das famílias responsáveis pelos estudantes receberam dos docentes as informações sobre a aprendizagem pelo menos uma vez por mês. A média em países integrantes da OCDE foi de 65%.

O documento confirma ainda que os alunos que receberam maior apoio dos professores tiveram menor queda na performance em matemática. No Brasil, 72% dos estudantes contaram com esse acompanhamento por parte dos docentes. O estudo foi realizado durante a pandemia da Covid-19, período em que os professores foram mais desafiados a promover acesso à educação dentro das possibilidades existentes.

“Com apenas um terço de investimento na educação por estudante, quando comparado à média dos países da OCDE, o Brasil, infelizmente, segue perto das últimas posições do ranking global sem apresentar evolução significativa nos últimos dez anos. Apesar desse cenário, a dedicação dos professores em garantir acesso à educação aos estudantes foi o que assegurou que o desempenho escolar não caísse ainda mais, mesmo com quase um ano de aulas remotas”, diz a gerente de Implementação do Itaú Social, Cláudia Sintoni.

O Pisa é um exame global que avalia o desempenho dos estudantes em matemática, leitura e ciência. A última edição contou com a participação de 81 países. O estudo não verifica apenas se os estudantes conseguem reproduzir conhecimentos, mas também até que ponto eles são capazes de aplicar esse aprendizado em diversas situações, dentro e fora da escola.

Histórias

Conheça iniciativas inovadoras e de ações de acolhimento à comunidade escolar realizadas por professores em diversas partes do país, que são determinantes para garantir o direito da criança, adolescente e jovem ao ensino de qualidade de matemática, língua portuguesa e ciências.

Matemática

Ensino de matemática por meio de jogos melhora desempenho dos estudantes

Edjane Pereira da Costa Mello, professora de Itapevi (SP)

Ensinar matemática de maneira divertida e lúdica foi a opção adotada pela professora Edjane, da Escola Maestro Heitor Villa Lobos. Utilizando jogos de conta, como a mancala (brincadeira de tabuleiro com captura de peças do adversário), o resultado apareceu logo nos primeiros meses com o despertar do interesse dos alunos para a disciplina, como Richard Custódio Afonso. O estudante, que tinha dificuldade em participar das aulas, se tornou mais dedicado aos estudos após a iniciativa, conquistando prêmios em concursos escolares, como o segundo lugar no campeonato Jogomat (Jogos Matemáticos), realizado pela USP (Universidade de São Paulo).

Mãe destaca importância do ensino da matemática inovadora e inclusiva

Roberta Gledsa, mãe do estudante João, de Vespasiano (MG)

O acolhimento de estudantes com deficiência é um desafio histórico que escolas públicas lidam no cotidiano. “Eu já pensei várias vezes em tirar meu filho da escola”, diz Roberta Gledsa, mãe de João, estudante de dez anos diagnosticado com AMC (artrogripose múltipla congênita). Sua permanência foi garantida por meio de iniciativas pedagógicas que o acolheram, como a abordagem Mentalidades Matemáticas, que promove o ensino de forma criativa e valoriza as diferentes maneiras de pensar a disciplina. “Antes, o João tinha medo de matemática. Porém, nas primeiras aulas ele compreendeu que havia infinitas possibilidades para se aprender a disciplina. Isso trouxe a ele outra visão e despertou o interesse pela matemática”.

Professora investe em projeto que relaciona ensino da matemática e manifestações negras

Cristiane Coppe de Oliveira, professora de Uberlândia (MG)

Como forma de aproximar a matemática do cotidiano dos estudantes, a professora Cristiane Coppe desenvolveu um curso para outros docentes sobre como abordar a disciplina valorizando a cultura local e as relações raciais. O conteúdo é inspirado no método Modelagem Matemática, que destaca a cultura negra, contribuindo para estimular os alunos no desenvolvimento do pensamento crítico, da autonomia e da participação ativa das atividades em sala de aula.

Português

Professora ensina português para estudantes indígenas por meio da literatura

Jeane Almeida da Silva, professora da rede pública de Normandia (RR)

Para ensinar português aos estudantes da Escola Estadual Indígena Índio Marajó, localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, a professora Jeane Almeida compreendeu que é necessário trazer a cultura do território para dentro da sala de aula. Em razão das famílias dos alunos não terem sido escolarizadas, os estudantes expressam diversas variações orais do idioma. Para lidar com esse desafio, a docente mobilizou a criação de uma biblioteca para a escola com livros de autoria indígena, sendo muitos deles utilizados em sala de aula como forma de aproximar o conteúdo pedagógico do convívio dos adolescentes.

Batalhas de rimas despertam interesse do estudante na leitura

Lais Freitas, professora de língua portuguesa do Ensino Fundamental e Médio de Embu-Guaçu (SP) 

Despertar o interesse dos estudantes pela literatura por meio da arte foi o objetivo da professora de língua portuguesa Laís Freitas. Com seu projeto “Slam” e a realização de saraus na escola, os adolescentes se encantaram e passaram a consumir obras literárias e a escrever poesias, seja para participar dos eventos culturais ou até para registro pessoal.

Concurso escolar marca trajetória profissional e de vida de estudante

Laura Helena Amorim, escritora e ativista de Piracicaba (SP)

Após participar e vencer um concurso entre escolas em 2019, a estudante Laura Helena Amorim recebeu o incentivo que lhe faltava para investir na carreira profissional no terceiro setor. “Desde que ganhei a medalha, prometi que não desperdiçaria esse reconhecimento. Hoje, sou redatora na Iniciativa Íris, organização sem fins lucrativos em apoio à comunidade LGBTQIAPN+”. A conquista de Laura serviu de exemplo para os colegas, que se sentiram motivados a participar de outras competições escolares.

Poema de estudante vence concurso e se torna livro digital

Nicole Rodrigues, estudante de Belo Horizonte (MG)

A poesia da estudante Nicole Rodrigues foi uma das produções premiadas no concurso nacional entre escolas públicas. O texto “Da Janela de Minas” se tornou um livro digital, oferecido gratuitamente na Estante Digital do “Leia com uma criança”, programa do Itaú Social. Desde sua participação, a aluna conta que seu interesse pela leitura e pela escrita cresce a cada dia. “Hoje, ler é uma terapia, por meio da qual conheço um universo novo, completamente diferente, valorizando o meu repertório”.

Professora estimula estudantes a transformarem o cotidiano de suas famílias pesqueiras em crônicas

Rosa Maria Martins, professora da Ilha da Torotama (RS)

Com o objetivo de valorizar a cultura do território, a professora Rosa Maria estimulou seus alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º) a escreverem sobre seu cotidiano em formato de crônica. O destaque dessas produções textuais foi a participação das mulheres na economia local e na organização social. “Cada estudante narrava o que chamava sua atenção. Nesse momento, surgiram muitas histórias envolvendo as mulheres da região, que ficavam em roda, conversando enquanto preparavam siris para serem vendidos”.

Ciência

Geografia é utilizada para colocar o convívio social como centro do debate pedagógico

Karla Annyelly Teixeira de Oliveira, professora de Goiânia (GO)

Sete escolas do estado de Goiás participaram do projeto “Nós Propomos! Goiás”, coordenado pela professora Karla Annyelly. A iniciativa incentiva os estudantes a apontarem soluções para os problemas em seus territórios, como buracos na rua, falta de praça, lixos acumulados, etc. Para identificar esses desafios, os alunos realizaram entrevistas com moradores do bairro, tiraram fotos e registraram as ocorrências. A partir desses dados, elaboraram mapas, construíram gráficos, escreveram textos para construir possíveis propostas às dificuldades da região.

Estudantes usam ferramentas digitais para recriar maquete do bairro onde moram

Eliane Schlemmer, professora da Universidade Vale do Rio dos Sinos, de São Leopoldo (RS)

Migrar a experiência do videogame e de outras tecnologias digitais para a sala de aula é uma das propostas do projeto coordenado pela professora Eliane Schlemmer. A iniciativa é composta pelo uso de ferramentas tecnológicas e da observação do cotidiano para elaborar conteúdos pedagógicos. Uma das atividades foi a saída do grupo de estudantes às ruas para observar os locais com o objetivo de recriar seu bairro com ajuda de um aplicativo. “Como o projeto era interdisciplinar, o professor de língua portuguesa ajudava com a narrativa, o de artes nas modelagens, o de matemática com os programas e o de história com os conhecimentos sobre a região.


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