Para valorizar e promover a multiplicação de negócios de impacto no Brasil – focados em resolver problemas sociais e ambientais – foi lançado na manhã de ontem o Prêmio Impactos Positivos, em parceria com a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpacto), articulação que reúne 26 organizações do setor público, iniciativa privada e sociedade civil. Conhecido como o “Oscar do Bem”, o Prêmio  pretende ser uma vitrine de negócios e organizações que estão participando do fomento ao empreendedorismo de impacto e seu ecossistema – em plena expansão no Brasil – composto por empreendedores, investidores, aceleradoras e incubadoras, organizações da sociedade civil, iniciativa privada e poder público.

“O Prêmio é importante porque reconhece iniciativas que estão dedicando o seu tempo e sua energia para a construção de soluções sociais e ambientais para o Brasil. Os empreendedores que se inscreverem no prêmio participarão também de um mapeamento dos negócios de impacto em uma plataforma que se conectará  ao Sistema Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Simpacto) e será lançada no próximo mês de junho, mobilizando os atores públicos e privados nos três níveis da federação”, destacou Lucas Ramalho, coordenador da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto. Também presente no evento, o líder de projetos econômicos e sociais do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Cristiano Prado, destacou a importância dos negócios de impacto para o cumprimento da Agenda 2030.  “A gente precisa da ajuda  dos negócios de impacto para poder cumprir esta meta ambiciosa da Agenda 2030. Os países em desenvolvimento necessitarão, juntos,  de 3,7 trilhões de dólares por ano em investimentos, segundo estimativas da OCDE. Uma parte disto pode vir do setor público, mas não vai ser suficiente. O engajamento do setor privado é essencial para a gente mover o Brasil e o mundo para onde a gente quer”, reiterou.

Atração de Investimentos para o Distrito Federal

Autor da Lei Distrital de Investimentos e Negócios de Impacto (Lei 6.832, de 26 de abril de 2021), o deputado distrital Rodrigo Delmasso falou sobre  a importância dos negócios de impacto para atrair investimentos e oportunidades para a capital federal.  “O Distrito Federal é a metrópole nacional com maior índice de desemprego de sua população, chegando a 14,8%. Mais de 300 mil pessoas todos os dias saem das suas casas para tentar uma oportunidade. Eu acredito que temos vocação para investimentos em negócios de impacto. Brasília está na rota para atrair energia limpa e sustentável, a cidade hoje tem 72 eletropostos públicos e este é um exemplo que pode ser levado para todo o país. Brasília está criando um ambiente favorável para ser a capital das oportunidades com negócios de impacto”, destacou.

Danilo Ferreira, subsecretário de Fomento ao Empreendedorismo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, também frisou a oportunidade de transformar o Distrito Federal em um pólo de inovação e empreendedorismo. “A Secretaria de Desenvolvimento Econômico está mobilizando atores diversos, da sociedade civil organizada, governo, instituições de ensino superior e setor produtivo como um todo para elaborar proposta de regulamentação da lei. A ideia é criar as condições para que o DF seja um polo de inovação e atração de negócios de impacto social, para trazer a geração de renda e emprego que esses negócios possibilitam. Um dos objetivos também, é fomentar o empreendedorismo em áreas que demandam soluções criativas e inovadoras para resolver os problemas sensíveis que a sociedade enfrenta, ambientais e sociais”, reiterou Danilo.

Oscar do Bem

Focados em promover uma economia inclusiva e sustentável, em que o impacto socioambiental positivo é tão relevante quanto o retorno financeiro, os negócios de impacto vêm se multiplicando no Brasil. O último mapeamento feito pela Pipe Social aponta a existência de 1.272 empreendimentos deste tipo no país, embora o número possa ser muito maior, já que existem também empreendimentos protagonizados por ONGs, cooperativas e startups de inovação que se confundem com a área de impacto. Somente na área de inovação são 22 mil startups em operação espalhadas em 78 comunidades de empreendedores, muitas delas trabalhando para promover soluções com conhecimento de ponta a problemas ambientais e sociais.

“Atuamos nesta agenda desde 2015, com uma capilaridade muito grande, apoiando e fazendo o papel de animação do ecossistema, o que está na raiz e na essência do trabalho do Sebrae. É uma satisfação enorme ver essa agenda composta pela diversidade de atores que temos hoje. Temos a missão de aumentar o número de negócios de impacto no Brasil e para isto é fundamental que tenhamos uma estratégia de reconhecimento destes negócios de impacto no país”, destacou Philippe Figueiredo. coordenador de Startups e Ecossistema de Inovação do Sebrae Nacional, durante o lançamento do Prêmio.

O Prêmio Impactos Positivos colocará os holofotes sobre este tipo de empresas e homenageará também os atores que trabalham para fomentar o ecossistema.  As inscrições para empreendedores e agentes do ecossistema de impacto serão abertas no próximo dia 13 de maio na plataforma www.impactospositivos.com, nas categorias negócios de impacto (empresas) e ecossistema de impacto (organizações, setor público, comunidades e outros stakeholders). A fase de votação por parte do público e da sociedade brasileira terá início em 5 de setembro. Os vencedores em cada categoria e todos os homenageados serão conhecidos na  cerimônia de premiação, que acontecerá no dia 24 de novembro, em São Paulo. “Quando criamos a plataforma Impactos Positivos em 2020, em pleno auge da pandemia, nosso principal objetivo era dar visibilidade às iniciativas que estavam impactando positivamente o nosso Brasil”, conta Gisele Abrahão, idealizadora da iniciativa.

Expansão do movimento no Brasil

Este tipo especial de empresas, em que o sucesso não é medido somente pelo lucro gerado em um determinado período, mas também pelo impacto positivo criado para as pessoas ou para o meio ambiente – foram instituídas a partir do movimento liderado pelo economista, ganhador do prêmio Nobel da Paz e pioneiro no tema empreendedorismo social, Mohammad Yunus, entre os anos 70 e 80. Ele é fundador do Grameen Bank e de outras 50 empresas em Bangladesh, a maior parte delas como negócios sociais, a partir da concessão de pequenos empréstimos para os pobres sem as garantias e exigências tradicionais dos bancos comerciais. O movimento se espalhou por quase todos os países do mundo, incluindo Inglaterra, EUA, Canadá e vem se enraizando mais recentemente na Índia, Coreia do Sul e Tailândia, expandindo globalmente os conceitos de empreendedorismo social.

No Brasil, o movimento iniciou em 2014, liderado pela Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais (FTFS) a partir da mobilização de organizações da sociedade civil, com a missão de mapear, conectar e apoiar atores e agendas estratégicas para destravar fontes de investimento, apoiar empreendedores de negócios de Impacto e fortalecer organizações intermediárias do ecossistema. O movimento culminou com a criação da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpacto), em dezembro de 2017, articulação de 26 instituições que fomentam este novo ecossistema de negócios no Brasil.

A Enimpacto visa promover um ambiente favorável, reunindo diferentes órgãos de governo e da sociedade: entidades empresariais, fundacionais, organizações não governamentais, comunidade científica e tecnológica.

Desenvolvendo uma estratégia de Impacto para o Brasil:

O Sistema Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto

O Prêmio é apenas uma das iniciativas de âmbito nacional apoiadas ou protagonizadas pela Enimpacto para fomentar este tipo de negócios no país.  A Estratégia está atualmente construindo em um processo coletivo e participativo, a governança do Sistema Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Simpacto) – com lançamento previsto para junho –  envolvendo Estados, municípios, universidades, iniciativa privada, o governo federal e organizações da sociedade civil em uma ampla rede de fomento a uma nova economia, mais regenerativa, inclusiva e sustentável. O propósito do Simpacto é conectar o ecossistema e fomentar a oferta de capital para a mobilização de recursos públicos e privados destinados ao investimento e ao financiamento desses negócios. Também visa disseminar a cultura de avaliação de impacto socioambiental e estimular envolvimento desses empreendimentos em contratações públicas e com as cadeias de valor de empresas privadas.

O Simpacto reunirá o governo federal, os estados e os municípios que desenvolvem políticas subnacionais de impacto. Atualmente, oito estados já fazem parte do Sistema, com legislações próprias para o fomento ao ecossistema e negócios. Será constituído de forma paulatina por meio da realização das Conferências Estaduais de Investimentos e Negócios de Impacto, que promoverão a inclusão dos demais estados da federação a partir de agosto de 2022, em um processo contínuo de integração que culminará na realização da Conferência Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto, em 2023. A meta é conectar os atores do ecossistema de impacto à Agenda 2030 da ONU, ao mesmo tempo em que se articula o setor público em nível federal, estadual e municipal, com objetivo futuro de fomentar compras públicas para direcionar um projeto de desenvolvimento sustentável e inclusivo para o Brasil.

“A proposta de criação do Simpacto surge em um período em que convergem duas tendências que marcarão as próximas décadas, no Brasil e no mundo. Por um lado, a crescente percepção de que negócios e investimentos precisam ser reconfigurados, rumo a uma economia próspera e geradora de impactos positivos para a sociedade e o meio ambiente. Por outro, a pandemia que agravou as históricas fragilidades da sociedade brasileira, trazendo a necessidade urgente de implementação de medidas capazes de revitalizar a economia e, simultaneamente, combater as carências, reduzir as desigualdades e criar oportunidades de renda, qualidade de vida e real desenvolvimento para o país e sua população”, destaca Lucas Ramalho.

A multiplicação de empreendimentos com ou sem fins de lucros, capazes de operar de maneira financeiramente sustentável e ao mesmo tempo responder aos desafios impostos pelos problemas socioambientais é uma agenda ampla, que demanda a articulação de diferentes atores e envolve grandes desafios. “O objetivo desta Estratégia é fomentar um ambiente favorável ao desenvolvimento de Investimentos e Negócios de Impacto no Brasil, de forma a promover desenvolvimento econômico, resolução de complexos problemas socioambientais e oferta de melhores serviços públicos para a população”, reitera o coordenador da Enimpacto.

Investimentos crescentes para fomentar uma nova economia

Mundialmente, os negócios de impacto mobilizam recursos da ordem de US$ 715 bilhões, segundo estimativa do Global Impact Investing Network (GIIN) organização organização sem fins lucrativos que visa impulsionar o setor em nível global. No fechamento de 2020, em plena pandemia, havia no Brasil R$ 11,5 bilhões em ativos sob gestão investidos em empresas de impacto, o equivalente a 2,21 bilhões de dólares, segundo estima a mais recente pesquisa divulgada pela Aspen Networks Development Entrepreneurs (Ande). Esse montante representa apenas 0,3% do total mundial, mas vem crescendo 39% ao ano, desde 2018, e a expectativa é de um aumento significativo nos recursos captados em 2021.

“Já há diversos negócios maduros no país com foco em energias renováveis, água e resíduos sólidos etc. Muitos deles já são listados em bolsa e recebem investimentos de diversas fontes. Alguns têm o potencial de serem considerados negócios de impacto e já há uma discussão a respeito disso dentro do ecossistema local. Uma mudança na visão em relação a isso teria impacto significativo nos dados Brasil, uma vez que esses setores movimentam bilhões de reais em investimentos”, destaca Beto Scretas membro da diretoria executiva da Aliança pelos investimentos e negócios de impacto  e co-líder do Eixo 1 da Enimpacto.

O investimento em negócios de impacto é estratégico para a reativação econômica pós-pandemia e desafia a visão antiga de que questões sociais e ambientais devem ser endereçadas apenas por doações filantrópicas e que investimentos de mercado deveriam focar exclusivamente em atingir retorno financeiro. O objetivo final de todo este movimento é promover uma economia mais sustentável e inclusiva para o país, contribuindo para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e Agenda 2030, da ONU, ainda distante de ser cumprida no Brasil.  Com um projeto de longo prazo instituído até 2027, com 72 ações distribuídas em 04 eixos de atuação, a Enimpacto promete apoiar um movimento crescente já em ebulição nas startups que se multiplicam Brasil afora,

O que são Negócios de Impacto 

Os negócios de impacto possuem particularidades importantes que os diferem de um “negócio comum”.Este tipo de negócio nasce do desejo de protagonizar soluções para os grandes desafios sociais e ambientais – e também do desejo de oferecer essas soluções de uma forma escalável financeiramente sustentável, por meio da oferta de produtos e serviços, sem depender de doações.

O negócio de impacto expressa de maneira clara a sua intencionalidade (missão/propósito) de resolver, ao menos em parte, um problema social e/ou ambiental. Uma prática comum é alicerçar sua tese de impacto em um dos 17 ODS definidos pela ONU (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030).

A geração de impacto socioambiental e a sustentabilidade financeira devem estar presentes na atividade principal da organização. Ou seja, a atividade principal, que gera receita, deve ser a mesma que gera impacto. Não é uma ação pontual de responsabilidade social e/ou ambiental. Negócios de Impacto são empreendimentos que promovem resultados sociais e ambientais positivos e que conseguem mensurar este impacto.  Cooperativas e ONGs também podem ser negócios de impacto, desde que tenham resultado financeiro positivo.

Mais detalhes sobre a plataforma e o Prêmio Impactos Positivos estão disponíveis em: impactospositivos.com. São apoiadores do prêmio as organizações Assis e Mendes, Capitalismo Consciente, Cuidadoria, Gonew.co, Humanizadas e Instituto da Transformação Digital.

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