Por Sebastião Rosa

O governo Ratinho Junior instaurou no estado do Paraná um verdadeiro horror pedagógico. A forma como professores e estudantes das escolas públicas estão sendo tratados é criminosa. Tanto a vida profissional dos educadores quanto o direito das crianças e dos adolescentes à aprendizagem estão sendo destruídos. Tivéssemos lampejos justiça neste Estado, o atual secretário de educação estaria, certamente, preso.

Completa ausência de diálogo, quantidade excessiva de tarefas a serem cumpridas, controle rigoroso da execução, pressão por resultados, ameaças e constrangimentos. Estes têm sido os pilares da gestão do comerciante Renato Feder frente a Secretaria de Educação do Estado do Paraná – SEED. Mesmo para um modelo empresarial de educação, a gestão tem sido de péssima qualidade. Tem havido um gasto excessivo de energias para resultados completamente irrelevantes. Em apenas um pouco mais de um mês de trabalho neste ano, os professores já se encontram exauridos física e mentalmente, muitos já estão doentes ou à beira do adoecimento provocado pela atividade laboral desmesurada.

 

No outro lado da balança, os níveis de aprendizagem são baixíssimos, e muitos estudantes, principalmente os mais pobres, encontram-se inteiramente excluídos do processo educativo. Há turmas em algumas escolas em que participam apenas um ou dois estudantes das aulas virtuais, há estudantes que, embora matriculados, ainda não tiveram contato com nenhuma atividade escolar este ano, há outros tantos que simplesmente desistiram da escola por não conseguirem acompanhar às aulas regularmente ou por considerarem sem sentido o que se veem obrigados a fazer.

Os conflitos na SEED têm sido permanentes. Desde o início do governo Ratinho Júnior, antes ainda da chegada da pandemia em nosso país, já não havia nenhuma tranquilidade em nossas escolas. Invencionices, arbitrariedades e desrespeito aos profissionais da educação eram a tônica.

Sem nenhuma sensibilidade humana, sem nenhuma competência administrativa e sem nenhum conhecimento da escola pública, Renato Feder vem, desde que chegou ao Paraná, disseminando confusão e mal-estar em nossas escolas.

Agora, durante a vigência da pandemia, justamente no momento em que mais precisávamos de uma gestão de qualidade, a situação agravou-se sensivelmente.

Motivado por interesses puramente econômicos, Feder aproveitou-se da fragilidade em que se encontram os educadores para fazer passar a boiada, retirando direitos, precarizando as condições de trabalho e implantando um sistema de ensino tecnocrático, pedagogicamente terraplanista, que nega o conhecimento e exclui e descarta os sujeitos do processo de ensino e de aprendizagem.

E o problema está longe de encontrar solução. Ratinho Junior parece ter o rabo preso com grandes empresários do mercado educacional. São esses empresários que dão sustentação à permanência de Renato Feder no cargo.

Com certeza, todos eles estão muito satisfeitos com o caos promovido por Feder. O que querem, justamente, é a destruição da escola pública, democrática e de qualidade como a projetamos nas últimas décadas.

O avanço da pandemia criou as condições ideais para desconfigurarem a atividade docente, substituindo os professores , a pesquisa e o conhecimento por quinquilharias tecnológicas. E, se hoje os professores estão angustiados com a exigência arbitrária de serem obrigados a realizarem um meet de 40min por aula, a situação tende a piorar ainda mais.

No início do mês de abril do ano passado, quando foi lançado o projeto de Ensino a Distância pela SEED, nós denunciamos abertamente a burla que começava a se construir, publicamos manifestos e artigos nas redes sociais, realizamos inúmeras lives com especialistas, fizemos pesquisas e chegamos a publicar um livro expondo as razões do porquê não poderíamos, como educadores responsáveis, validar o projeto que estava sendo imposto.

Falávamos da ineficiência pedagógica, da exclusão, da precarização das condições de trabalho e da demissão de educadores. Dizíamos que se tratava de um projeto que vinha para ficar, que nossas condições de trabalho seriam seriamente comprometidas, que perderíamos direitos, que haveria demissão de professores e que a qualidade da aprendizagem seria drasticamente reduzida.

Infelizmente, acuada e mal orientada, a categoria validou o Ensino a Distância, inclusive com a cumplicidade da direção de nosso Sindicato.

No final do ano, novamente, quando já havíamos perdido o plano de carreira dos funcionários, quando duzentas escolas estavam sendo militarizadas e vinte mil professores estavam prestes a ficarem desempregados, acabamos reafirmando a validade do projeto de Feder.

Em assembleia, orientada pela direção sindical, a categoria decidiu não acatar a proposta de greve que poderia colocar em xeque as mentiras divulgadas na imprensa pelo secretário sobre a eficácia do projeto de Educação a Distância. Como pantomima da luta, a direção sindical resolveu fazer uma greve de fome ridícula, criando mais desgastes e desconfianças na luta coletiva.

O que era ruim piorou. Greves de fome de faz-de-conta não surtem efeito contra a força do capital. Nossas condições de trabalho estão cada vez piores.

É humanamente impossível para qualquer pessoa realizar um meet por aula como exige a SEED e ainda dar conta de todas as demais tarefas que a escola lhe impõe.

Pateticamente, a direção sindical faz coro aos pedagogos das escolas limitando-se a orientar os professores ao uso de recursos tecnológicos para reduzir o desgaste do trabalho.

Por mais bem intencionada que seja, essa é uma orientação estúpida. Ela nega a própria condição profissional dos educadores. Esse “migué pedagógico” para evitar esforço apenas desconfigura a ação docente, dando centralidade a tecnologia e secundarizando os sujeitos do processo de ensino, o conhecimento e a pesquisa. Com isso, acabamos caindo como patinhos na armadilha dos vendedores de tecnologia educacional, máfia que sustenta Renato Feder na SEED.

Acabamos nos tornando aplicadores de aulas que técnicos distantes pensaram, reduzindo-nos a profissionais ainda mais baratos, facilmente substituíveis e descartáveis.

As coisas não param por ai. Uma vez adaptados a esse sistema de aulas virtuais, virão novas exigências. Seremos, certamente, cobrados por resultados. Sequioso pela validação plena de seu projeto mercantil, Renato Feder irá impor metas e exigir o cumprimento delas. Quem não conseguir, estará fora. Simples assim.

Imaginando uma possibilidade que neste momento pode nos parecer absurda, mas pela lógica do Feder não é, pensem um futuro próximo em que os professores irão receber seus salários de acordo com o número de estudantes que participarem de seus meets…

A barbárie do mercado educacional avança pelas mãos de Renato Feder impondo aos paranaenses a sombra do horror pedagógico.

Por mais difícil que seja o momento, por maiores que sejam as pressões e os constrangimentos, por maior que seja o nosso medo de sermos obrigados a retornar para as escolas sem garantias sanitárias, precisamos reagir. Não podemos permitir que um aventureiro do mercado educacional, bancado por um grupo de canalhas e de mercenários, destrua a escola pública, a vida dos educadores, o conhecimento histórico e o direito de nossas crianças e adolescentes à aprendizagem. Fora, Renato Feder! Acorda, Hermes Leão!

Sebastião Donizete Santarosa é professor na região metropolitana de Curitiba.

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