Pacientes com diabetes correm mais riscos de ter periodontite
A relação entre as duas doenças é uma via de mão dupla, pois, ao mesmo tempo em que o diabetes pode favorecer a inflamação periodontal, a periodontite piora os níveis de glicemia, daí a necessidade de diagnóstico e tratamento precoce
A Sociedade Brasileira de Diabetes, que criou recentemente o Departamento de Saúde Bucal, alerta que pessoas com diabetes devem ficar atentas aos sinais de periodontite. “Estudos sugerem que a periodontite está geralmente associada com o diabetes e pode ser considerada como uma das complicações clínicas da doença”, explica dra. Mariana Fogacci, coordenadora do Departamento de Saúde Bucal da SBD.
A periodontite é uma doença inflamatória crônica multifatorial que leva à perda dos tecidos de sustentação dos dentes. A periodontite, que pode ter sua progressão aumentada pelo tabagismo, também afeta pessoas que convivem com diabetes. Estima-se que a prevalência de periodontite no Brasil seja de 50% da população adulta. Nos Estados Unidos, um estudo representativo da população norte-americana estimou que a periodontite afeta 46,5% da população acima dos 30 anos de idade. “Aqui no Brasil, como nos Estados Unidos, grande parte das pessoas afetadas pela doença não sabe que tem periodontite”, afirma dra. Mariana. Segundo ela, há vários fatores que fazem com que pessoas que convivem com diabetes tenham mais periodontite, entre eles a maior glicemia e inflamação, alterações na cicatrização e a diminuição da salivação.
Dra. Mariana explica, ainda, que existe uma mão dupla entre o diabetes e a periodontite. “Ao mesmo tempo em que as pessoas com diabetes apresentam maior risco de desenvolver periodontite, a inflamação da periodontite, que não está somente ao redor dos dentes, mas ganha todo o corpo, piora a capacidade do corpo de controlar os níveis de açúcar no sangue, aumentando a glicemia.” Daí a importância de diagnóstico e tratamento da periodontite o mais cedo possível.
Por isso a Sociedade Brasileira de Diabetes defende a necessidade de união entre pacientes, médicos, cirurgiões-dentistas e equipes atuantes no Sistema Único de Saúde (SUS). “A aplicação de diretrizes pode proporcionar uma abordagem mais completa de pacientes com diabetes e com periodontite, com consequente melhora da qualidade de vida, e uma melhora dos parâmetros médicos, com possível redução de custos para toda atividade médica e odontológica.”
A coordenadora do Departamento de Saúde Bucal da Sociedade Brasileira de Diabetes acrescenta que o diabetes pode provocar outras manifestações bucais, como candidíase oral, língua fissurada, alteração do paladar, cicatrização deficiente, ardência bucal, perda de dentes e diminuição da secreção salivar.
Com relação à periodontite, os sintomas iniciais são gengiva vermelha ou inchada, sangramento durante a escovação ou uso do fio dental e retração da gengiva, entre outros. “Ao notar qualquer um desses sintomas, procure um dentista especializado em Periodontia. E mesmo na ausência desses sintomas, toda pessoa com diabetes precisa de exame periodontal de rotina. Somente esse exame poderá atestar se há saúde ou alguma doença periodontal”, alerta dra. Mariana, lembrando que o SUS também oferece o serviço. O tratamento da periodontite é feito por um cuidado maior e mais profundo da gengiva, por meio de uma remoção mecânica de biofilme e cálculo profunda e de instruções sobre higiene bucal, além de abordagens para um estilo de vida saudável. “Se não for tratada corretamente, o paciente pode perder dentes. E se devidamente conduzido, o tratamento da periodontite pode contribuir para redução da glicemia”, alerta.
O Brasil tem hoje cerca de 16,8 milhões de pessoas com diabetes, de acordo com o Vigitel, do Ministério da Saúde.