Mulheres na Indústria: estatísticas positivas se somam ao otimismo de um mercado de trabalho aquecido
Profissionais dos setores industriais de Metalurgia, Materiais e Mineração falam sobre o cenário atual e dão dicas para interessadas em ingressar na área
Pesquisas realizadas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao longo de 2023, revelam que o setor industrial brasileiro tem investido de modo crescente na contratação de mão de obra feminina, fazendo com que o número de mulheres em cargos de gestão aumentasse 30% nos últimos anos e cada vez mais empresas adotassem políticas de igualdade de gênero como prioridade em suas dinâmicas, realidade que já é tangível em 60% das iniciativas do segmento.
As estatísticas positivas em torno da equidade se unem à crescente oferta de emprego no setor industrial que, em 2023, registrou a abertura de mais de 127 mil vagas de trabalho, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Para a Mestre em Metalurgia Extrativa, Vânia Lúcia de Lima Andrade, membro do Conselho de Administração e coordenadora da Comissão Técnica de Mineração da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM) e membro do Women In Mining (WIN), esses números têm provocado um otimismo em relação à participação feminina na indústria minero-metalúrgica e de materiais. “Hoje em dia, o que observamos de forma crescente é que as empresas têm apostado mais na mão de obra feminina não só para se adequar a uma demanda do mercado, mas também por uma necessidade cada vez mais constante de inovação no setor industrial. Mulheres trazem novos olhares para um ambiente que antes era só masculino e agregam muito aos negócios. Isso tem sido cada vez mais percebido pelas equipes de recrutamento”, explica.
A percepção de Vânia Lima sobre o aumento no interesse de contratação de mulheres se soma à da responsável por Pesquisa e Desenvolvimento em Processos da Usiminas e vice coordenadora da Comissão Técnica de Redução de Minérios e Matérias-Primas da ABM, Beatriz Fausta Gandra, que pontua a crescente oferta de vagas exclusivas para o público feminino e ressalta que essa política, em voga em diversas indústrias do setor, tem provocado a diversificação nos quadros de funcionários.
Para além da contratação, no ambiente corporativo, a Mestre em Engenharia Metalúrgica, de Materiais e de Minas, Lindaura de Souza Candido Davila, responsável pelo Marketing Técnico da Vale e vice coordenadora da Comissão Técnica de Aglomeração de Minérios da ABM, destaca que embora ainda haja muito a ser feito para alcançar uma participação mais equitativa, a indústria de base nacional tem evoluído em políticas e programas com essa finalidade.
“Na indústria de Mineração e Siderurgia, a participação feminina tem sido historicamente baixa, especialmente em cargos operacionais e de liderança. Isso se deve a uma série de fatores, incluindo a natureza tradicionalmente masculina desses setores, barreiras culturais e estruturais, além de desafios relacionados à segurança no local de trabalho. No entanto, ao longo dos anos, tem havido um aumento gradual na presença de mulheres nesse setor, impulsionado por iniciativas de diversidade e inclusão, programas de capacitação e mudanças na percepção cultural. As empresas têm implementado políticas para atrair e reter talentos femininos, oferecendo oportunidades de desenvolvimento de carreira e programas de mentorias específicos”, detalha Lindaura.
Sobre as iniciativas empresariais para a promoção de maior equidade nos ambientes industriais, a Co-Products Area Manager da ArcelorMittal e vice coordenadora da Comissão Técnica de Economia Circular e Sustentabilidade da ABM, Leila Kauffmann complementa indicando a importância das empresas perceberem e reconhecerem a diversidade dentro das equipes, incluindo perfis plurais desde o âmbito de gênero até o etário, e promovendo políticas de igualdade, que ainda têm muito a avançar no setor.
Preparação para as profissionais
Além de ambientes mais receptivos a serem criados pelas empresas, a atual dinâmica do mercado de trabalho industrial exige também, por parte das profissionais, algumas adaptações e comprometimentos. Entre eles, a Gerente Técnica das Laminações da Gerdau, Emanuelle Garcia Reis, dá destaque à autoconfiança, planejamento, resiliência, aprendizado contínuo, bom relacionamento interpessoal e equilíbrio.
“Estou há 23 anos na indústria do aço, e a cada dia vejo mais mulheres nesse mercado de trabalho. Eu acredito que isso vem crescendo em função das qualidades profissionais e outras inúmeras habilidades e competências das mulheres. Para o crescimento de mais mulheres na indústria de base, eu entendo que precisamos continuar nos profissionalizando e aprimorando habilidades que contribuem de maneira positiva em qualquer negócio, tais como, conhecimento técnico, resiliência, comprometimento, trabalho em equipe, criatividade e flexibilidade”, complementa Emanuelle.
Assim como Emanuelle Reis, Beatriz Gandra pontua o aprimoramento constante como principal elemento da carreira feminina no segmento industrial. “A indústria de base é encantadora e a dica que tenho para profissionais interessadas nela é a busca pela capacitação. Se realmente for essa a sua vocação, o sentido de sua realização profissional, o caminho é se capacitar”.
O que uma indústria deve fazer para ser mais igualitária?
Para contribuir com iniciativas industriais que estejam em busca de desenvolver ambientes mais igualitários, a ABM lista 5 dicas que podem transformar ambientes corporativos em favor da equidade:
1.Políticas de contratação inclusivas:
Implementar políticas de contratação que promovam a diversidade e a igualdade de oportunidades, evitando qualquer forma de discriminação durante o processo de recrutamento e seleção.
2.Treinamento e conscientização:
Oferecer treinamentos regulares sobre diversidade, inclusão, preconceito inconsciente e assédio no local de trabalho para todos os funcionários, incluindo gestores e líderes.
3.Flexibilidade no trabalho:
Oferecer políticas de flexibilidade no trabalho, como horários flexíveis, trabalho remoto e licenças parentais, para ajudar a promover a igualdade de gênero e facilitar a conciliação entre trabalho e vida pessoal.
4.Desenvolvimento e promoção equitativos:
Garantir que todas as oportunidades de desenvolvimento profissional e promoção sejam acessíveis de forma equitativa a todos os funcionários, independentemente de sua origem ou identidade. Instituir também programas de mentoria e patrocínio para apoiar o desenvolvimento de carreira de funcionários de grupos sub-representados e ajudá-los a avançar em suas carreiras.
5.Políticas anti-assédio e discriminação:
Implementar políticas claras e rigorosas contra todas as formas de assédio e discriminação no local de trabalho, com procedimentos eficazes para denúncia e resolução de queixas.