Paraibana, que morava há anos no Recife, estava acamada e faleceu em casa, segundo amigo. Atriz deu vida a personagem da obra de Ariano Suassuna por quase 20 anos

Morreu, aos 90 anos, a atriz Socorro Raposo, que interpretou por quase 20 anos o papel de Nossa Senhora na clássica montagem do Auto da Compadecida, do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna. A atriz era paraibana, mas morava no Recife desde jovem. Ela faleceu em casa, na noite da segunda-feira (23).

“Ela era uma pessoa muito generosa, muito amável e carinhosa com todos, ajudava muitas pessoas em todos os sentidos. Foi uma vida dedicada à arte e ao teatro”, relatou o ator, amigo pessoal e compadre de Socorro, Pedro Dias, de 54 anos. Segundo Pedro, Socorro teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) há alguns anos e vivia acamada, com ajuda de enfermeiros e cuidadores.

A filha do ator, Amanda Petra, de 28 anos, foi apadrinhada por Socorro, que não se casou e não teve filhos. “O casamento dela foi com o teatro”, disse o amigo. Além de atriz, Socorro também era dentista e formou-se em odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Segundo o amigo, ao longo da vida, ela se dividiu entre a paixão pelas artes cênicas e o consultório odontológico. “Ela tinha muitos projetos solidários também, quando jovem fazia atendimentos gratuitos para artistas”, contou.

Em 2004, a atriz recebeu o título de cidadã Pernambucana, concedido pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).

Nascida em 24 de junho de 1931, Socorro começou a atuar ainda criança, no colégio católico no qual estudava na Paraíba. “Ela começou a fazer teatro lá. Sempre foi uma mulher muito religiosa, era beata mesmo. Tinha muita fé. Não era coincidência que ela tenha interpretado o papel de Nossa Senhora. Era uma mulher que sabia ser justa”, disse o amigo.

Foi em 1956 que aconteceu a primeira montagem do Auto da Compadecida, que projetou o escritor paraibano Suassuna como dramaturgo nacionalmente conhecido. Sob direção de Clênio Wanderley, em 1957 a peça ganhou prêmio do I Festival de Amadores Nacionais no Rio da Janeiro, no Teatro Dulcina, no Centro da capital carioca. Socorro Raposo dedicou a vida às artes cênicas, conforme relato de amigo.

No Recife, no casarão de número 465 da Rua da Glória, localizado na Boa Vista, no Centro da cidade, Socorro fundou o Espaço Inácia Rapôso Meira, que levou o nome em homenagem à sua mãe. No local, de grande efervescência cultural, eram oferecidas aulas, espetáculos e formações artísticas.

“Era um local procurado por todos que faziam parte do circuito das artes do Recife. Assisti espetáculos belíssimos por lá”. Atualmente, o espaço foi reinventado pelo grupo teatral Magiluth, que tem como inspiração a proposta original de Socorro: espaço de criação e produção artística.

Com longo currículo, Socorro participou de encenações como “Batalha dos Guararapes” e “A Paixão de Cristo”, dirigidas por José Pimentel, além de outros espetáculos como “Catarim de Cantará”, “A Comédia do Amor”, “O Menino do Dedo Verde” e “Cadeira Vazia”.

“Foi uma vida longa dedicada ao que ela mais amava. Sentiremos saudades e levaremos o legado dela conosco”, declarou Pedro. O velório da atriz acontece no Cemitério de Santo Amaro, na área central do Recife. O enterro foi  às 14h desta terça-feira (24).

 

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