Especialista pede cautela nas acusações, aponta que veículos podem ter opiniões enviesadas e que apenas a análise balística poderá trazer a verdade sobre o caso

Na segunda-feira (20), o jornal The New York Times (NYT) publicou a conclusão da investigação que o veículo realizou de forma independente sobre a morte da jornalista Shireen Abu Akleh, do Al Jazeera. Segundo o jornal norte-americano, a repórter teria “muito provavelmente” sido atingida por um soldado israelense, mas que não há indícios de que ela tenha sido atingida de propósito.

O resultado obtido pelo jornal contradiz a investigação inicial da Autoridade Palestina (AP), que afirmou que um soldado israelense teria atirado deliberadamente em Abu Akleh — afirmação também rejeitada por Israel e considerada “descaradamente falsa”. Desde o momento da notificação da morte da profissional da imprensa, as forças israelenses se ofereceram para prestar esclarecimentos e realizar uma investigação conjunta com a Autoridade Palestina, que se recusou a cooperar.

A repórter morreu depois de ser atingida por um tiro na cabeça enquanto cobria uma operação do exército israelense em Jenin, na Cisjordânia, no dia 11 de maio. Um fator que seria determinante para se chegar à verdade neste caso seria a análise da bala que atingiu a jornalista. Investigações concluíram que o modelo da arma que disparou a bala é usado por ambos os lados, israelense e palestino. Israel pediu permissão para examinar balisticamente o projétil, a fim de determinar a origem do disparo, mas a Autoridade Palestina se recusou a atender a solicitação.

Com isso, Naftali Bennett, primeiro-ministro de Israel, declarou que “a AP está impedindo qualquer possibilidade de investigar conjuntamente a morte e se recusa até mesmo a conceder acesso às provas forenses críticas necessárias”, e que ele temia que o lado palestino pudesse tomar medidas que pudessem “contaminar ou interromper a investigação de uma maneira que impeça que a verdade seja revelada”. Até mesmo legisladores estadunidenses — 25 democratas e republicanos — pediram à Casa Branca que pressionasse a Autoridade Palestina a realizar uma investigação conjunta sobre a morte de jornalista da Al Jazeera na Cisjordânia no mês passado, liberando a análise balística do projétil, mas não houve progresso.

Sem a prova determinante da origem do disparo, a morte da Abu Akleh continua sem respostas, ou seja, “a acusação de Israel sem provas concretas é precipitada e enviesada negativamente”, de acordo com o cientista político e presidente executivo da StandWithUs Brasil, André Lajst. O especialista afirma que, apesar de grandes veículos jornalísticos estarem realizando investigações independentes, como o New York Times, CNN e Washington Post, Israel não deve ser acusado levianamente sem provas, como indicam as manchetes. “Esses grandes jornais internacionais já publicaram inúmeras vezes informações imprecisas, enviesadas e contra Israel. É o caso da cobertura recente do próprio New York Times sobre o conflito entre Israel e Gaza, na qual fotos de crianças supostamente mortas por Israel foram publicadas sem a apuração jornalística correta e com uma manchete sensacionalista. O mesmo pode acontecer na cobertura da morte de Abu Akleh. E nesse caso, se o entrave a respeito da bala que atingiu a vítima não for resolvido, nunca chegaremos à verdade”.

André também aponta que é preciso refletir sobre a dimensão da cobertura e investigação jornalística deste caso, em que Israel está envolvido, em comparação a outras tragédias e mortes de jornalistas. “Na mesma semana da morte de Shireen, duas jornalistas mexicanas foram mortas durante o exercício de suas profissões, mas elas não ganharam destaque na mídia como a polêmica que envolve Israel. Precisamos refletir sobre a causa disso e responsabilizar, sim, os culpados, mas com base em fatos e provas concretas”, diz ele.

“Quando Israel erra, assume os erros”

“Quando Israel erra, assume os erros, como recentemente, quando uma investigação interna conduzida pela polícia israelense sobre os acontecimentos durante o velório da jornalista palestina Shireen Abu Akleh chegou à conclusão que o emprego da força conduzida pelos policiais foi errada, quase causando a queda do caixão”, completa Lajst. O motivo pelo qual a polícia israelense entrou na área do hospital, que resultou nas conhecidas cenas de violência, se deu devido a uma ligação telefônica de um membro da família da repórter para um comandante da polícia israelense avisando que o caixão com o corpo tinha sido tomado por radicais palestinos, contra a vontade da família e contra o acordo da mesma com a polícia israelense. O familiar pediu ao oficial da polícia na ligação telefônica que a polícia fizesse o possível para retirar o caixão das mãos dos radicais. A decisão da entrada dos policiais na área do hospital foi tomada por um oficial de menor escalão e não pelo comandante geral da operação, fato que diverge da norma policial para esse tipo de evento.

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