Sistema educacional gerido pelo PCC prepara os alunos não só para comandar o país e manter a população submissa ao partido

A Educação é uma das armas do Partido Comunista Chinês (PCC) para manter a sociedade chinesa sob sua tutela e vigilância. Um sistema educacional gerido pelo próprio PCC prepara os alunos não só para comandar o país e manter a população submissa ao partido. Os chineses são educados de forma a incorporar a ideia de que prosperidade da segunda maior economia do mundo está diretamente associada à história da sigla e de seus membros.

Para educar as futuras gerações de gestores públicos e empresários, o partido administra milhares de escolas no país, a maior delas a Escola Central, em Beijing, com cerca de 1,6 mil alunos. Todas são parte importante da propaganda do governo, “uma campanha multimídia que está em toda parte”, segundo William A. Callahan, professor de relações internacionais da Escola de Economia e Ciências Sociais de Londres.

Graças também a essas instituições de ensino, a propaganda está enraizada nos jovens, o que ajuda a difundir a ideologia partidária sem questionamentos. “É difícil para as pessoas que estão nesse tipo de ambiente entender a natureza específica da campanha de educação patriótica”, afirmou Callahan ao site australiano ABC News.

O objetivo das escolas não é apenas formar os profissionais que governarão o país no futuro. É inserir nos alunos doses elevadas de patriotismo e fidelidade partidária para que possam dar sequência ao regime. O presidente Xi Jinping comandou a Escola Central durante cinco anos e nela impôs o mesmo regime autoritário que impera hoje em toda a China.

Ele julga essencial revigorar o comando do partido e assim manter a ascensão chinesa. Para isso, aposta na formação de gestores leais à causa, através de uma propaganda eficiente. “Nosso partido contou com a luta para chegar onde está hoje e certamente contará com a luta para vencer o futuro. Os perigos e testes à frente não serão menores do que no passado”, discursou ele em março a jovens estudantes da Escola Central, segundo o jornal The New York Times.

Gestão pública e doutrinação

Uma das armas de doutrinação do partido é o conceito dos “cem anos de humilhação”. A China conta sua própria história nos séculos XIX e XX sob a ótica de um país “intimidado” pelas forças ocidentais. “É uma história que destaca como os problemas não vêm da China, mas do exterior, e como os chineses têm que se defender“, diz Callahan.

Nos aspectos práticos da formação profissional, as escolas fogem do usual e focam na gestão pública. Ensinam, por exemplo, as melhores técnicas para desarmar protestos populares e a maneira mais eficiente de selecionar funcionários para promoção. Uma disciplina ensina a lidar com desastres naturais como enchentes e deslizamentos de terra. E outra mostra como lidar com entrevistas a jornalistas estrangeiros.

Empresários chineses de sucesso e importantes membros do partido são invariavelmente convidados a dar aula nas escolas. “Acreditamos que as habilidades de lutar boxe devem ser ensinadas por boxeadores de verdade”, afirmou Jiang Junjie, professor da Escola Central.

Assunto proibido

Minxin Pei, que hoje ensina Ciência Política na Universidade Claremont McKenna, na Califórnia, lembra que certa vez ajudou a organizar um ciclo de palestras na Escola central. Um dos convidados foi Roderick MacFarquhar, ex-professor de Harvard conhecido por sua pesquisa sobre a Revolução Cultural chinesa.

“As primeiras palavras que Rod disse foram: Hoje eu quero falar sobre 4 de junho”, conta Pei, referindo-se ao Massacre da Praça da Paz Celestial. Segundo ele, a reação dos presentes foi de absoluta incredulidade, vez que o tema é assunto proibido na China de Xi Jinping. “Era possível ouvir um alfinete cair”.

Para o governo, os jovens tanto podem ser o futuro do partido, quanto sua ruína. Daí o discurso nacionalista que visa a trazê-los para seu lado. “Eles acreditam que, se os jovens têm acesso a informações erradas, eles têm ideias venenosas em suas cabeças. Esta é a maior ameaça à sobrevivência do Partido Comunista e à estabilidade do regime”, disse Katja Drinhausen, analista sênior do Instituto Mercator para Estudos da China na Alemanha.

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