A crise energética que se aproxima no Brasil é estrutural. E, para além do Brasil, está no horizonte de parte de países asiáticos, como China e Índia, e países europeus.  Para o caso brasileiro, não será algo rápido e fácil de resolver, pois não é conjuntural ou apenas ligada a uma seca passageira. Na China, por exemplo, a redução da capacidade de geração de energia elétrica está ligada a problemas de chuvas torrenciais em locais de mineração de carvão térmico, reorientação da matriz energética por causa de mudanças climáticas e questões específicas de alto consumo de energia em indústrias ligadas a cimento, metalurgia e insumos eletrônicos.

Para o caso brasileiro, a relação com as mudanças climáticas é indissociável desta vez, assim muito mais complexa e dificilmente comparável à crise de 2001. O sistema elétrico brasileiro mudou drasticamente desde então, principalmente pela saída do Estado como planejador e fomentador de um sistema tão estratégico para o país. Nossa escolha pelo modelo de gestão atual cobrará um enorme preço social e econômico. O modelo especificamente hidráulico de geração de energia não dará conta das demandas atuais e futuras e o modelo térmico, essencial nas contas de curto prazo, não está no horizonte internacional da transição energética. Precisamos ter muita atenção para energias renováveis e, para o sistema hidráulico remanescente, uma gestão de águas, florestas e impactos climáticos cada vez mais importantes. O risco hidrológico, daqui para frente, por conta de secas, será muito mais palpável, seja como fonte de água potável, irrigação, recurso hidráulico e logístico (hidrovias).

A liberalização dos mercados e a privatização de empresas de geração de energia da forma como foi feita, nos últimos anos, piorou ainda mais a situação de risco estrutural do setor elétrico. Desde o planejamento até os custos operacionais, o desmanche no setor é uma tônica nas agendas futuras. A desarticulação das instituições públicas brasileiras de planejamento afeta diretamente as maneiras de enfrentar a potencial crise que se avizinha.

Em nossas rotinas, ainda estamos em uma lógica insustentável nas ações de causa e efeito no consumo. Mais do que o operador administrativo, quem controla o sistema elétrico é o rio, as represas ou os fluxos globais de combustíveis térmicos, principalmente. Entender as relações causais entre energia e ambiente é de suma importância para evitar equívocos sobre os limites da potência humana, principalmente quando ligadas a sistemas sociais altamente dependentes de elementos e questões ambientais.

Ao que tudo indica, novembro, mais uma vez, será um mês limite para a estabilidade e robustez do sistema elétrico brasileiro. Os discursos sobre a eficiência do setor privado para gerir e fomentar o sistema elétrico não se confirmam. Pelo contrário, a tendência sempre é aumentar o preço da energia para o consumidor final sem melhorar sua eficiência e adaptação para o que está por vir em um contexto inexorável de mudanças climáticas e redução da biodiversidade do planeta.

 

 

 

 

 

 

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