Por Sebastião Donizete Santarosa

Os professores e funcionários das escolas públicas do Paraná têm experiência de toda sorte de desrespeito e de desvalorização profissional nos últimos anos, especialmente durante os governos de Beto Richa e de seu sucessor, Ratinho Júnior. Sistematicamente, os profissionais da educação vêm sendo constrangidos, sofrendo com retirada de direitos, com perdas salariais, com práticas de assédio e com exigências laborais descabidas para natureza da função que exercem.

Neste cenário, o instrumento mais importante de defesa desses profissionais é, sem dúvida, o sindicato que representa a categoria. A APP-Sindicato, aliás, constitui-se no maior patrimônio construído pelos educadores ao longo da história da educação pública paranaense. A conquista de muitos direitos que garantiam, até então, o respeito e a dignidade profissional foram resultados de organização sindical, de luta coletiva, de profundas reflexões e debates, de solidariedade de classe e de inúmeros e corajosos enfrentamentos.

Infelizmente, nas últimas décadas, o sindicato dos educadores deixou de cumprir o papel histórico que lhe é devido. Há mais de vinte anos, um mesmo grupo político exerce o poder dentro da APP-Sindicato. E esse grupo, em razão de suas práticas, burocráticas e corporativistas, conciliadoras e pouco democráticas, não consegue mais mobilizar e organizar os educadores em ações efetivas de defesa de suas condições profissionais. O quadro de sofrimento que temos experimentado é resultado direto dessa incapacidade.

Temos previstas para o segundo semestre deste ano as eleições na APP-Sindicato. Certamente, diante do avanço da pandemia, por bom senso, essas eleições deveriam ser adiadas para outro momento mais propício, em primeiro lugar pelos riscos sanitários da violação do isolamento social; em segundo, pelas limitações de exercício democrático impostos por um período em que as unidades escolares estão fechadas para atividades presenciais.
Em todo caso, sendo realizadas agora ou após o período pandêmico, essas eleições têm importância ímpar para os educadores do Paraná. A defesa da escola pública e de nossas condições profissionais passam, sem dúvidas, por essa eleição.

Precisamos aproveitar este processo eleitoral para nos organizar e refletir profundamente sobre os problemas e obstáculos presentes nas ações de nossa entidade, precisamos de um debate amplo e democrático, de um debate capaz de reunificar e reorganizar nossa categoria para que a APP-Sindicato volte a ser um instrumento de luta efetivo em defesa da escola pública paranaense.

Até o final do ano passado, contávamos com um grande grupo de oposição à atual direção da APP-Sindicato, denominado APP-Independente, Democrática, de Base e de Luta. Na última semana, lamentavelmente, por interesses pouco claros e sem consultar suas bases, alguns dirigentes desse grupo decidiram compor com a atual direção sindical, negando todas as ácidas críticas feitas a ela e todos relevantes trabalhos que vinham sendo realizados no campo da oposição até então.

É preciso deixar muito claro que o grupo APP-Independente sempre foi muito heterogêneo e que grande parte dos integrantes de sua base não foi consultada e é contrária a essa composição, mantendo posição firme em defesa de um novo modelo de sindicalismo para categoria.

Embora o desejo de composição esteja longe de ser unanimidade entre os integrantes da APP-Independente, essa decisão unilateral acabou fragilizando, tragicamente, a possibilidade eleitoral de reconstrução da APP-Sindicato como instrumento verdadeiro de luta dos trabalhadores da educação, pois dificultou a tarefa de organização de outros grupos de oposição. Entretanto, esse exercício de capitulação de certos dirigentes em quem eram depositadas esperanças de reconstrução sindical deve ser superado. Os profissionais de educação do Paraná não podem, de forma alguma, sucumbir ao fatalismo e à desesperança. É certo que a organização dos trabalhadores nunca foi tarefa fácil, mas também é certo que nunca foi tão importante como agora.

O Estado do Paraná conta com grandes educadores, com gente responsável e consciente. É preciso, com urgência, estarem atentos a esse momento e envidarem todos os esforços possíveis para reconstrução da luta coletiva. Essa é uma tarefa de todos e não pode ser delegada a pequenos grupos com interesses muitas vezes obscuros. Entre educadores, a prática política não pode se apequenar. É tempo de reavivar esperanças na luta.

*Sebastião Donizete Santarosa é professor na região metropolitana de Curitiba.

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