Digitando com os olhos: tecnologia assistiva pode ser usada para otimizar a educação de crianças neurodivergentes
ecnologia na educação de pessoas com deficiência foi um dos principais temas da 20ª edição do Latinoware
Uma caixa de sapatos que se transforma em uma mesa de mixagem de som e um piano feito com papel A4. Itens simples e materiais baratos, que aliados à tecnologia, são capazes de transformar a educação de pessoas com paralisia cerebral ou neurodivergentes. A 20ª edição do Latinoware trouxe à tona o debate sobre a tecnologia assistiva, que pode ser utilizada para auxiliar o desenvolvimento psicomotor de crianças e adolescentes em todo o Brasil.
Paulo Victor Loureiro, um dos palestrantes do evento, desenvolveu projetos focados neste tema em todo estado do Ceará. Professor em uma instituição pública que atende crianças e adolescentes com deficiências, criou projetos lúdicos que utilizam a programação em software livre para materializar diversas ideias inovadoras em regiões com alta vulnerabilidade social.
Entre os exemplos reconhecidos nacionalmente está o teclado virtual que melhora a comunicação para pessoas com paralisia cerebral, que precisam apenas piscar os olhos para conversar. Por meio de ondas cerebrais os alunos conseguem realizar provas e participar das aulas com os demais colegas.
O professor ressalta que atua com projetos voltados para a educação desde 2011, colecionando histórias de sucesso, como a de um aluno com paralisia cerebral que pôde ingressar na universidade utilizando as ferramentas desenvolvidas no projeto.
“Os desafios na educação são constantes. Quando falamos em acessibilidade na educação, o desafio é ainda maior. Mas projetos como esses, desenvolvidos por pessoas dispostas a mudar realidades, podem dar certo e tornar o mundo ainda melhor. Estar no Latinoware e falar para jovens com vontade de replicar esses ideais, é animador”, disse o professor.
Legado para os alunos
Loureiro conta que a partir dos ensinamentos em aula, os demais alunos passaram a propor ideias e desenvolver projetos que poderiam ser utilizados pelos colegas. “Os alunos autistas vinham até mim e queriam que os colegas com paralisia cerebral também participassem das aulas. Foi então que trabalhamos em conjunto e tornamos isso possível. Mais do que desenvolver circuitos, trabalhamos a empatia”, afirmou.
Luciano Bertinetti, fisioterapeuta do município de Canguçu, no Rio Grande do Sul, veio ao Latinoware motivado pelo tema das tecnologias assistivas e quer propor o formato como política pública municipal.
“A neurodiversidade precisa ser aplicada a nível nacional. Vamos começar no município, replicando essas ideias que parecem simples, mas conseguem desenvolver a educação de forma nunca antes vista. A tecnologia está se desenvolvendo e precisamos aproveitá-la para o bem”, frisou Bertinetti.