Crianças, em projeto antirracista, propõem a formação de um acervo literário com obras relacionadas ao tema
Projeto de Intervenção de alunos do Colégio Marista Arquidiocesano busca combater o racismo por meio do conhecimento
Estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, do Colégio Marista Arquidiocesano, um dos mais tradicionais da capital paulista e que completa 165 anos de sua fundação em 2023, estão produzindo um projeto denominado “No jogo e na vida, vista a camisa antirracista!”, que tem como objetivo compreender o racismo e conhecer formas de combatê-lo. Os alunos, que possuem média de idade de 10 a 11 anos, pretendem propor a criação de um acervo literário na biblioteca do colégio, apenas com obras infantil-juvenis que tratem sobre racismo, intolerância, inclusão e cultura afro-brasileira, prestigiando, inclusive, a produção de autores negros.
O trabalho está sendo orientado pela coordenadora pedagógica Lilian Gramorelli e conduzido pela professora Tatiani Ferreira Miranda e faz parte do desenvolvimento do Projeto de Intervenção Social (PIS) da turma, uma prática pedagógica Marista que promove o diálogo e o protagonismo, permitindo entender as necessidades humanas e sociais, questioná-las e traçar caminhos para enfrentar as problematizações contemporâneas.
O projeto e Vinicius Jr.
Os alunos se informaram sobre algumas notícias que tomaram conta dos meios de comunicação e viraram assunto entre todos os colegas: os ataques racistas sofridos pelo jogador Vinicius Jr., do Real Madrid e da seleção brasileira. Com isso, perceberam que este tema merecia uma atenção especial. A turma promoveu então uma votação para decidir o assunto norteador do estudo: o tema Racismo foi o escolhido.
Os estudos tiveram início com a leitura do livro “Óculos de Cor”, da autora Lilia Moritz Schwarcz. Alvo e Ebony, os personagens centrais dessa história, um dia se conhecem e uma jornada especial tem início na vida dos dois. Nesse caminho, Alvo se dá conta de que o mundo é muito mais diverso do que ele imaginava e que é possível “ver e enxergar” além da própria existência e com muito ‘mais cores’.
“Por meio da leitura desse livro, passamos a entender conceitos importantes relacionados ao tema do nosso projeto, entre eles: racismo, escravização, quilombo, democracia, negritude, branquitude, discriminação entre outros. A partir da ligação entre eles, começamos a compreender porque o racismo no Brasil é estrutural, por que a intolerância racial ainda é tão forte em nossa sociedade”, esclarece a professora Tatiani Ferreira Miranda.
As crianças também fizeram a leitura do livro “Vovô Mandela”, uma lição sobre como não deixar as ideias e os sonhos serem aprisionados; sobre como todos devem se unir para lutar por uma sociedade mais justa e inclusiva. O livro também reforça a importância da filosofia ‘Ubuntu’ para o povo africano: “Eu sou porque todos somos”.
Os estudantes ainda receberam a visita da responsável pelo Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SP), Profa. Dra. Jussara Santos.
Jussara trouxe, de forma leve e amorosa, provocações sobre o significado da palavra racismo. Relatou experiências pessoais, propôs discussões em pequenos grupos e se encantou com o engajamento dos alunos em relação ao assunto.
A docente reforçou que o racismo no Brasil é estrutural e está presente no nosso dia a dia, nas pequenas coisas, como uma “piada” ou um “meme” compartilhado, um olhar ou gesto de julgamento ou exclusão, entre outros.
“Afinal, não basta não ser racista. É preciso ser antirracista”, reforçou a ativista.
Expressões racistas
O projeto do 5º ano aponta que várias expressões presentes no cotidiano dos brasileiros são racistas. Podem parecer apenas um “jeito de falar”, mas são palavras ofensivas e têm origem na época colonial, quando os africanos foram trazidos para serem escravizados no Brasil.
“Essa linguagem contribui para reforçar a relação preconceituosa entre negritude e negatividade. Por isso, é necessário refletir sobre o preconceito existente por trás dessas palavras e tirá-las do nosso vocabulário”, afirma Tatiani.
No pátio central do Arquidiocesano, a turma irá disponibilizar uma tenda com o nome de “Quilombo de palavras”, em que serão expostos livros que tratam da intolerância racial, escritos para crianças e jovens. A exposição estará aberta para toda a comunidade escolar.
Os visitantes irão receber um mimo dos alunos – as Abayomi, bonecas de pano, criação original de Lena Martins, artista e artesã, natural de São Luís, no Maranhão. Abayomi significa, na língua iorubá, “o melhor de mim para ti”, sendo um símbolo de resistência e tradição.
“A leitura é uma ferramenta extremamente importante para a nossa formação. Podemos dizer que é um dos passos mais relevantes para entender e repudiar todo e qualquer tipo de preconceito”, frisa a professora da turma, Tatiani Ferreira Miranda.
Sobre os Colégios Maristas
Os Colégios Maristas estão presentes em 18 estados e no Distrito Federal com 63 unidades. Os mais de 80 mil estudantes recebem formação integral, composta pela tradição dos valores Maristas e pela excelência acadêmica alinhada aos desafios contemporâneos. Por meio de propostas pedagógicas diferenciadas, crianças e jovens desenvolvem conhecimento, pensamento crítico, autonomia e se tornam mais preparados para viver em uma sociedade em constante transformação. Os Colégios Maristas fazem parte do Marista Brasil, uma rede de colégios e escolas presente em 20 estados brasileiros e no Distrito Federal que atende mais de 97 mil crianças, jovens e adultos.