Por Marcelo Gonçalves Marcelino

O sindicalismo brasileiro renasce quase que no apagar das luzes da ditadura civil-militar-empresarial no Brasil quando as lutas operárias do ABC paulista tomaram as ruas no final da década de 1970.

A partir da criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983 as reivindicações da classe trabalhadora da educação paranaense tomam forma institucional sindical e assim caminham na construção da consolidação de um sindicato como braço da CUT ao longo do final da década de 1980 na forma de núcleo organizacional das demandas dos trabalhadores e da educação paranaense como um todo.

O início do marco das lutas dos professores em torno desse contorno institucional ocorre em 1988; praticamente no começo do governo Álvaro Dias no famoso episódio da cavalaria sendo lançada contra o protesto dos professores e segue o seu curso durante os governos neoliberais de Jaime Lerner com várias ações entre o final da década de 1990 e início dos anos 2000 que uniu a luta pela não privatização da Copel com as demandas educacionais acumuladas desde então.

Apesar dos avanços em termos de carreira do magistério e conquistas de concursos públicos a gestão do então governador Roberto Requião nos seus dois mandatos consecutivos organizou em seu entorno uma estratégia de cooptação bem sucedida junto a APP sindicato e demais movimentos sociais assim como na administração política de Lula em nível federal.

Com a crise estrutural do capitalismo impulsionada pela avalanche econômico-financeira de 2008 em nível internacional, a ascensão dos governos neoliberais autoritários no Estado do Paraná; primeiro com Beto Richa e agora com Ratinho Júnior na concomitante etapa de transição do golpe de Estado com Jair Bolsonaro à frente da presidência da república a situação da sociedade brasileira piorou muito assim como dos sindicatos. A partir dessa etapa os sindicatos foram colocados ainda mais nas cordas assim como toda política

conciliatória e reformista dos partidos políticos de esquerda, onde a APP também orbita.

Os sindicatos em nível mundial já vinham perdendo espaço político desde o final do século XX com o avanço das tecnologias, da desindustrialização e do aumento do desemprego estrutural típico das contradições do sistema capitalista. Com a crise de 2008 e agora a pandemia no contexto do golpe de Estado a esquerda brasileira assim como os sindicatos não conseguem mais responder aos anseios dos trabalhadores devido ao avanço do ultraliberalismo em grande escala que agride a classe trabalhadora, principalmente nos países de capitalismo dependente como o Brasil a mando do imperialismo capitaneado pelos EUA.

Já não bastassem os ataques do ultraliberalismo e do bolsonarismo como reflexo desse e com combinação de elementos claros de extrema direita a esquerda social democrata com seu liberalismo social progressista aprendeu com as práticas stalinistas o proposital obscurantismo do debate público ao mesmo tempo em que procura calar os opositores mais lúcidos e engajados na luta contra a burguesia representada por esses governos de extrema direita.

O auge do início da desmoralização sindical ocorreu justamente ao longo de 2020 com o trabalho remoto em plena pandemia onde a APP já não propôs nenhuma forma de organizar a luta contra os desmandos do secretário de Educação Renato Féder, um empresário oportunista lacaio de Ratinho Júnior. Com isso o governador do Paraná junto com a sua cúpula bolsonarista resolveu avançar nas pautas neoliberais encomendando a terceirização dos agentes I e II dos colégios (funcionários da limpeza e da cozinha), a prova PSS do famoso edital 47 e já em seguida a implantação dos colégios cívico-militares.

O governo bolsonarista de Ratinho Júnior percebeu desde o início que a APP não seria nenhum obstáculo para seus avanços de desmanche da educação e continuou a sua política autoritária de fechamento de colégios e turmas pelo Paraná afora, além de no final do ano letivo de 2020 destituir diretores dos colégios a seu bel prazer e aplicar a nova BNCC com drástica redução da carga horária das disciplinas de sociologia, filosofia e artes.

No final de novembro a APP comandou nos bastidores a não aprovação em Assembleia da greve unificada, que poderia exigir uma contrapartida de reação necessária para a mobilização política e denunciando o sistema remoto do Ratofeder. Como isso infelizmente não aconteceu o ataque do governo avançou no sentido da implantação do famigerado edital 47 do PSS com prova presencial em plena ascensão da pandemia em janeiro, a implantação dos colégios cívico-militares e do corte da carga horária das humanidades.

O mais grave problema do sindicalismo da APP sindicato reside no aparelhamento das forças políticas sem a inclusão da base dos professores e funcionários com verticalização burocrática e acordos nos bastidores para dividir o aparelho sindical e isso tem degenerado em ameaças físicas e calúnias contra aqueles que procuram rivalizar com o governo de forma mais contundente devido à necessidade urgente da luta.

Aprovada a greve para a entrada de março de 2021, após muita pressão na última assembleia da categoria, mas na prática o sindicato se vê acuado e se esconde atrás do fechamento das bandeiras amarelas da Secretaria de Saúde dada a gravidade dos contágios da Covid-19. Mas infelizmente as coerções estão a todo vapor desde a semana pedagógica obrigada presencialmente e agora novamente através do trabalho remoto e não vemos nenhuma proposta de organização por parte da APP sindicato na direção da mobilização dos trabalhadores assim como alertando as comunidades escolares e estudantes com carros de som e panfletagem junto a base dos trabalhadores da educação. Até quando a direção atual da APP sindical se esconderá atrás do lockdown mentiroso imposto por Ratinho Júnior e toda a sua equipe de arrivistas e fariseus de plantão e ocasião? Chega de pormenores!!!! Nada de “Fora Feder”!! mas sim, Fora Bolsonaro, Ratinho e todos os golpistas!!!!

Marcelo Gonçalves Marcelino – Coordenador da auditoria cidadã da dívida pública em Curitiba e membro da ACD nacional; pesquisador do núcleo de estudos paranaenses (NEP) ligado ao Programa de Pós-graduação em Sociologia (PPGS), do núcleo de estudos e pesquisas da educação filosófica (NESEF) ligado ao departamento de educação, ambos da UFPR, professor, escritor e consultor acadêmico, além de membro do grupo político Professores, Comunidades Escolares e Estudantes do Paraná

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