5 questões para saber se é hora de mudar ou não de emprego
Por Virgilio Marques dos Santos
Nos últimos 50 anos, presenciamos uma transformação notável no mercado de trabalho, especialmente no que se refere à frequência com que as diferentes gerações trocam de emprego.
Dos baby boomers à geração Z, a jornada profissional foi redefinida, refletindo mudanças culturais, econômicas e tecnológicas profundas. Vamos refletir sobre as razões por trás desse fenômeno?
A lealdade dos baby boomers: a era do compromisso
Houve um tempo em que a carreira de um indivíduo era frequentemente definida por um único emprego ou empresa. Os baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964, costumavam valorizar a segurança e a estabilidade no emprego. Mudar de empresa era uma decisão não apenas rara, mas muitas vezes vista como um risco desnecessário. Essa lealdade era mútua; as empresas ofereciam benefícios substanciais, como planos de aposentadoria e seguros, incentivando a permanência a longo prazo.
Essa geração cresceu em um período de pós-guerra, onde a reconstrução e o crescimento econômico promoveram um mercado de trabalho relativamente estável. A cultura corporativa enfatizava a hierarquia e a ascensão gradual, com promoções e aumentos baseados principalmente na antiguidade e na lealdade à empresa. Nesse contexto, a troca frequente de emprego era não só incomum, mas muitas vezes vista como uma mancha no currículo profissional.
Lembro-me de pessoas dessa geração olharem atentamente para quantas mudanças no currículo havia. Se o profissional não ficasse pelo menos 5 anos em cada empresa, já era descartado. Falavam que não estava comprometido com a empresa e buscava apenas as benesses do novo trabalho. Era outra cultura.
O advento da mudança: da geração X à geração Z
À medida que o mundo avançava para a era digital e globalizada, as gerações subsequentes começaram a experimentar um mercado de trabalho muito diferente. A geração X – e, posteriormente, os millennials (geração Y) e a geração Z – entraram em um ecossistema onde a mudança rápida e a adaptação constante se tornaram a norma. As inovações tecnológicas e as alterações nas práticas de negócios transformaram não apenas a natureza do trabalho, mas também as expectativas e as aspirações dos profissionais.
A geração Z, em particular, cresceu em um mundo hiperconectado, onde a mudança é a única constante. Para eles, a troca frequente de emprego não é um tabu, mas uma estratégia para ampliar habilidades, experiências e redes de contatos. Valorizam a flexibilidade, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e estão sempre em busca de oportunidades que ofereçam crescimento, aprendizado e alinhamento com seus valores pessoais.
As forças por trás da mudança
Vários fatores contribuem para essa mudança geracional nas atitudes em relação à troca de emprego. Primeiramente, o avanço tecnológico e a globalização abriram novas oportunidades e mercados, tornando o emprego menos geograficamente dependente e mais dinâmico. Além disso, a evolução das estruturas corporativas e o enxugamento dos benefícios tradicionais, como aposentadoria e planos de saúde, diminuíram o incentivo para a permanência a longo prazo em uma única empresa.
Culturalmente, também houve alterações significativas. A valorização da independência, da autoexpressão e da realização pessoal ganhou destaque. As novas gerações são incentivadas a buscar não apenas um emprego, mas uma carreira que ofereça satisfação pessoal e um senso de propósito. Isso, combinado com um mercado de trabalho mais volátil, faz com que a troca de emprego seja vista como uma parte natural e até essencial da jornada profissional.
Vantagens e desvantagens da troca frequente de emprego
A troca frequente de emprego oferece vantagens, como a exposição a uma variedade de ambientes de trabalho, a aquisição de um amplo conjunto de habilidades e a oportunidade de construir uma rede profissional diversificada. Para muitos, isso pode levar a uma progressão de carreira mais rápida e a uma melhor compreensão de suas verdadeiras paixões e aptidões.
No entanto, também existem desvantagens. A falta de estabilidade pode levar à incerteza financeira e à falta de benefícios de longo prazo. Além disso, mudar frequentemente de emprego pode ser visto por alguns empregadores como falta de compromisso ou de confiabilidade, o que pode impactar negativamente as oportunidades futuras.
Antes de decidir mudar de emprego, os profissionais devem fazer questionamentos. Eles devem avaliar se a mudança oferece uma verdadeira oportunidade de crescimento, alinhada com seus valores e objetivos de longo prazo. É importante considerar também a cultura da nova empresa e se ela oferece o ambiente, o suporte e as oportunidades de desenvolvimento desejados. Perguntem-se:
1- Qual é a motivação por trás da mudança?
Reflita sobre as razões que estão impulsionando a vontade de mudar de cargo. É uma busca por novos desafios, desenvolvimento de habilidades, maior satisfação no trabalho, ou uma resposta a um ambiente de trabalho insatisfatório? Garanta que a mudança seja motivada por razões que contribuam para o crescimento pessoal e profissional.
2- Como esse novo cargo se alinha com meus objetivos de carreira de longo prazo?
Avalie como a mudança de cargo se encaixa em sua trajetória de carreira planejada. Contribuirá para suas aspirações futuras? Oferecerá as experiências e habilidades necessárias para alcançar seus objetivos a longo prazo?
3- O que eu sei sobre a cultura da nova empresa ou departamento?
Investigue a cultura da nova organização. Ela se alinha com seus valores pessoais? Você se sentirá motivado e apoiado neste novo ambiente? Uma cultura de trabalho positiva é crucial para o bem-estar e a satisfação no emprego.
4- Quais são as oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional no novo cargo?
Considere as oportunidades de aprendizado e avanço que o novo cargo oferece. Existem caminhos claros para o crescimento e desenvolvimento profissional? A empresa apoia e investe na educação e capacitação de seus funcionários?
5- Quais serão os impactos desta mudança para um equilíbrio entre minha vida pessoal e profissional?
Pense nas implicações que a mudança de cargo terá em sua vida pessoal. Como ela afetará seu equilíbrio entre vida pessoal e profissional? Você está preparado para as novas demandas e responsabilidades que podem acompanhar o novo cargo?
A mudança nas tendências de troca de emprego reflete uma transformação mais ampla nas expectativas e valores profissionais. Compreender essa dinâmica é crucial – tanto para os profissionais que buscam aperfeiçoamento em suas carreiras, quanto para as empresas que desejam atrair e reter talentos. A chave para o sucesso nesse novo cenário vem com três pilares: adaptabilidade, aprendizado contínuo e compromisso com o alinhamento entre objetivos pessoais e profissionais.
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Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.