São Paulo, SP 4/11/2021 – A representatividade é essencial para a constituição do sujeito. É necessário que todas as crianças se enxerguem na literatura –
Denise Guilherme, educadora

A educação antirracista deve ser praticada diariamente e precisa entrar no debate tanto nas escolas quanto nas famílias. Para apoiar pais a começar essa conversa em casa, o e-book reúne dicas de livros antirracistas indicados por especialistas.

O início da vida escolar foi para mim o divisor de águas: por volta dos seis anos entendi que ser negra era um problema para a sociedade, conta Djamila Ribeiro em seu Pequeno Manual Antirracista, publicado pela Companhia das Letras em 2019.

O problema a que se refere a filósofa e ativista é o racismo. “É impossível não ser racista tendo sido criado numa sociedade racista. É algo que está em nós e contra o que devemos lutar sempre”, defende Djamila no livro. A pauta antirracista precisa com urgência ocupar espaços e abrir possibilidades para o debate. O primeiro passo, então, é reconhecer o caráter estrutural do racismo.

Pesquisa divulgada em 2021 mostra a contraditória relação do brasileiro com racismo: enquanto 84% afirmam acreditar que há preconceito contra pessoas negras, apenas 4% reconhecem o preconceito em si. “É preciso responder: onde você guarda o seu racismo?”, questiona Ananda Luz, mestra em relações étnico-raciais e pesquisadora de literatura infantil.

A pauta antirracista deve ser cotidiana

O segundo passo é combater o racismo. De que forma? Nas atitudes mais cotidianas, defende Djamila Ribeiro: “Algumas atitudes simples podem ajudar as novas gerações, como apresentar para as crianças livros com personagens negros que fogem de estereótipos ou garantir que a escola dos seus filhos aplique a Lei 10639/2003, que inclui a obrigatoriedade do ensino da história africana e afro-brasileira.”

Para agir em casa casa e na escola

Uma educação antirracista é aquela que apresenta histórias, no plural, e histórias plurais, que conta e ouve narrativas diversas e que dialoga com os muitos saberes. Uma educação antirracista é voltada para a diversidade.

A diversidade é uma das questões que aparecem como as principais preocupações entre os pais, de acordo com pesquisa divulgada pelo Google em outubro de 2021. Entre as famílias, 49% se preocupam em preparar os filhos para combater o racismo, 44% a respeitar diferentes orientações sexuais e 47% em combater o bullying.

Se a educação antirracista é voltada para a diversidade, as famílias podem começar observando que lugares as pessoas negras ocupam nas escolas de seus filhos? As escolas estão aplicando a lei que garante o ensino da história africana? O que as crianças trazem para casa de percepções? Fala-se sobre essas questões o ano todo ou apenas durante o mês de novembro, quando se celebra o dia da Consciência Negra? Muitas vezes, nada disso acontece e o papel das famílias é fundamental para cobrar. “Não pode ser só função da escola construir um mundo que dialogue com a diversidade”, ressalta Ananda. As pessoas se relacionam em múltiplos espaços e esta relação deve ser de respeito.

Na família, atitudes como investir em brinquedos produzidos ou que representem pessoas negras e escolher livros que não reproduzam estereótipos são excelentes formas de apresentar mundos. Dialogar sobre os espaços que frequentam e onde se encontram, os lugares sociais que são obrigadas a ficar, inclusive a ausência. Por que em alguns lugares não se encontram pessoas negras? O que isso quer dizer? “Mas principalmente não ter medo de conversar sobre a questão racial com as crianças. Falar e escutar o que elas estão formulando e percebem sobre a temática para dialogar e poder apresentar outras possibilidades de ser, estar e agir nesse mundo”, conclui Ananda.

Literatura infantil: ponte para uma educação antirracista

Bons livros abrem espaço para conversas e é no diálogo que se aprende a escutar, a discordar, ampliar o olhar e conhecer outros pontos de vista. Por isso, para a prática de uma educação antirracista a literatura infantil é um recurso que pode contribuir tanto nas escolas quanto nas famílias. “A representatividade é elemento fundamental para a constituição do sujeito. Por isso, é fundamental que todas as crianças possam se enxergar na literatura”, explica a educadora Denise Guilherme, fundadora da A Taba, uma empresa especializada em curadoria de livros infantis.

Para trazer às famílias dicas de livros infantis que abordem temas como racismo, identidade e protagonismo negro, A Taba convidou três educadoras especialistas em literatura e que têm trabalhado há anos com a questão racial, discutindo-a a partir da literatura.

Dicas práticas para uma educação antirracista

A experiência em sala de aula e formações das especialistas deram origem a um guia com dicas práticas para uma educação antirracista, com sugestões de livros infantis que podem desencadear boas conversas sobre o tema. O e-book com dicas práticas para uma educação antirracista é gratuito e está disponível neste link.

Para ampliar a conversa com as famílias que entendem a urgência de falar sobre racismo com suas crianças, mas não sabem por onde começar, será realizado em 23 de novembro às 19 horas um bate-papo entre as educadoras Denise Guilherme e Ananda Luz, no canal da Taba no YouTube.

Website: http://www.ataba.com.br

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